Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

ONU arrecada US$ 2,4 bilhões em ajuda ao Afeganistão

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Sexta, 01 de Abril de 2022 às 07:51, por: CdB

Valor prometido por 41 países em conferência virtual, porém, é apenas cerca de metade do esperado pelas Nações Unidas para lidar com a crise humanitária no país, onde 95% da população não têm comida suficiente.

Por Redação, com DW - de Nova York

Uma conferência internacional de doadores realizada na quinta-feira pela ONU de forma virtual, em conjunto com Alemanha, Reino Unido e Qatar, terminou com promessas de doações de US$ 2,4 bilhões em ajuda humanitária ao Afeganistão. O montante, prometido por 41 países, ficou aquém do esperado e representa 55% da meta da ONU, de US$ 4,4 bilhões.
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De acordo com Guterres, a já terrível situação humanitária no Afeganistão deteriorou-se de forma alarmante nos últimos meses
No entanto, após a apresentação dos resultados, a secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários da ONU, Joyce Msuya, manifestou a esperança de que os países doadores "aumentem os compromissos assumidos e continuem apoiando a resposta humanitária no Afeganistão", país golpeado por décadas de conflito e pela sua pior seca em 30 anos. Os US$ 4,4 bilhões representaram o maior pedido de ajuda a um único país na história dos programas humanitários da ONU e, segundo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, são vitais para ajudar o país, onde atualmente 95% da população não têm comida suficiente. – Nove milhões de pessoas correm o risco de passar fome e um milhão de crianças desnutridas correm o risco de morrer se não forem tomadas medidas rápidas – destacou Guterres na conferência. – As pessoas já estão vendendo seus filhos, ou mesmo partes de seus corpos, para alimentar suas famílias. A economia do Afeganistão já está em colapso – lamentou o secretário-geral da ONU, que também alertou que, sem assistência humanitária, 97% da população afegã viverão abaixo da linha da pobreza este ano. Com os 4,4 bilhões solicitados, as várias agências da ONU têm como objetivo ajudar cerca de 22 milhões de afegãos (mais da metade da população) com alimentos, água potável, assistência médica, abrigo, instalações educacionais e outras formas de ajuda humanitária.

Guerra na Ucrânia agrava situação

De acordo com Guterres, a já terrível situação humanitária no Afeganistão deteriorou-se de forma alarmante nos últimos meses e intensificou-se ainda mais com a guerra na Ucrânia, que fez os preços globais dos alimentos subirem "vertiginosamente". – Isso significa uma catástrofe tanto para os afegãos que lutam para alimentar as suas famílias, quanto para as nossas operações de ajuda. Sem ação imediata, enfrentamos uma crise de fome e desnutrição no Afeganistão – disse o secretário-geral. Outro fator que agrava a situação no país da Ásia Central é que muitos programas de ajuda internacional foram interrompidos após a volta do Talebã ao poder, em agosto do ano passado. – A comunidade internacional precisa encontrar maneiras de poupar os afegãos do impacto da decisão de interromper a ajuda ao desenvolvimento do país ou congelar 9 bilhões de dólares em ativos do Afeganistão no exterior – disse Guterres, que acrescentou que "os países mais poderosos não podem ignorar as consequências de suas decisões sobre os mais vulneráveis". A resposta insuficiente da comunidade internacional à crise humanitária afegã, no entanto, não é novidade neste momento de turbulência devido à guerra na Ucrânia e seu impacto na economia global. Em outra conferência organizada pela ONU recentemente para financiar a ajuda humanitária para a crise no Iêmen, apenas US$ 1,3 bilhão dos US$ 4,27 bilhões pedidos foram obtidos em promessas de doações.

Promessas de ajuda

A União Europeia (UE) anunciou na quinta-feira a disponibilização este ano de 95 milhões de euros para assistência humanitária ao Afeganistão. A verba soma-se a outros 18 milhões este ano ao Irã e ao Paquistão, vizinhos do Afeganistão, num apoio total de 113 milhões de euros, indicou a instituição em comunicado. O Reino Unido, um dos organizadores da conferência, prometeu US$ 380 milhões em financiamento humanitário, com pelo menos 50% da ajuda direcionados para mulheres e meninas afegãs. A Alemanha fornecerá mais 200 milhões de euros, disse a ministra do Exterior, Annalena Baerbock, que também participou da conferência. O Departamento de Estado americano informou que Washington prometeu quase US$ 204 milhões, elevando o valor total da ajuda humanitária fornecida pelos EUA desde agosto de 2021 para mais de US$ 720 milhões.

Proibição de meninas irem à escola

A reunião ocorre dias após o Talebã anunciar a proibição de que meninas frequentem a escola, apesar das promessas, ao assumir o poder, de que isso não ocorreria. Guterres disse que a educação não deve ser usada como moeda de troca. No entanto, também lembrou os países doadores que o povo afegão não deve ser penalizado duas vezes. Os participantes expressaram seu apoio ao povo afegão e pediram ao Talibã que reverta sua decisão. Eles também enfatizaram que suas doações devem ser distribuídas aos necessitados sem interferência do partido no poder. Vários países, incluindo China e Rússia, pediram a normalização do sistema bancário do Afeganistão e a liberação das reservas do banco central do país, congeladas em sanção ao Talebã. O coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, falando na conferência de Doha, na semana passada, disse que ficou "sem palavras" pelo nível de sofrimento no Afeganistão. Segundo ele, a vida está "por um fio para mais da metade das pessoas no Afeganistão". "Estamos apenas conseguindo evitar a extrema insegurança alimentar, preservando alguns serviços essenciais e quase impedindo um colapso completo do país", destacou, acrescentando que a situação é "incrivelmente frágil." Griffiths se encontrou com líderes do Talebã em Cabul nesta semana e disse ter uma "firme convicção" de que a porta ainda está aberta para conversas com a comunidade internacional. Isso incluiu a resolução da questão da educação das meninas, afirmou. Mas ele ponderou que um "financiamento sustentável, incondicional e flexível" é necessário para alcançar mais pessoas e colocar dinheiro de volta na economia e nos bolsos dos afegãos comuns. Formas de trazer o país de volta ao sistema bancário internacional seriam vitais para a entrega de ajuda humanitária, acrescentou Griffiths.

Conferência paralela

Em uma conferência paralela na quinta-feira, sete dos países vizinhos ao Afeganistão pediram que o Talebã respeite os direitos das mulheres e garanta a educação das crianças. Os direitos básicos de todos os afegãos, incluindo membros de minorias étnicas, mulheres e crianças, devem ser garantidos, informou um comunicado conjunto divulgado no final da reunião em Tunxi, no sudeste da China. Os participantes da terceira reunião dos Estados litorâneos incluiu a participação de ministros das Relações Exteriores e outros altos funcionários de China, Rússia, Irã, Paquistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.
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