Segundo o MST, ruralistas articulam milícias e espalham “ameaças, violência e terror”, os três casos ocorreram na região Nordeste. Governo instala comissão e é cobrado.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Com três assassinatos em apenas uma semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aponta uma “escalada de violência” contra camponeses e cobra providências das autoridades. “Frente aos assassinatos, o movimento assinala que há uma escalada da violência contra acampados e assentados em todos os estados brasileiros, onde ruralistas têm atuado como articuladores de milícias rurais que têm espalhado ameaças, violência e terror no campo”, afirma o MST.
“Por isso, o movimento cobra urgência para que o governo execute as políticas de reforma agrária e faça justiça pela morte dos camponeses assassinados”, acrescenta a entidade, em nota. “Enquanto movimento, reafirmamos nossa luta contra toda forma de violência. Aos nossos mortos nenhum segundo de silêncio, mas uma vida toda de luta.”
Paraíba e Pernambuco
Os três casos ocorreram na região Nordeste. No último sábado, dois integrantes do MST foram executados na Paraíba. Já no último dia 5, outro líder sem-terra foi assassinado em Pernambuco.
Assim, no sábado, Ana Paula Costa Silva e Aldecy Viturino Barros estavam no acampamento Quilombo do Livramento Sítio Rancho Dantas, do MST, no município de Princesa Isabel, sertão paraibano, a mais de 400 quilômetros de João Pessoa. Foram executados por dois homens de moto que procuravam por Aldecy, coordenador do acampamento.
“Os criminosos disseram que o coordenador precisava assinar um documento. Aldecy estava em cima de uma escada, consertando o telhado da casa de Ana Paula. No local, também estavam o pai e o companheiro de Ana Paula, além de dois amigos da família. Antes mesmo de descer da escada, os criminosos efetuaram vários disparos contra Aldecy. O ataque também atingiu Ana Paula”, relata o MST. A acampada tinha 29 anos e três filhos. Aldecy, de 44 anos, tinha dois filhos.
Área disputada há décadas
Já no dia 5, a vítima foi Josimar da Silva Pereira. Ele era agricultor, acampado e integrante do MST em Vitória de Santo Antão (PE), onde morava, a 50 quilômetros de Recife. “O camponês de 30 anos foi alvejado pelas costas enquanto se locomovia de moto para o Acampamento Francisco de Assis, onde trabalhava na irrigação do plantio de arroz orgânico.”
O MST lembra que Josimar atuava na luta pela desapropriação do Engenho São Francisco, onde fica o acampamento, há 29 anos. É uma das ocupações mais antigas em Pernambuco, e “aguarda para ser regulamentada como assentamento”. Trata-se de área disputada há décadas entre os sem-terra e a Usina Alcooquímica JB, “que foi recentemente classificada como improdutiva”.
‘A extensa disputa em torno da área fez com que o caso entrasse na Comissão de Conflitos Agrários do estado de Pernambuco antes mesmo do assassinato de Josimar”, informa ainda o movimento.
Enfrentamento à violência
No último dia 8 foi reinstalada a Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo, durante ato na sede do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. “Sua função será atuar na prevenção, mediação e combate a conflitos socioambientais no campo que envolvam questões de direitos humanos, segurança pública e também aspectos ambientais”, lembra a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).
– Aplaudimos a instalação da Comissão, mas dizemos que o governo precisa dar passos mais largos pra resolver as situações de conflitos”, afirmou o secretário de Política Agrária da Contag, Alair Luiz dos Santos. E para isso, é preciso avança na regularização fundiária, principalmente com orçamento para o Incra fazer a reforma agrária que o Brasil precisa.”