"Os nossos candidatos são porta-vozes da luta pela terra, pela agricultura familiar, alimento saudável, emprego, distribuição de renda, soberania nacional", descreve Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST. Cumprem também o papel, acrescenta, “de fazer a disputa eleitoral contra Bolsonaro e em defesa da eleição do presidente Lula”.
Por Redação, com BdF - de São Paulo
A eleição de 2022, além de marcada pela disputa polarizada entre os candidatos de centro-esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de ultradireita, Jair Bolsonaro (PL), tem a característica de ser aquela em que, desde a redemocratização, mais movimentos populares lançam, de forma coordenada, candidaturas próprias. Com o objetivo de ocupar espaço na Câmara dos Deputados em Brasília, em Assembleias Legislativas Estaduais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem 15 candidaturas neste pleito.
Não é inédita a disputa institucional por parte de militantes sem-terra. A primeira foi quando o gaúcho Adão Pretto, dois anos depois do surgimento do MST (do qual foi um dos fundadores), foi eleito deputado estadual constituinte em 1986 pelo PT, também recém-criado na época. Em 2022, no entanto, é a primeira vez que o MST entra na disputa eleitoral com essa quantidade de candidatos e uma campanha articulada nacionalmente.
O mesmo pode ser dito da campanha indígena lançada pela Articulação dos Povos Indígenas (Apib) sob o mote “Aldear a política” e de setores do movimento negro impulsionados pela Coalizão Negra por Direitos, com o eixo “Quilombo nos parlamentos”.
Contraofensiva
Entre os principais aspectos que, segundo lideranças do MST ouvidas pelo site de notícias Brasil de Fato (BdF), motivam essa escolha política, está a avaliação de que a disputa eleitoral contribui para articular a luta pela reforma agrária com pautas mais amplas; que essas cadeiras devem ser ocupadas por segmentos representativas da sociedade brasileira; além de que as decisões tomadas por quem as ocupa têm impacto na vida da população brasileira.
Trata-se, também, de uma “contraofensiva institucional”, como diz documento do MST a respeito de suas candidaturas, entendendo ser uma resposta ao que nomeiam como “avanço das forças fascistas”.
— Os nossos candidatos são porta-vozes da luta pela terra, pela agricultura familiar, alimento saudável, emprego, distribuição de renda, soberania nacional — descreve Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST. Cumprem também o papel, acrescenta, “de fazer a disputa eleitoral contra Bolsonaro e em defesa da eleição do presidente Lula”.
Espaços ocupados
Lembrando que o movimento está a dois anos de completar quatro décadas de existência, a também coordenadora nacional Débora Nunes, aponta que “o lugar de fala” do MST é o da luta pela conquista da terra, mas que essa bandeira está relacionada com outras que são “de interesse e necessidade de toda a sociedade”.
— Nós também fomos compreendendo que a luta na rua é importante, mas que existem outros espaços na estrutura da nossa sociedade que, no final das contas, também definem os rumos do atendimento ou não dessas pautas — afirmou Débora.
Segundo Nunes, o MST entende que “esses sujeitos sem-terra que estão neste pleito têm a legitimidade de serem representantes de um segmento da sociedade que demanda desse poder as ações, leis e políticas que efetivamente resolvam problemas de injustiças no nosso país”.
— Precisamos eleger a maior bancada possível de trabalhadores para fazer uma ampla disputa no Congresso Nacional, que é hoje tomado pelo poder do agronegócio, das grandes empresas — acrescentou Alexandre Conceição.
Para se ter uma ideia, dos parlamentares que representam os nove Estados que compõem a Amazônia Legal, 74% dos senadores e 56% dos deputados federais fazem parte da bancada ruralista. Além disso, de 513 parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados, 71% são homens brancos.