Mourão amplia críticas a Mandetta, mas defende permanência do ministro
Mourão ressalvou que Mandetta deixar o governo é uma decisão pessoal de Bolsonaro, mas se diz favorável à permanência do ministro. O vice-presidente afirmou que o “trabalho técnico” da Saúde é “muito bom”, assim como a coordenação da Casa Civil nas várias áreas do governo com ações em curso para o combate à epidemia.
Mourão ressalvou que Mandetta deixar o governo é uma decisão pessoal de Bolsonaro, mas se diz favorável à permanência do ministro. O vice-presidente afirmou que o “trabalho técnico” da Saúde é “muito bom”, assim como a coordenação da Casa Civil nas várias áreas do governo com ações em curso para o combate à epidemia.
Por Redação - de Brasília
Vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão (PRTB) reprovou, nesta terça-feira, a decisão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de abrir um novo atrito com o chefe, Jair Bolsonaro (sem partido). Para Mourão, o médico sul-matogrossense “cruzou a linha da bola” e cometeu uma “falta grave” ao conceder entrevista a um programa dominical na TV aberta. Ainda assim, o general que tem servido de porta-voz para o núcleo militar do governo defendeu a permanência de Mandetta no cargo, e que haja uma conversa franca entre ele e seu superior hierárquico.
O vice-presidente, general Mourão, tem falado como uma espécie de porta-voz dos militares que integram o governo de Jair Bolsonaro (sem partido)
— Ele cruzou a linha da bola, não precisava ter dito determinadas coisas. Cruzar a linha da bola é uma falta grave no polo. Nenhum cavaleiro pode cruzar na frente da linha da bola. Ele fez uma falta. Merecia um cartão — disse o vice-presidente em entrevista ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, usando uma expressão do esporte que pratica.
Conversa
Mourão ressalvou que Mandetta deixar o governo é uma decisão pessoal de Bolsonaro, mas se diz favorável à permanência do ministro. O vice-presidente afirmou que o “trabalho técnico” da Saúde é “muito bom”, assim como a coordenação da Casa Civil nas várias áreas do governo com ações em curso para o combate à epidemia.
— Eles (os ministros) ficam até que perdem a confiança do presidente. Existe muito tititi, mas julgo que o presidente não deve mudar ministro nesse momento. Cabe mais uma conversa ali, chamar ele e dizer para eles acertarem a passada, para que as coisas sejam discutidas intramuros e não via imprensa — acrescentou.
A referida conversa aconteceu na quarta-feira da semana passada. Depois de uma reunião ministerial extremamente tensa, em que Mandetta reafirmou que não pediria demissão e chegou a perguntar por que então Bolsonaro não o demitia. Aconselhado a tentar uma reaproximar, Mandetta pediu uma audiência ao presidente.
TV Globo
O encontro durou mais de uma hora e, oficialmente, seria para Mandetta apresentar todas as medidas tomadas para combater a epidemia, mas serviu para presidente e ministro chegarem a uma trégua frágil, em que cada um deveria seguir defendendo seus pontos de vista. Na visão da ala militar do governo, a trégua foi quebrada pela entrevista de Mandetta transmitida no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão. Para todo o país, o ministro da Saúde cobrou uma “fala única” do governo sobre a epidemia e disse que hoje há uma “dubiedade” nas orientações.
— O brasileiro não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente, quem é que ele escuta — afirmou o ministro.
Mourão replicou, na entrevista, o pensamento majoritário entre os ministros que defendem Mandetta: o ministro realimentou um conflito que estava amortecido, mas não é hora de mexer na equipe. Ainda assim, Bolsonaro não reagiu. O único comentário do presidente sobre a entrevista foi o de que não assiste à TV Globo.
Encontro
Mourão ainda negou que exista uma “tutela” dos ministros militares sobre o presidente e garantiu que, dentro do governo, cada área defende sua linha, mas a decisão final é sempre de Bolsonaro, e nem quis classificar a entrevista de Mandetta como uma “insubordinação”, como fizeram alguns ministros em privado.
— Não digo que Mandetta foi insubordinado. Estamos na vida civil, é diferente — disse Mourão.
Para o vice-presidente, o governo tem que olhar para três curvas: a da epidemia, para evitar um pico e fazer com que o sistema de saúde possa atender as pessoas, a do Produto Interno Bruto (PIB), para que a queda não seja a pior possível, e a do desemprego.
— Em um pais em que grande parte dos trabalhadores estava na informalidade, essa (desemprego) é a preocupação maior do presidente. A reunião do Conselho de Governo (nesta terça-feira) vai tratar de medidas para depois da epidemia — explicou, pouco antes do encontro.
Carreatas
Questionado sobre a defesa que Bolsonaro faz de questões polêmicas, como o isolamento vertical — restrito apenas a grupos de risco —, Mourão acredita que o país precisaria ter um isolamento mais inteligente, como por exemplo isolar regiões onde o vírus ainda não entrou. Mas admitiu que para isso o país precisaria ampliar a testagem, o que não aconteceu ainda.
O vice-presidente minimizou ainda as carreatas que tem sido feitas no país contra o isolamento social — e que tem sido incentivadas pelo presidente e por seus filhos, que chegaram a compartilhar imagens nas redes sociais.
— As pessoas que foram às ruas são as do que eu chamo de ‘isolamento Zona Sul’. Pessoas que estão confinadas e que não têm seus salários afetados, que recebem comida de delivery dos melhores restaurantes. Essa turma está incomodada porque sua vida está compactada. Foram manifestações bem pouco expressivas. Não vimos a favela descer em peso para protestar que estão confinados. Seria uma manifestação bem mais complicada do que carreatas — resumiu.