Mas, segundo um líder bolsonarista, que prefere não ter sua identidade revelada, “há sempre o risco da manifestação ‘flopar’ (sinônimo de fracassar), devido ao ambiente negativo gerado junto a setores importantes da direita”.
Por Redação - de São Paulo
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal suspeito de liderar uma tentativa fracassada de golpe de Estado, o 8 de Janeiro, convocou uma manifestação na avenida Paulista, para o último domingo do mês, dia 25 de fevereiro. Bolsonaro gravou um vídeo, que circula pelas redes sociais com o bordão "Deus, pátria, família e liberdade”.
Mas, segundo um líder bolsonarista, que prefere não ter sua identidade revelada, “há sempre o risco da manifestação ‘flopar’ (sinônimo de fracassar), devido ao ambiente negativo gerado junto a setores importantes da direita”.
Bolsonaro promete, na convocação, que o ato será "pacífico" e "em defesa do nosso Estado Democrático de Direito". O ex-mandatário neofascista pede, ainda, que os apoiadores compareçam de verde amarelo.
— Quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses — apela.
‘Traíras’
A manifestação foi convocada por Bolsonaro quatro dias depois de a Polícia Federal (PF) deflagrar a Operação Tempus Veritatis, que revelou um plano para mantê-lo no poder, pela força de um golpe de Estado, após a derrota nas últimas eleições. Ainda segundo o bolsonarista ouvido pela reportagem do Correio do Brasil, “é também o momento em que Bolsonaro conhecerá quem são os traidores, com quem não poderá contar”.
Na véspera, Bolsonaro publicou em suas redes sociais uma foto de quando era criança e aparece ao lado de uma traíra, peixe que nos meios criminosos é associado aos traidores dos marginais. Após o anúncio da manifestação, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, não confirmaram presença no ato público.
O acúmulo de fatos que implicam Bolsonaro na tentativa de ruptura violenta da ordem democrática pesa na decisão de líderes políticos de apoiar, ou não, o ato de desagravo ao suspeito.
Investigações
Entre as evidências obtidas durante as investigações da PF está a estratégia que envolveria a prisão do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles o magistrado Alexandre de Morais, relator dos processos que pesam contra Bolsonaro.
O jurista Pedro Serrano, doutor em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), enfatizou que o ex-presidente tem o direito de e manifestar, mas isso não tem o poder de alterar o rumo das investigações.
— O fato é que existiu um conjunto de crimes graves — afirmou o advogado, a jornalistas.
Cerco se fecha
A Operação Tempus Veritatis foi a maior ofensiva judicial, até agora, contra auxiliares e ex-ministros de Bolsonaro, além de militares de alta patente que apoiavam o ex-presidente. O inquérito policial que deu origem à operação é o que investiga as chamadas milícias digitais, uma ampla investigação aberta pela PF para apurar a atuação não só de grupos que difundiram desinformação e atacaram as instituições durante o governo Bolsonaro, mas também para identificar o uso da estrutura do Estado para abastecer essa rede e garantir ganhos políticos ao ex-presidente e seus aliados.
Conduzida por Alexandre de Moraes, a investigação não tem poupado esforços para avançar no núcleo bolsonarista e possui ao menos outras duas linhas de apuração avançadas e que podem gerar mais dor de cabeça para o ex-presidente.