Segunda, 23 de Setembro de 2019 às 10:55, por: CdB
A ONG Transparência INternacional frisa, porém, que algumas atitudes do governo podem minar ainda mais a confiança dos cidadãos em relação à capacidade do novo presidente de impedir a corrupção.
Por Redação, com DW - de Brasília
Um estudo realizado pela ONG Transparência Internacional divulgado nesta segunda-feira (23/09) aponta que 54% dos brasileiros acreditam que a corrupção aumentou nos últimos doze meses. Entre os países avaliados na pesquisa, no entanto, a população brasileira é uma das que mais acredita que um cidadão comum pode fazer diferença no combate à prática.
A pesquisa "Barômetro Global da Corrupção", que avaliou a opinião e experiência de cidadãos de 18 países da América Latina e Caribe, destaca que, no Brasil, o levantamento foi realizado durante os primeiros meses da administração do presidente Jair Bolsonaro – entre janeiro e março –, quando ainda era muito cedo para avaliar quaisquer novas medidas adotadas pelo novo governo.
"No entanto, no início de 2019, as pessoas tinham expectativas muito altas para o desempenho de Bolsonaro, com base em sua plataforma de campanha e, principalmente, sua retórica", afirma o estudo. A organização frisa, porém, que algumas atitudes do governo podem minar ainda mais a confiança dos cidadãos em relação à capacidade do novo presidente de impedir a corrupção.
"Bolsonaro tentou aumentar o escopo de informações confidenciais para reduzir a transparência e não deu muita atenção às acusações de corrupção contra membros de seu gabinete", destaca o estudo.
O levantamento mostrou ainda 82% dos brasileiros dizem que podem fazer a diferença na luta contra a corrupção, o que faz do Brasil um dos países onde a população mais crê que relatar a corrupção pode levar a mudanças. O país perde somente para Bahamas (85%) e Costa Rica (84%). Já 90% dos brasileiros avaliam que a corrupção no âmbito governamental é um grande problema. A nação na primeira colocação é Peru (96%) e, na última posição, Barbados (53%).
Em comparação com o levantamento anterior, realizado em 2017, os brasileiros acreditam que o governo está fazendo um trabalho melhor no combate à corrupção: antes, 35% achavam que este era bom, e agora são 48%. Os que classificavam as ações como ruim caíram de 56% para 46% e os que não sabiam caíram de 9% para 6%.
Por outro lado, cresceu a porcentagem de entrevistados entre as pesquisas realizadas em 2017 e 2019 que acham que existe corrupção em certas categorias: presidente (de 52% para 57%), membros do Congresso (de 57% para 63%), oficiais do governo (de 24% para 54%), polícia (de 31% para 38%), juízes e magistrados (de 21% para 34%) e executivos (de 35% para 50%).
No Brasil, entre os entrevistados, 11% tiveram que pagar suborno em serviços públicos como escolas e hospitais. Outros 20% afirmaram que já foram vítimas ou conhecem alguma vítima de extorsão sexual, ou seja, quando o sexo é a forma de pagamento da propina. Esse tipo de extorsão é uma das formas mais significativas de corrupção baseada em gênero. Algumas mulheres foram forçadas a oferecer favores sexuais para receber serviços públicos, incluindo saúde e educação.
A pesquisa diz ainda que 40% dos brasileiros já receberam algum tipo de oferta para vender seu voto em alguma eleição nos últimos cinco anos. Neste quesito, o Brasil perde somente para México (50%) e República Dominicana (46%). Além disso, mais de três em quatro brasileiros acreditam que fake news são disseminadas com frequência ou muita frequência.
Na América Latina, corrupção diminuiu só para 16%
Os resultados gerais da pesquisa na América Latina e Caribe mostram que 53% dos entrevistados dizem que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses. Somente 16% acreditam que ela diminuiu. Além disso, apenas 39% dos cidadãos avaliam que o seu governo fazendo um bom trabalho na luta contra a corrupção, enquanto mais da metade (57%) acha que ele não está fazendo um bom trabalho.
A Transparência Internacional constatou ainda que mais de uma, a cada cinco pessoas que tiveram acesso a serviços públicos, como água e eletricidade, pagou propina no ano anterior. Isso corresponde a aproximadamente 56 milhões de cidadãos nos 18 países da pesquisa.
O estudo revelou também que a corrupção afeta mais as pessoas vulneráveis: as mulheres são mais propensas a pagar propina por assistência médica e educação em escolas públicas. Além disso, o relatório afirma que um em cinco cidadãos sofreu extorsão sexual ao usar serviços públicos ou conhece alguém que sofreu.
O estudo mostra que foi oferecido suborno a um entre cada quatro cidadãos em troca de votos nos últimos cinco anos. Mas, apesar do medo de retaliação, a pesquisa mostrou que os cidadãos podem fazer a diferença: 77% acreditam que pessoas comuns podem fazer a diferença na luta contra a corrupção.
A décima edição da pesquisa "Barômetro Global da Corrupção" foi realizada entre janeiro e março de 2019 com mais de 17 mil cidadãos – com mais de 18 anos de idade – em 18 países da América Latina e do Caribe.