Quinta, 03 de Fevereiro de 2022 às 13:35, por: CdB
O congolês foi atacado com crueldade após cobrar pelos serviços que havia prestado ao quiosque. O assassinato repecurtiu nas redes sociais, com a hashtag #JustiçaPorMoise. O crime está envolto em uma série de questões estruturais do país, como banalização da violência, exploração; poder das milícias, racismo e xenofobia.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) se cala diante de um crime bárbaro, motivado por racismo e praticado por possíveis integrantes das milícias armadas que dominam vastas áreas populosas no Rio de Janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sai em defesa da memória de mais uma vítima da intolerância e do crime organizado.
— Você viu o que aconteceu no Rio de Janeiro? Num quiosque na beira da praia, quando mataram um jovem do Congo com um taco de basebol? Sabe, isso não é normal. Isso não é humano — disse Lula, nesta quinta-feira.
O líder petista referia-se ao assassinato de Moïse Kabagambe, espancado até a morte, na Barra da Tijuca, em 24 de janeiro.
Assassinato
O congolês foi atacado com crueldade após cobrar pelos serviços que havia prestado ao quiosque. O assassinato repecurtiu nas redes sociais, com a hashtag #JustiçaPorMoise. O crime está envolto em uma série de questões estruturais do país, como banalização da violência, exploração e precarização dos direitos trabalhistas; poder das milícias, racismo e xenofobia.
Lula afirma que a morte de Moïse é um espelho do atual momento social e político do Brasil.
— Isso é resultado de um país que está sendo governado por um fascista e por muitos milicianos. Uma parte da bandidagem está governando esse país — acrescentou o ex-presidente.
De acordo com a família do congolês, que foi recebida na véspera pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), o quiosque devia R$ 200 a Moïse. O dinheiro era essencial para o jovem, que precisava pagar o aluguel de uma casa simples na Zona Norte da capital fluminense, onde morava com primos e irmãos.
Movimentos sociais organizam um protesto para este sábado. O corpo do jovem foi sepultado no último domingo, no Cemitério do Irajá. Moïse chegou ao Brasil aos 14 anos, em 2011, com a mãe e irmãos. Eles vieram refugiados de conflitos armados na República Democrática do Congo.
Repúdio
Ainda na véspera, o Partido dos Trabalhadores e as bancadas do PT na Câmara, e no Senado repudiaram com veemência o assassinato do congolês Moïse Kabamgabe.
“Não é possível que os atentados à vida, que resultam em morte – especialmente de negros no Brasil – continuem em franco crescimento, protegidos por uma cultura de impunidade, e de naturalização de tais violações. Este cenário se agravou desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência do país, passando a incentivar ou ignorar tais violências”, disse a legenda, em nota.
Além do crime que choca a todos e todas, note-se que o trabalhador buscava simplesmente o que era seu por direito. “Aliás, direitos trabalhistas e sociais que em sua grande maioria foram eliminados pela malfadada reforma trabalhista, aprovada ainda no governo do golpista Michel Temer, e aprofundada – para pior – pelo desgoverno Bolsonaro”, acrescenta o PT.
“Portanto, as bancadas petistas na Câmara, e no Senado, e o PT repudiam este crime bárbaro e exigem que seja promovida Justiça para Moïse Kabamgabe, fazendo com que os criminosos respondam de forma exemplar, para que não tenhamos mais nenhuma morte e nenhum crime motivado pelo racismo e, ou pelo ódio. Crimes como este resultam de um sistema que se estrutura na desigualdade, que violenta e mata, na sua maioria, negros, pobres e trabalhadores neste país”, resume a nota assinada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann; Reginaldo Lopes
Líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados e Paulo Rocha, Líder da Bancada do PT no Senado.