Embora tenham se cumprimentado em um evento social, no início do ano, esta será a primeira reunião formal entre eles desde que a mídia conservadora passou a noticiar o possível entendimento para que Alckmin seja candidato a vice-presidente, na chapa petista.
Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
Certo de que conta com os votos da esquerda e da centro-esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) flexiona sua possível campanha à reeleição para um terceiro mandato na direção da direita, ao alimentar o diálogo com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB) e líderes de igrejas evangélicas. Na semana que vem, Lula e Geraldo Alckmin voltam a conversar sobre a cena política brasileira.
Embora tenham se cumprimentado em um evento social, no início do ano, esta será a primeira reunião formal entre eles desde que a mídia conservadora passou a noticiar o possível entendimento para que Alckmin seja candidato a vice-presidente, na chapa petista. Articulado por setores do PT mais ligados à centro-direita, o encontro visa reduzir arestas junto a um eleitorado que ainda rejeita o ex-presidente.
“No encontro (…), o petista pretende conversar com o ex-governador sobre a viagem que fez à Europa — em que foi aplaudido em pé no Parlamento Europeu e recebido com honras de chefe de estado pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Já Alckmin tem conversado com apoiadores sobre a volta do Brasil ao mapa da fome — e como ela poderia ser novamente debelada em um governo que sucedesse o de Jair Bolsonaro”, assinalou a colunista Monica Bergamo, no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), nesta terça-feira.
Ainda nesta manhã, Lula disse, em entrevista à Rádio Gaúcha, que ainda não definiu se será ou não candidato, mas, caso seja, irá “construir uma chapa para ganhar as eleições”.
— Mas é o seguinte: eu quero construir uma chapa para ganhar as eleições. E quero construir uma chapa para mudar outra vez a história deste país — afirmou, ao ser perguntado sobre as conversas com Alckmin.
Evangélicos
Ainda na tentativa de reduzir danos, Lula também se dirige ao público evangélico, onde seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cultiva aliados. Segundo o petista, o PT "não pode acreditar na história de que os evangélicos e as evangélicas são como se fossem um gado" e deve lembrar o segmento de que a maioria dos fiéis, pobre e periférica, foi beneficiada por políticas públicas iniciadas pelos governos petistas, disse Lula em um encontro virtual de mais de duas horas no último sábado. O líder petista propôs a criação de "um momento evangélico" na TV e na rádio do partido.
Esta, segundo o ex-presidente, seria uma forma de reverter a falsa premissa de que o verdadeiro cristão não vota na esquerda, martelada por vários dos pastores brasileiros, hoje alinhados a Bolsonaro. Trata-se de uma argumentação muito usada por religiosos alinhados ao Palácio do Planalto, liderados por Silas Malafaia. Atualmente, nenhum representante de grandes igrejas protestantes está alinhado ao PT. O bispo Edir Macedo é outro termômetro para o debate eleitoral na esfera religiosa.
Editoriais
Raramente visto em eventos exteriores à sua igreja, ele vem usando o jornal da congregação, a Folha Universal para expressar suas predileções, geralmente negativas para petistas que almejam uma reaproximação com o ex-parceiro dos governos Lula e Dilma Rousseff. Os últimos editoriais do jornal da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tem endereço certo.
Os títulos dos textos já indicam o caminho da opinião evangélica: Vítimas da militância LGBT (desagravo a Mauricio Souza, o jogador olímpico de vôlei que caiu nas graças bolsonaristas após criticar um beijo homoafetivo do novo Super-Homem); Proibição da Bíblia na China: o que isso tem a ver com você, brasileiro? (sobre uma suposta ideologia comunista propagada por PT e outras legendas esquerdistas) e Os atos da esquerda falam por si mesmos (a tese de que nenhum país governado pela esquerda deu certo). O jornal chegou a publicar um elogio à pantomima bolsonarista durante o último 7 de Setembro, dia do passeio de tanques velhos pela Praça dos Três Poderes.
Mas, segundo Lula, “é importante oferecer uma contranarrativa, porque há muito fetiche, há muita queimação, há muita maldade, contra e a favor, há muito disse-que-disse”. Em 2002, o PT distribuiu a Carta aos Evangélicos na porta de igrejas. No panfleto, o então presidenciável dizia possuir "esperança cristã" e fazia vários acenos a adeptos dessa religião, que por anos escutaram pregações que o comparavam a um demônio que fecharia igrejas se assumisse o poder. Poderá tentar o expediente, pela segunda vez.