Lula comparou a tentativa de golpe com o golpe militar em 1964, e disse que, caso obtivessem sucesso, os golpistas mataram e torturaram assim como os militares fizeram.
Por Redação – de Brasília
Em seu discurso, na manhã desta quarta-feira, na cerimônia em memória dos atos golpistas do 8 de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma defesa contundente da democracia e criticou qualquer tentativa de ruptura com o regime democrático.
— Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: ‘ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui, mulheres e homens, de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias unidos por uma causa em comum, para dizer em alto e bom som: ‘ditadura nunca mais; democracia sempre’ — afirmou.
Lula comparou a tentativa de golpe com o golpe militar em 1964, e disse que, caso obtivessem sucesso, os golpistas mataram e torturaram assim como os militares fizeram.
— Estamos aqui para lembrar que se estamos aqui é porque a democracia venceu. Caso contrário, muitos de nós talvez estivéssemos presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado, e não permitiremos que aconteça outra vez. Se hoje podemos expressar livremente nossos pensamentos, ideias e desejos é porque a democracia venceu. Ao contrário, a única liberdade de expressão permitida seria a do ditador e de seus cúmplices, e usada para mentir, espalhar o ódio e incitar a violência contra quem pensa diferente — criticou.
Alerta
Lula também valorizou a liberdade de expressão, que na sua visão, seria atacada após o golpe.
— Se hoje podemos contar histórias e ver as histórias livremente contadas nos cinemas, teatros, na música e na literatura é porque a democracia venceu. Caso contrário, a arte teria que ser submetida aos censores, que nos proibiram de ver, ouvir e ler tudo aquilo que julgassem subversivo. Hoje estamos aqui para garantir que ninguém seja morto ou desaparecido em razão da causa que defende. Estamos aqui em nome daquelas e daqueles que não podem mais estar. Estamos aqui em nome de todas as Marias, Clarices e Eunices — afirmou, em referência ao filme ‘Ainda Estou Aqui’.
Bom-humor
Por fim, Lula alertou que a democracia brasileira pode conquistar novos avanços com a redução de desigualdades.
— A democracia será plena quando todas e todos os brasileiros tiverem alimentação de qualidade, saúde, educação, segurança, cultura e lazer. Quando tiverem a mesma oportunidade de crescer e prosperar e os mesmos direitos de sonhar — pontuou o presidente.
Antes ler seu discurso, Lula fez uma fala bem humorada e comentou sobre o plano golpista que envolvia o seu assassinato.
— Escapei da tentativa, junto com o ‘Xandão’ e do companheiro Alckmin, de um atentado de um bando de irresponsáveis, de aloprados, que acharam que não precisava deixar a Presidência depois do resultado eleitoral e que seria fácil tomar o poder. Fico imaginando que se tivesse dado certo a tentativa de golpe deles o que iria acontecer neste país. Se eles estavam pensando em matar o presidente do TSE, o vice-presidente da República e a mim, eles não queriam que continuasse ninguém. Nós conseguimos escapar. Depois eu caí no banheiro, bati a cabeça e pensei que tinha chegado meu fim e não foi meu fim — lembrou.
Combate
O presidente também abordou o impacto destrutivo das fake news e dos discursos de ódio que têm ganhado espaço, sobretudo nas redes sociais. Segundo ele, essas práticas colocam em risco vidas e ameaçam a paz social.
— Defendemos e defenderemos sempre a liberdade de expressão, mas não seremos tolerantes com os discursos de ódio, as fake news – que colocam em risco a vida de pessoas –, e a incitação à violência contra o Estado de Direito — prometeu.
Lula reforçou a necessidade de um combate mais eficiente contra essas práticas e anunciou a intensificação de ações do governo para regulamentar o uso das plataformas digitais.
Atos golpistas
O ex-ministro Edinho Silva, cotado para assumir a presidência do Partido dos Trabalhadores (PT) no meio do ano, reafirmou a importância de se relembrar os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Edinho defendeu que eventos como os realizados nesta quarta-feira são cruciais para preservar a memória histórica e reforçar o compromisso com a democracia..
— O 8 de janeiro deve ser relembrado sempre. Foi a data em que a democracia venceu uma tentativa de golpe de Estado. Não podemos normalizar tamanha violência institucional. Não há processo civilizatório sem democracia — declarou o ex-ministro, destacando a gravidade dos eventos e a necessidade de manter viva a memória da resistência democrática.
Araraquara, cidade onde o presidente Lula encontrava-se, no momento dos ataques de 8 de janeiro, também foi lembrada pelo líder petista. Na ocasião, o presidente acompanhou os desdobramentos dos ataques às sedes dos Três Poderes ao lado do ex-ministro.
Supremo
Na solenidade realizada para relembrar os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), teve sua carta lida pelo também ministro Edson Fachin. No texto, Barroso descreveu os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília como a “face visível de um movimento subterrâneo” que articulava um golpe de Estado.
“A maturidade institucional exige a responsabilização por desvios desta natureza. Ao mesmo tempo, porém, estamos aqui para reiterar os nossos valores democráticos, nossa crença no pluralismo e no sentimento de fraternidade. Há lugar para todos que queiram participar sob os valores da Constituição”, afirmou Barroso na carta.
O ministro classificou os atentados como um “desencontro político e espiritual com a índole genuína do povo brasileiro”. Para ele, relembrar o episódio é uma forma de garantir que, embora seja necessário virar a página, ela não seja “arrancada da história”.
Mentiras
Barroso também alertou sobre o uso de mentiras como estratégia política, ressaltando que há uma tentativa de transformar o enfrentamento ao extremismo em uma falsa imagem de autoritarismo. Segundo ele, essa narrativa é um “disfarce dos que não desistiram das aventuras antidemocráticas” e continua sendo insuflada tanto no Brasil quanto no mundo.
A carta reforçou a necessidade de vigilância constante em defesa da democracia e dos direitos fundamentais. Barroso enfatizou que a resistência será contínua e que os desafios permanecem.
“A mentira continua sendo utilizada como instrumento político naturalizado. Não virão tempos fáceis, mas precisamos continuar a resistir”, concluiu.