Do lado de Alcolumbre, aliados creem que aumentará a pressão por uma improvável retirada da indicação de Messias, para retomar as negociações do início, no ano que vem.
Por Redação – de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria dito a ministros que prefere aguardar mais um pouco, antes de convidar o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (UB-AP), para uma conversa sobre a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
A temperatura da crise deflagrada nas últimas semanas precisará esfriar, com a ampliação dos canais de diálogo com a Casa, para que as conversas entre o Planalto e o Parlamento sigam adiante, conforme apurou o canal norte-americano de TV CNN. Do lado de Alcolumbre, aliados creem que aumentará a pressão por uma improvável retirada da indicação de Messias, para retomar as negociações do início, no ano que vem.
A ira de Alcolumbre ferveu, na noite passada, levando-o a responder a insinuações de que ele quer negociar cargos, no Executivo, como moeda de troca pela aprovação de Messias. Em nota divulgada neste domingo, o senador amapaense acusou o Planalto de tentar desvirtuar o debate.
Cargos e emendas
“É nítida a tentativa de setores do Executivo de criar a falsa impressão, perante a sociedade, de que divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas. Isso é ofensivo não apenas ao Presidente do Congresso Nacional, mas a todo o Poder Legislativo”, escreveu Alcolumbre, em uma rede social.
Senadores ouvidos por jornalistas atribuem a crise à articulação do Planalto. E argumentam que Alcolumbre já está contemplado por ministérios e ascendência sobre o Orçamento e, que, portanto, o ajuste deve ser feito na interlocução com a cúpula do Congresso.
Sob reserva, segundo a CNN, “esses mesmos parlamentares reclamam que Lula está cercado de nomes com dificuldade de diálogo e citam risco de isolamento do presidente, assim como aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff” antes do golpe de Estado que a derrubou.
Pressão
Nos bastidores, no entanto, ministros do Planalto veem o ataque de Alcolumbre, neste domingo, como uma tentativa a mais de pressionar por um encontro com Lula. Dez dias após a indicação, no entanto, o encontro ainda não ocorreu e Alcolumbre preferiu se antecipar. Marcou a sabatina de Messias para 10 de dezembro e começou a enviar recados ao Planalto. O mais evidente deles foi a ausência na cerimônia de sanção da Lei que altera a tabela do Imposto de Renda.
Fontes palacianas deixaram antever que a beligerância de Alcolumbre tem, na realidade, irritado o presidente. O melhor remédio seria, então, deixá-lo “em banho-maria” até se acalmar.
Apesar da pressão de Alcolumbre, no entanto, nem mesmo dirigentes do chamado ‘Centrão’ acreditam que Messias será barrado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ou no Plenário do Senado. Uma parcela cada vez mais significativa do Congresso, segundo apurou a mídia conservadora, avalia que Alcolumbre precisa distensionar a relação.
Amigo
A manter a tensão atual, de acordo com os parlamentares, a situação tende a desencadear um abalo mais grave, capaz de prejudicar o senador tanto na disputa eleitoral no Amapá quanto à possível reeleição ao comando do Congresso. A avaliação é de que, sem o apoio da direita que já anunciou que não estará com Alcolumbre em 2027, resta ao parlamentar cultivar a base aliada ao governo.
No frigir dos ovos, Messias procurou nesta segunda-feira o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que seria a indicação preferida de Alcolumbre para o carno no STF. O escolhido por Lula disse a interlocutores que Pacheco é um amigo e que ambos sempre tiveram uma excelente relação.
O próprio Pacheco tem afirmado, nos bastidores, que a escolha de Messias é uma questão do passado e que não guarda mágoas do episódio.
