Desde o dia 10 de maio, indígenas Yanomami, de Roraima, convivem com o medo. Garimpeiros ilegais, armados, têm feito investidas contra a comunidade do Palimiú, na divisa com o estado do Amazonas. Duas crianças morreram afogadas ao tentar se esconder dos tiros efetuados na aldeia.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Desde o dia 10 de maio, indígenas Yanomami, de Roraima, convivem com o medo. Garimpeiros ilegais, armados, têm feito investidas contra a comunidade do Palimiú, na divisa com o estado do Amazonas. Duas crianças morreram afogadas ao tentar se esconder dos tiros efetuados na aldeia. No último dia 5 de junho, o Palimiú voltou a ser atacado. Garimpeiros desembarcaram, em quatro barcos, e atacaram os indígenas com bombas de gás lacrimogêneo. O ataque foi uma resposta dos garimpeiros ilegais a uma operação do Exército Brasileiro e da Polícia Federal, para desativar sete garimpos na região. Mesmo após as operações das forças de segurança, lideranças indígenas revelam a ausência de respostas mais concretas e efetivas contra os ataques dos garimpeiros. Para Dario Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), os interesses envolvidos na extração de minérios na região vão além da iniciativa individual de trabalhadores ilegais que ocupam a Terra Yanomami, homologada há pelo menos 20 anos. – Os empresários estão apoiando o garimpo ilegal. Eles têm o avião, o combustível, o maquinário pesado, as armas pesadas. Será que os garimpeiros comprariam? Estamos há quase um mês sem segurança do estado brasileiro, do Exército, da Polícia Federal, do Ibama e da Funai, para dar assistência na comunidade. Eles cobraram novamente com o Ministério Público Federal, com a Frente de Proteção Yanomami Ye'Kuana, vinculado à Funai – afirma Kopenawa. No BDF Entrevista desta semana, além de Dario Kopenawa, outra liderança Yanomami relata a rotina assustadora que ronda a etnia: o presidente da Hutukara e xamã, Davi Kopenawa. “O garimpo hoje, na terra Yanomami, é maior, cresceu. Entraram muitas pessoas. Como eles são muitos, estão subindo na cabeceira do rio Uraricoera, são muitos buracos, muito ruim para nós que moramos lá”, destaca a liderança. Além da violência de garimpeiros, a prática extrativista também tem deixado marcas importantes na maneira de vida dos indígenas. A contaminação do rio Uraricoera pelo mercúrio liberado pelo garimpo ilegal restringiu a pesca e o acesso à água para os Yanomamis. O medo de deixar a aldeia também tem impedido que os indígenas saiam para caçar. – Nós Yanomami não estamos conseguindo respirar bem. Porque estamos vivendo um ambiente de guerra, entre garimpo e yanomamis. A violência está crescendo e cada vez mais estamos correndo riscos, as crianças, as mulheres – relata Davi Kopenawa. – Nós não conseguimos caçar, não conseguimos nos alimentar, alimentar nossos filhos. Nós estamos muito cansados, porque nós mesmos não estamos conseguindo nos proteger na comunidade do Palimiú.