Sábado, 09 de Fevereiro de 2019 às 11:47, por: CdB
A hidrelétrica de Retiro Baixo, de propriedade das estatais Furnas e Cemig, com uma pequena participação privada, tende a se transformar em um reservatório de rejeitos tóxicos, ao longo de décadas.
Por Redação - de Belo Horizonte e Rio de Janeiro
A lama que vazou de barragem da mineradora Vale S.A. em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, há 16 dias, atingiu o reservatório da hidrelétrica de Retiro Baixo, neste sábado, segundo constataram os técnicos ambientais ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil. O volume de rejeitos tende a paralisar a geração de energia da usina por um longo período de tempo, com um prejuízo superior a R$ 60 milhões por ano.
A hidrelétrica, de propriedade das estatais Furnas e Cemig, com uma pequena participação privada, tende a se transformar em um reservatório de rejeitos tóxicos, ao longo de décadas. As empresas da Eletrobras já paralisaram as duas turbinas na hidrelétrica, de médio porte, e com isso, deixaram de gerar cerca de 40 MW/h para clientes situados, em sua maioria, no Estado de Minas Gerais. A paralisação foi uma medida preventiva, para evitar que o rejeito da barragem de Brumadinho possa comprometer a integridade das turbinas.
Rejeitos
A concessionária Retiro Baixo Energética, formada por Furnas (49%), Cemig (49,9%) e Orteng (1,1%), adianta que já tomou as primeiras providências para conter a lama, embora não tenha detalhado nenhuma delas. Os resíduos, no entanto, segundo o especialista em hidráulica, engenheiro Flávio Miguez de Mello, vice-presidente da Academia Nacional de Engenharia e presidente honorário do Comitê Brasileiro de Barragens, tendem a chegar a Retiro Baixo e seguir adiante.
— A lama chegará, certamente, ao Rio São Francisco, na hidrelétrica de Três Marias. Mas a tendência é que fique armazenada por lá, uma vez que o reservatório desta usina é imenso; com uma capacidade muitas vezes superior a todo o volume de rejeitos vazado da barragem, em Brumadinho — afirmou Miguez de Mello, em entrevista exclusiva ao CdB.
Prejuízo
Já o reservatório de Retiro Baixo, no entanto, por seu tamanho reduzido, tende a ser praticamente tomado pela lama que polui aquele trecho do Rio Paraopeba. Assim, as expectativas de uma retomada na geração de energia ficam ainda mais reduzidas.
— As turbinas de qualquer hidrelétrica são projetadas para trabalhar com água, não com lama. Uma vez que esses resíduos atinjam a tomada d’água, que fica acima do volume morto do reservatório, a geração de energia estará, definitivamente, comprometida — acrescentou Mello.
O prazo de interrupção no funcionamento da hidrelétrica, no entanto, dependerá “das medidas tomadas pelas empresas envolvidas”, acrescentou o especialista. Miguez de Mello concorda, no entanto, que em qualquer caso, o prejuízo envolvido “é muito grande”. A permanecer o preço de R$ 175,80 por megawatt-hora, em uma fórmula de cálculo própria para o setor, Retiro Baixo deixará de produzir perto de R$ 60 milhões/ano, em energia elétrica.
Paraopeba
A hidrelétrica tinha potência de 82 megawatts (MW) e está localizada na região dos municípios mineiros de Pompéu e Curvelo, a cerca de 220 quilômetros de Brumadinho. A Agência Nacional de Águas (ANA) atesta que a barragem “possibilitará amortecimento da onda de rejeito” e que a onda de lama já atingiu o reservatório.
Retiro Baixo é a primeira hidrelétrica do Rio Paraopeba, que nasce no município de Cristiano Otoni e percorre 512Km de extensão até seu encontro logo adiante com o Rio São Francisco, na represa de Três Marias, a maior hidrelétrica mineira e uma das maiores da Região Sudeste. Retiro Baixo esta localizada próximo ao município de Felixlândia, a apenas 5Km de distância do remanso de Três Marias.
Segundo os pesquisadores do Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), após passar pela usina Retiro Baixo, a lama avançará, gradualmente, e deverá chegar entre os dias 15 e 20 de fevereiro à Usina de Três Marias. Segundo os técnicos, diariamente serão divulgados dois boletins de monitoramento com a previsão de chegada do início da água turva nos pontos de interesse ao longo do Paraopeba. A metodologia aplicada usa dados observados em campo e características da bacia hidrográfica.