Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Jacques Wagner pode levar Haddad à vitória

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Segunda, 08 de Outubro de 2018 às 14:47, por: CdB

Jacques Wagner vem de longe. Era o favorito em 2010, para suceder ao presidente Lula. Mas Lula, provando não ser infalível, escolheu Dilma Rousseff, a presidenta incontrolável que levou Lula e o PT ao caos. Dilma, derrotada em Minas Gerais, agora é passado e chegou a hora e vez de Wagner. Eleito senador pela Bahia, é ele quem poderá salvar a candidatura de Fernando Haddad e evitar que o Brasil caia num governo de programa fascista e repita em termos brasileiros a desgraça que se abateu sobre o Peru com a eleição em 1990 do populista de direita, Alberto Fujimori, autor, logo a seguir, de um golpe e que ficou dez anos no poder até fugir ao Japão para escapar a processos. Só existe uma única possibilidade do Brasil evitar Bolsonaro: a criação do programa de uma frente ampla democrática reunindo direita, centro e esquerda. Wagner veio para isso. (Nota do Editor Rui Martins).

Por Celso Lungaretti, de São Paulo:
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A missão quase impossível de Jacques Wagner
Por esquivar-se da imprescindível autocrítica desde o impeachment de Dilma Rousseff, o PT até agora vinha se recusando a reconhecer quão ameaçador é o populismo de extrema-direita que:
  • deu o ar de sua desgraça nas manifestações de rua de 2013;
  • avolumou-se nas de 2016 e não cessou de acumular forças desde então;
  • duas vezes esteve envolvido em ações concertadas  para forçar o impedimento de Michel Temer;
  • tentou aproveitar a paralisação selvagem dos caminhoneiros para provocar uma quartelada, e
  • tem sido a força propulsora da candidatura de Jair Bolsonaro.
Desde o início, o objetivo último desses neofascistas é a tomada do poder, e lamento informar ao Zé Dirceu que eles, sim, têm chances de êxito.
Apesar de seus três principais expoentes na campanha eleitoral serem simplesmente ridículos —tenho comparado Bolsonaro, Mourão e Guedes aos Três Patetas, de tanto que batem cabeça e dão tiros no pé—, há um núcleo profissional na campanha deles que nada tem de trapalhão, aquele que infesta com fake news as mídias e redes sociais. Dá para se perceber claramente a batuta de atuais ou antigos integrantes da comunidade de informações regendo tal orquestra.
Com sua obsessão em fazer o povo brasileiro acreditar que o defenestramento da rainha louca teria resultado de um golpe e que Lula seria um prisioneiro político, o PT subestimou grosseiramente o risco Bolsonaro.Desperdiçou esforços e afugentou possíveis aliados ao priorizar o acerto de contas do passado, quando deveria é estar garantindo que houvesse um futuro.
Inexistisse tanta soberba no PT e provavelmente a esquerda teria se unido em torno do candidato (Ciro Gomes, Marina Silva ou Guilherme Boulos) de um partido menor, mas que não carregasse consigo o desgaste de quem passou 13 anos no poder e acumulou altíssima rejeição.
E, claro, inexistisse tanta soberba no PT e provavelmente o candidato do bloco da esquerda buscaria o entendimento com as forças alheias dispostas a apoiá-lo, ao invés de bater-lhes com a porta na cara, como o Vinícius Torres Freire destacou (vide aqui). Mas, para chegarem a isto, o PT e Lula teriam de haver percebido quão perigoso é esse neofascismo que há cinco anos procura uma brecha para assenhorar-se do poder; e precisariam ter a humildade de enxergarem as prioridades da esquerda e dos brasileiros civilizados em geral como bem mais importantes do que seus exclusivos interesses partidários.
A autocrítica agora terá de ser na prática
Que os dirigentes petistas coloquem a mão na consciência e se compenetrem de que só eles podem agora barrar a escalada neofascista, mudando radicalmente o tom de sua campanha nas últimas três semanas e sabendo explorar os erros crassos que os três principais expoentes inimigos igualmente cometem (e em escala maior ainda!). O liberticida apenas capitaliza o ódio despertado pelas gritantes mazelas do Estado brasileiro, escancaradas pela Operação Lava-Jato. Se trouxer a discussão para o plano das medidas a serem tomadas para tirar o Brasil da recessão e para pacificar nosso país antes que estejamos matando uns aos outros pelas ruas, Haddad calará o pregador do caos, cujo programa de governo é um amontoado de contradições, estultices e propostas irrealizáveis. O desabafo e a catarse já aconteceram. Os cidadãos que estavam indo contra seus interesses movidos por um estado de espírito rancoroso e por um efeito-manada, podem agora cair na real, se tomarem conhecimento de que o preço por eleger-se um aventureiro desequilibrado como presidente é amargar mais recessão e turbulências ainda, como aconteceu depois da renúncia de Jânio Quadros.
A campanha do Haddad tem, sim, como virar o jogo, se não vacilar nem for tolhida por mesquinharias e melindres partidários. Caso contrário, tudo de positivo que um dia os petistas tenham feito será anulado pela catástrofe que advirá de suas ações neste momento decisivo.
celso rocha de barros
PT, VOLTE A SER DIGNO DA HORA
O PT está prestes a ganhar algo raríssimo na política: uma segunda chance.
O fracasso de Michel Temer e as revelações da Lava Jato sobre os partidos de direita deram sobrevida ao Partido dos Trabalhadores e colocaram Fernando Haddad no 2º turno, na eleição mais importante de nossa história. Há eleições que se pode perder, mas esta não é uma delas!
É a chance de o PT encerrar a crise que ajudou a começar com a política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff. O passo inicial, portanto, é abraçar a responsabilidade econômica que faltou a Dilma em 2012.
O segundo passo é até mais importante: precisa abandonar qualquer ressentimento, qualquer desejo de vingança causado pela crise política que seus adversários provocaram com o impeachment de Dilma Rousseff.
Enfim, é hora de esquecer o programa do 1º turno e abraçar o programa da frente democrática que deve se formar no segundo. Esse programa deve reconhecer a necessidade de ajuste fiscal, corrigindo os defeitos do ajuste de Temer, e deixar de lado toda palhaçadinha de nova Constituição, controle da mídia e demais babaquices que intelectual petista burro enfiou no programa de governo porque estava com raiva do impeachment.
Algumas dessas propostas podem até ser dignas de discussão, mas só depois de o PT reconquistar a confiança geral da população quanto à sua condição de partido responsável, na economia e na política.
Essa é a segunda chance do Partido dos Trabalhadores, mas também é a última. Se o PT perder para Bolsonaro, há uma perspectiva real de que os pobres brasileiros não consigam mais se fazer ouvir no sistema político por uma geração. O PT não tem o direito de impor aos pobres essa tragédia sendo incompetente ou radical.
Agora é a hora do partido voltar a ser a alternativa da esquerda democrática como foi nos anos Lula. A campanha no 2º turno deve ser a mais inclusiva possível para todo mundo, da esquerda, do centro ou da direita, que defenda a democracia contra Bolsonaro.
Haddad é perfeitamente capaz de levantar as bandeiras que o PT precisa defender, mas o partido precisa deixá-lo vencer. É preciso terminar de ganhar os votos que eram de Lula entre os pobres, o que o PT sabe fazer.
Mas também é preciso ganhar terreno no centro, que não está interessado em discurso imbecil contra Lava Jato ou a favor do vagabundo Nicolás Maduro.
É preciso deixar que os centristas democratas votem no PT. O partido que existiu até agora, aliás, acabou neste domingo (7).
Serviu para manter o eleitorado lulista unido e colocar Haddad no 2º turno. Agora Haddad, junto a Jaques Wagner e os governadores do partido —que já vêm fazendo ajuste fiscal faz tempo— devem recriá-lo.
Um partido de esquerda moderado sempre será favorito nas eleições brasileiras —o PT pode vencer a quinta presidencial seguida daqui a três semanas. É a última chance que o Partido dos Trabalhadores —de longe, o maior vitorioso de nossa história democrática, e, portanto, o maior interessado na preservação de nossa democracia —terá de desempenhar esse papel.
A sobrevivência da conversa democrática brasileira, a sobrevivência tanto da centro-esquerda quanto da centro-direita, nossa participação na comunidade das nações livres, depende da derrota de Jair Bolsonaro. 
 
Partido dos Trabalhadores, torne-se digno da hora. (por Celso Rocha de Barros)
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Toque do editor: ao abrir o computador para começar a propor as alterações necessárias na campanha de Fernando Haddad para o 2º turno, encontrei boa parte do que pretendia dizer já expresso no artigo do Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela universidade inglesa de Oxford.
 
E muito bem dito, por sinal. No que diz respeito ao quadro atual, nossa concordância é praticamente total: barrar a arrancada fascista justifica qualquer sacrifício neste momento!
 
Evidentemente, haverá muito a ser feito depois, já que o capitalismo continuará impulsionando a desigualdade econômica e social, a barbárie, a destruição do nosso habitat natural e a infelicidade permanente dos seres humanos: 
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— os que têm muito, por levarem existências vazias, sem comunhão com os demais seres humanos, nas quais só obtêm o que seu dinheiro pode comprar; e                                              . — os que têm pouco, por estarem sempre a um passo da miséria, obrigados a jornadas de trabalho massacrantes que há muito deixaram de ser necessárias e compelidos à competição canibalesca com seus iguais.
                                                      . Mas, estamos em estado de emergência. Lembremo-nos de que, ao sucumbir às invasões bárbaras, Roma condenou a humanidade a um retrocesso atroz e a um milênio de trevas. Não temos o direito de omitir-nos face à escalada da desumanidade! (por Celso Lungaretti)

ERROS DO PT PODERÃO ENTREGAR O PODER AOS FASCISTAS

vinícius torres freire
O ISOLAMENTO
 DO PT
Não tem cabimento exigir que candidatos e partidos renunciem a convicções. A decisão de rejeitar alianças em nome de purismos tem consequências, porém. O PT opta pelo isolamento, levando Fernando Haddad para a sua margem do rio.
A escolha do insulamento diminui o potencial de votos e a capacidade de organizar um governo viável em termos políticos e econômicos. A candidatura do PT não se ocupou desse problema até a semana passada, quando petistas, em especial haddadistas, temeram derrota precoce.
O PT ignorou ofertas tácitas de alianças que elites econômicas e políticas fizeram circular pela opinião pública –textos e entrevistas publicados na grande mídia, em redes sociais ou até recados para o entorno de Haddad. Elites, plural: são diversas.
O PT ignora um eleitorado na maioria favorável à prisão de Lula ou ao impeachment, mas nem sempre antipetista. Metade dos eleitores de Geraldo Alckmin e dois terços dos que votam em Ciro Gomes e Marina Silva optariam por Haddad numa final contra Jair Bolsonaro. Mesmo 16% dos bolsonaristas ainda cogitam votar em Haddad no 1º turno.
O PT fez tais escolhas numa eleição em que o centro ou a intermediária política se esvaziava. Em atos de campanha, deu mais motivos para ojeriza. Haddad atraiu mais da rejeição do que da simpatia a Lula: 49% dos eleitores não votam em candidato indicado pelo ex-presidente (a rejeição de Haddad passou de 40%); 39% votariam com certeza no indicado por Lula (Haddad não passou de 22% dos votos).
Candidatura fantasma do Lula: contraproducente.
O espectro de alianças possíveis é limitado, decerto. A candidatura tardia de Haddad dificultaria transição transada do petismo duro para um projeto de pacto ou reconciliação nacional, o nome que se dê.
O programa de governo do PT é um manifesto repelente de aliados, entre outros motivos porque talhado como um plano de combate contra golpistas ou todos que tenham outras ideias sobre a história politica e econômica do país nesta década.
Além do mais, Haddad até agora não quis ser maior do que o PT, lançando-se como líder inovador de várias correntes de opinião do país –talvez seja tarde. Em pesquisas qualitativas, não raro é tido como pau-mandado.
Apesar de insinuações de moderação, Haddad deixou que economistas do PT fossem porta-vozes dos seus planos econômicos, reafirmando o programa petista, de baixo nível técnico. Essas ideias causam escárnio, estupefação ou, em alguns, desânimo consternado, reação de elites dispostas a auxiliar um governo Haddad ou simpatizantes.
A ojeriza espalhou-se pelo eleitorado graças a outras erupções cutâneas da doença infantil do isolacionismo. Líderes do partido [Zé Dirceu] mencionavam tomada do poder quando tratavam do que deveria ser apenas vitória eleitoral. Outros, Haddad inclusive, falavam da Constituinte e de Lula livre como tema central da campanha.
Difícil medir o efeito geral de tais proclamações. Mas esses manifestos se propagaram, pois o PT perdeu o monopólio da palavra de ordem disseminada por militantes aguerridos ou fanáticos, ora ainda mais comuns na extrema-direita.
Zé Dirceu e sua bravata pra lá de inoportuna...
Entre tanta mentira selvagem contra Haddad, circularam também muitas declarações de petistas que motivaram alertas contra um projeto autoritário do partido.
Enfim, o povo sabe o que é a Venezuela: as pessoas fogem de lá até para a miséria de morar nas ruas do Brasil distante. O PT não entende nem isso. (por Vinícius Motta)
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia (Geração Editorial). Tem um ativo blog com esse mesmo título.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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