Na hipótese de a meta de inflação ser descumprida, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de enviar uma "carta aberta" ao ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando as razões para o estouro. A última vez que isso ocorreu foi em janeiro de 2018 e o motivo foi o descumprimento em outra direção.
Por Redação - de São Paulo
A alta nos preços, puxada por combustíveis e alimentos, surpreendeu negativamente os analistas econômicos e a inflação oficial do país já altera as projeções para a Selic, a taxa básica de juros brasileira.
Presidente do Banco Central, Campos Neto também preside o Conselho de Política Monetária (Copom), que regula a taxa de juros oficial do país (Selic)
— O IPCA de agosto será uma chamada para revisões de inflação e Selic — disse a jornalistas o sócio e economista-chefe da AZ Quest, Alexandre Manoel. Ele esperava uma alta de 0,71% do IPCA, mas admite que foi surpreendido pela alta dos preços industriais.
A previsão da AZ Quest para a inflação no ano, que atualmente é de 7,70%, será revista para cima e a Selic, que para o economista estava se descolando da sua projeção de 7,75% para algo como 8%, agora está mais para 9% no fim de 2021.
— Nada tem ajudado o Banco Central. Estamos agora com a iminência de uma crise hídrica que até pouco ante da metade do ano não estava no cenário de ninguém e que já está impactando a economia e temos ainda essa incerteza institucional. Temos uma inflação mais persistente do que qualquer um esperava — lamenta o economista.
Impacto
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, que hoje está em 5,25% ao ano.
Na hipótese de a meta de inflação ser descumprida, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de enviar uma "carta aberta" ao ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando as razões para o estouro. A última vez que isso ocorreu foi em janeiro de 2018 e o motivo foi o descumprimento em outra direção, por a inflação do ano anterior ter ficado abaixo do piso da meta.
O ex-presidente Ilan Goldfajn justificou, à época, que o maior impacto para a inflação ter desabado em 2017 foi a queda dos alimentos por causa da safra recorde.
Para o economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos, o resultado é um desastre completo e reflete a tempestade perfeita vivida pelo país.
— É uma inflação mais alta com atividade mais fraca, crise política e crise institucional. São todos os fatores atuando conjuntamente — concluiu.