Governo tira de circulação a “Compact”, que desde 2010 disseminava conteúdo xenófobo, negacionista e de incitação a golpe de Estado e que mantinha laços próximos com o partido AfD.
Por Redação, com DW – de Berlim
A Alemanha baniu nesta terça-feira a revista Compact, publicação mensal de extrema direita com tiragem de 40 mil exemplares acusada de incitar o ódio contra imigrantes, judeus e instituições democráticas.
A revista foi classificada como uma publicação comprovadamente extremista pela agência de inteligência interna da Alemanha em 2021 por disseminar teorias da conspiração, propaganda antivacinação e conteúdo antissemita e islamofóbico.
Além da revista impressa, a empresa tem um site, um canal de vídeo e uma loja virtual, com artigos como livros, CDs, DVDs e outros produtos.
Nela, era possível comprar uma moeda de prata com a imagem de Björn Höcke, um líder regional do partido de ultadireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que já foi condenado duas vezes por usar um antigo slogan nazista em público. Também já estava à venda uma moeda em homenagem a Donald Trump, em razão da tentativa fracassada de assassinato do ex-presidente e candidato namericano no útlimo sábado.
A polícia fez operações de busca e apreensão no escritório da revista, assim como nas residências de editores e pessoas ligadas à publicação.
De acordo com a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, a proibição “mostra que estamos agindo contra os incendiários intelectuais que criam um clima de ódio e violência contra refugiados e migrantes e que querem derrubar o Estado democrático”, disse ela.
A maior ameaça à democracia alemã
Faeser descreveu o extremismo de direita como a maior ameaça à democracia alemã, e a Compact como “uma porta-voz central da cena extremista de direita”.
Sua decisão vem na esteira da ascenção da AfD entre o eleitorado alemão, sobretudo o mais jovem. No mês passado, o partido conseguiu 15,9% dos votos no país, ficando em segundo lugar nas eleições para o Parlamento Europeu.
Dirigida pela figura de extrema direita Jürgen Elsässer, a Compact era publicada desde 2010. Seus artigos apoiam abertamente a AfD, condenam o que chamam de “terroristas do clima”, além de defenderem a “paz e a amizade” com a Rússia e um golpe de Estado.
A agência de inteligência interna da Alemanha afirmou, em seu relatório de 2023, que a publicação “regularmente dissemina (…) conteúdo antissemita, antiminoritário, historicamente revisionista e teoria da conspiração”.
A página inicial da publicação também apresentava uma petição em apoio ao eurodeputado Maximilian Krah, pivô de uma briga entre ultradireitistas no Parlamento Europeu depois de dizer que nem todo membro da organização paramilitar nazista SS era “automaticamente um criminoso”.
Uma mão lava a outra
Com a ajuda da Compact, a AfD ganhou projeção na Alemanha. Em troca, a publicação conseguiu apoio dos políticos eleitos do partido para suas transmissões e distribuição.
Nas eleições europeias deste ano, a Compact organizou eventos com palco, cerveja e tecnologia, em que políticos da AfD apareceram como convidados, mantendo um modelo de negócio de benefício mútuo.
Os co-líderes do partido, Alice Weidel e Tino Chrupalla, condenaram a proibição da Compact como “um sério golpe à liberdade de imprensa”. Eles alegaram que Faeser “está abusando de sua autoridade para suprimir reportagens críticas”.
A base jurídica para a proibição é a lei de associação, segundo a qual empresas que são contra a ordem constitucional ou os ideais do entendimento entre os povos também podem ser banidas.
A Compact refere-se a si mesma como uma “resistência” e, desde a pandemia de covid-19, trata o sistema político como uma “ditadura” de vacinação. Durante uma transmissão recente sobre a gripe aviária, foi dito que um “novo terror da vacinação” estava a aumentar e que as pessoas foram “vacinadas à força” durante a pandemia.