Decisão veio após o Parlamento Europeu ter rejeitado o resultado das últimas eleições legislativas, que deram vitória ao governo. Paralisação de negociações até 2028 gera protestos no país.
Por Redação, com DW – de Bruxelas
O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobajidze, anunciou na quinta-feira que o país suspendeu, até 2028, as negociações sobre a adesão à União Europeia, o que gerou protestos nas ruas e embates entre a polícia e manifestantes.

– Tomamos a decisão de não colocar a abertura das negociações em pauta até 2028 – disse o premiê, em entrevista coletiva. Ele acrescentou que o governo da Geórgia abriu mão, também até 2028, de “toda ajuda da União Europeia”.
– É totalmente inaceitável considerar a adesão à UE como uma esmola – disse o governante. Segundo ele, o início das negociações de adesão “está sendo usado por alguns políticos e burocratas europeus como um elemento de chantagem”.
O anúncio foi feito logo após o Parlamento Europeu ter aprovado uma resolução rejeitando os resultados das eleições parlamentares de outubro na Geórgia e pedindo novas eleições, em consonância com a oposição pró-União Europeia no país. A acusação é de que o pleito não aconteceu de forma “livre e justa”.
“O desenrolar das eleições foi mais um sintoma do retrocesso democrático contínuo do país pelo qual o partido no poder é plenamente responsável”, diz a resolução.
Entre as acusações contra o governo, estão “graves violações eleitorais”, incluindo casos documentados de intimidação de eleitores, manipulação de votos, interferência nas atividades de observadores eleitorais e da imprensa, e alegada manipulação de urnas eletrônicas.
Kobajidze foi confirmado como chefe de governo em uma sessão com a presença apenas de parlamentares governistas, já que a oposição, que conquistou 61 cadeiras nas eleições, tem boicotado o trabalho do Legislativo.
Antiga república soviética, a Geórgia obteve oficialmente o estatuto de candidato à adesão à UE em dezembro de 2023, mas Bruxelas suspendeu o processo e acusou o governo, liderado pelo partido Sonho Georgiano, de grave recuo democrático.
Protestos e violência nas ruas
Um mês depois das eleições legislativas contestadas, milhares de pessoas foram às ruas da capital Tbilisi e de outras cidades do país para protestar contra a decisão do governo de congelar as negociações sobre adesão à UE.
Durante a madrugada, a polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para tentar dispersar o protesto. Agentes encapuzados dispararam ainda balas e borracha e agrediram manifestantes e jornalistas que cobriam a manifestação.
Na capital, manifestantes bloquearam a circulação na frente do parlamento e da sede do partido governista Sonho Georgiano, agitando bandeiras da UE e da Geórgia.
A presidente georgiana, Salome Zurabishvili, que tem poderes limitados e rompeu com o governo, manifestou apoio aos manifestantes e jornalistas, atacados de maneira “desproporcional” e “em trabalho”, segundo publicou na rede social X.
– O Sonho Georgiano não venceu as eleições, organizou um golpe de Estado. Não há parlamento ou governo legítimos na Geórgia – afirmou Chota Sabachvili, um manifestante de 20 anos.