Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 2024

‘Gabinete do Ódio’ mantém apoio de Bolsonaro, mesmo com flagrantes notícias falsas

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Quinta, 02 de Abril de 2020 às 10:38, por: CdB

Os ataques de Bolsonaro aos governadores e às normas do próprio Ministério da Saúde continuaram ao longo da semana. Nesta manhã o presidente divulgou, em suas redes sociais, o vídeo em que uma eleitora pede para que o governo federal romper com as regras de segurança contra a pandemia do vírus Sars-CoV-2.

Por Redação - de Brasília
O tom mais brando no segundo pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, sobre o novo coronavírus foi fruto de um trabalho de convencimento de parte dos ministros e até de outros Poderes, que conseguiram exercer alguma força sobre o presidente além das vozes de seus filhos e do chamado “Gabinete do Ódio”. A afirmativa partiu de fontes com conhecimento das discussões no Planalto, à agência inglesa de notícias Reuters, divulgada nesta quinta-feira.
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Bolsonaro chega à situação limite de seu mandato, com críticas por todos os lados e aferrado ao 'Gabinete do Ódio'
Mas o antídoto não durou muito tempo. Os ataques de Bolsonaro aos governadores e às normas do próprio Ministério da Saúde continuaram ao longo da semana. Nesta manhã o presidente divulgou, em suas redes sociais, o vídeo em que uma eleitora pede para que o governo federal romper com as regras de segurança contra a pandemia do vírus Sars-CoV-2.

Cenários

A sequência de ataques, apesar das recomendações que ecoaram do outro lado da Praça dos Três Poderes, vindas de diversos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) —inclusive do presidente da Corte, Dias Toffoli — tem irritado importantes autoridades da República. Muitas delas já buscam formas de resumir o mandato do presidente. Do Congresso, com quem Bolsonaro tem um relacionamento cada vez mais conflituoso, também veio a avaliação de que qualquer ponte possível tem desmoronado, pela atitude isolada do presidente contra as medidas de isolamento social para conter a disseminação do vírus, contrária a do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Os cenários pessimistas permitiram a ministros do governo, entre eles o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, o da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e o da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, convencer o presidente a optar pela moderação no pronunciamento de terça-feira — ao menos por enquanto. Nem isso surtiu efeito.

Carluxo

Filho do meio do presidente, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Carluxo ou ’02’, como também é conhecido) tem passado os dias em Brasília, ao lado do pai e, de acordo com fontes palacianas, tem ido diariamente ao Planalto. Foi ele quem organizou e preparou o texto do pronunciamento da semana passada e quem tem, novamente, controlado as redes sociais do pai. Radical, Carlos alimenta a estratégia de insuflar os bolsonaristas nas redes a favor de Bolsonaro, mas tem ajudado a alienar outros eleitores. Na véspera, poucas horas depois do discurso moderado de Bolsonaro, as redes sociais do presidente apresentavam um vídeo em que um homem mostrava a Ceasa de Belo Horizonte vazia e afirmava que era o desabastecimento causado pelo isolamento decretado pelos governos estaduais. Pouco tempo depois, reportagens mostravam que o vídeo tinha sido gravado em um momento em que o entreposto normalmente está vazio para limpeza, e que a Ceasa estava funcionando normalmente nesta manhã. Bolsonaro apagou os posts e, mais tarde, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, confirmou em entrevista no Planalto que não há desabastecimento. No início da noite, o presidente pediu desculpas por ter publicado em uma rede social o vídeo sobre desabastecimento de uma central de alimentos em Belo Horizonte.

Mandetta

Desde uma tensa reunião de sábado, em que Mandetta avisou que defenderia o isolamento a despeito da posição contrária do presidente e pediu que Bolsonaro não minimizasse a epidemia, o relacionamento entre ambos melhorou, mas segue com desconfiança de ambos os lados, contou uma das fontes. Mandetta, que chegou a ser ameaçado de demissão, segue contrariando as convicções do presidente, especialmente em relação ao isolamento e ao uso de cloroquina como medicamente que resolve todos os problemas, mas uma trégua foi atingida. Em meio aos dois, o ministro da Casa Civil; além de organizar as diversas ações de todos os ministérios, tem servido de para-raios entre o presidente e o ministro. Questionado na terça-feira se apoiava a posição de Mandetta sobre o isolamento, Braga Netto foi incisivo: “plenamente”.
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