Segundo a pesquisa, um hectare de floresta conserva 324 toneladas de carbono, “o que pode atrair bilhões em investimentos de mercados de carbono”, aponta o estudo.
Por Redação, com BdF – de Brasília
O desmatamento no sul do Amazonas pode gerar um prejuízo acumulado de R$ 15 bilhões em 30 anos, de acordo com estudo inédito publicado nesta quarta-feira pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal (Imaflora). O cálculo foi feito usando como base o valor resultante de atividades não degradantes da floresta, como o extrativismo, o manejo sustentável da madeira e os projetos de créditos de carbono.

Para a pesquisa, o instituto considerou as terras públicas não destinadas – áreas não protegidas pelo estado ou governo federal, também chamadas de Florestas Públicas Não Destinadas (FPND) – na região sul do Amazonas, no entorno da rodovia BR 319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO).
— O uso sustentável das FPNDs é muito mais eficiente do que sua conversão para pastagens, por exemplo — disse Pedro Gasparinetti, um dos autores da análise, a jornalistas.
Carbono
Segundo a pesquisa, um hectare de floresta conserva 324 toneladas de carbono, “o que pode atrair bilhões em investimentos de mercados de carbono”, aponta o estudo.
— Em comparação, a pecuária extensiva, que é um dos principais motores do desmatamento na região, gera apenas R$ 500 a R$ 750 por hectare/ano, um valor muito inferior ao que as florestas em pé podem proporcionar — avalia Marco Lentini, coautor do boletim.
Em 2024, o presidente Lula (PT) sancionou a lei que regulamenta o mercado de créditos de carbono no Brasil. No entanto, muitos desses projetos são alvo de críticas, acusados de falta de transparência com as comunidades envolvidas e até pelo uso indevido de terras públicas.
Grilagem
Em toda a Amazônia Legal, há 63 milhões de hectares de terras públicas não destinadas, uma área maior que o Estado de Minas Gerais. Somente na região sul do Estado do Amazonas, foco de incidência do estudo do Imaflora, as terras não protegidas equivalem a 11 milhões de hectares, uma área maior que o estado de Santa Catarina. Por estarem em insegurança jurídica, essas terras são alvo de grileiros.
Em outro estudo, os pesquisadores do Imaflora indicam que mais de 52% das terras públicas não destinadas federais e 77% das estaduais na região analisada estão sobrepostas a registros no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Como o CAR é auto declaratório, ou seja, qualquer pessoa pode fazer o registro nos sistemas estaduais de cadastramento, a existência dessas sobreposições é um indício de grilagem de terras.
Segundo Tayane Carvalho, analista florestal do Imaflora e uma das autoras do estudo, é possível que parte desses cadastro sobre áreas públicas seja decorrente de falhas no sistema de registro. No entanto, “na maioria dos casos, podemos considerar sim que deve haver grilagem”, resumiu.