Os diálogos são parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que circulou foragido pelo país.
Por Redação, com RBA - do Rio de Janeiro
Grampos telefônicos de conversas entre cúmplices do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime, sugerem que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), foi contatado por integrantes da rede criminosa. A informação foi revelada neste sábado em reportagem da agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil.
Segundo a agência, os diálogos são parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que circulou foragido pelo país.
Logo após a morte do miliciano, abatido a tiros por policiais no sítio de um vereador do PSL no interior da Bahia, cúmplices de Adriano da Nóbrega fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de vidro”. Em seguida, Bolsonaro manifestou, publicamente, uma série de suspeitas quanto à atuação da PM baiana na morte do bandido. Seu primogênito, o senador Flávio Bolsonaro, acompanhou o pai nas declarações. Ele chegou a visitar Nóbrega, na cadeia, para lhe entregar uma comenda aprovada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
‘Casa de vidro’
A reportagem ouviu, ainda, fontes do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ), na condição de anonimato. Elas afirmaram que o conjunto de circunstâncias permite concluir que os nomes são referências ao presidente Bolsonaro. “O cara da casa de vidro” seria uma referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada, a residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.
Após as citações, o Ministério Público Estadual pediu que a justiça encerrasse as escutas dos envolvidos nas conversas, apesar de eles seguirem trocando informações sobre as atividades ilegais de Adriano da Nóbrega. A reportagem destaca que a interrupção reforça a ideia de que trata-se do mesmo Jair que hoje ocupa o Planalto, uma vez que o Ministério Público estadual não pode investigar o presidente da República.
Em casos deste tipo, o MP do Estado tem a obrigação constitucional de encerrar a investigação e encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República, que tem esse poder. Questionada pela reportagem, a PGR não informou se recebeu ou não a investigação do MP do Rio até a publicação desta reportagem.