Neste ano, a mobilização teve como tema Melhor Produção, Melhor Nutrição, Melhor Meio Ambiente e Melhor Qualidade de Vida. Esta edição da iniciativa levanta a questão da relação entre as mudanças climática e a produção de alimentos no mundo.
Por Redação, com ABr- de Brasília
O Dia Mundial da Alimentação, data comemorada neste sábado, não teve boas notícias para os seres humanos. Organismos internacionais, governos e instituições da sociedade civil realizaram atividades com o objetivo de chamar a atenção para o desafio que é o combate à fome e à insegurança alimentar no mundo e em cada país, como o Brasil.
Neste ano, a mobilização teve como tema Melhor Produção, Melhor Nutrição, Melhor Meio Ambiente e Melhor Qualidade de Vida. Esta edição da iniciativa levanta a questão da relação entre as mudanças climática e a produção de alimentos no mundo.
A Organização das Nações Unidas, por meio de seu braço para agricultura e alimentação (FAO), divulgou mensagens lembrando que ainda há mais de 2 bilhões de pessoas no mundo que não conseguem ter acesso a uma alimentação saudável. O Dia Mundial da Alimentação serve, ainda, para conscientizar as pessoas sobre a importância de garantir que todos tenham acesso a alimentos suficientes, seguros, diversificados e nutritivos.
Alterações climáticas
As mudanças climáticas se manifestam de diversas formas, pelo aumento da temperatura da Terra, escassez de água e eventos extremos como enchentes e tempestades de areia, como recentemente registradas em São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Artigo publicado nesta semana na revista científica Nature por pesquisadores da Alemanha, Estados Unidos e Suíça ressalta que as mudanças climáticas induzidas pela Humanidade já impactaram 80% da área e 85% da população da Terra.
Em setembro, o centro de pesquisa britânico Chatham House divulgou relatório alertando que as mudanças climáticas podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050 se não houver redução das emissões de carbono. O tema será um dos assuntos centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), que ocorrerá entre 31 de outubro e 12 de novembro na cidade de Glasgow, na Escócia.
Pandemia
Segundo o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP, na sigla em inglês), a crise climática ocasionará um aumento exponencial da fome se não houver ações para proteger as comunidades dos choques climáticos. No Brasil, as ações da mobilização começaram nesta semana. Na quarta-feira, foi feita uma projeção no prédio do Congresso Nacional com imagens de alimentos para marcar o dia e buscar colocar a pauta para as autoridades políticas.
Segundo Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil, a pandemia revelou a fragilidade das sociedades, com crise da saúde, recessão econômica, aumento da insegurança alimentar e da desigualdade, atingindo sobretudo as populações mais vulneráveis, como ocorre no Brasil.
— O desafio do Brasil está em mudar a forma como produzimos, como consumimos e como descartamos os alimentos. Estes são três fatores-chave para uma transformação efetiva em nossos sistemas agroalimentares, com uma cultura de consumo mais consciente que diminua o preço dos alimentos, além de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis que nos permitam atender à crescente demanda por alimentos, reduzindo drasticamente o desperdício e as perdas globais — afirmou Zavala, em conversa com jornalistas.
Prioridades
O representante do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, Daniel Balaban, pontuou que a mudança envolve tratar a alimentação como direito básico.
— Promover a agricultura familiar, fortalecer programas como os de alimentação escolar e estimular a produção e o consumo sustentáveis devem estar entre nossas prioridades. Hoje, mais do que nunca, precisamos unir forças para enfrentar os desafios juntos — ressalta.
Na avaliação do Coordenador de Amazônia do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Rodrigo Noleto, o modelo agropecuário brasileiro provoca impactos nas mudanças climáticas com a expansão desenfreada da plantações e criações de animais, que debilitam o meio ambiente.
Ultraprocessados
Seria importante, de acordo com ele, uma valorização maior da agricultura familiar e povos e comunidades tradicionais, inclusive por meio de políticas públicas, como ocorre no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
— É importante que comunidades tradicionais forneçam para as suas próprias comunidades. Isso traz alimentos mais saudáveis, além de agregar valor e renda para quem produz. É válido que os alimentos ultraprocessados parem de ser fornecidos para essas comunidades. Isso diminui o transporte, sem levar alimentos de uma distância muito grande. Tudo isso está relacionado com mudanças climáticas — analisa Rodrigo Noleto.
Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 19 milhões de brasileiros passaram fome em 2020, e mais da metade das casas (cerca de 116,8 milhões de pessoas) vivenciou algum tipo de insegurança alimentar.