A análise de Garcia, publicada na edição desta quinta-feira do diário norte-americano The Washington Post, ressalta que o mandatário neofascista “apoiou candidatos espalhados por muitos partidos, mas não conseguiu eleger a maioria daqueles pelos quais fez campanha”.
Por Redação, com WP - de São Paulo
As urnas revelaram um destino sombrio para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com a derrota nas maiores cidades do país para seus adversários mais ferrenhos, tanto à esquerda, quanto à direita. Embora grandes legendas, a exemplo do PT e do MDB, terem perdido espaço, o principal derrotado nas urnas foi Bolsonaro, avalia observador do diário norte-americano The Washington Post, o jornalista Raphael Tsavkko Garcia.
A análise de Garcia, publicada na edição desta quinta-feira, ressalta que o mandatário neofascista “apoiou candidatos espalhados por muitos partidos, mas não conseguiu eleger a maioria daqueles pelos quais fez campanha”.
“Os resultados mostram um cenário eleitoral confuso em que o chamado ‘Centrão’, composto por partidos sem grande alinhamento ideológico, ganhou espaço. Enquanto isso, a extrema direita, liderada pelo presidente Jair Bolsonaro, recuou e a esquerda sofreu um grande realinhamento interno, com as candidaturas tradicionais dando lugar a políticos mais jovens com agendas baseadas na identidade; candidatos progressistas, especialmente mulheres negras e candidatos LGBT, viram um crescimento surpreendente”, destaca o texto.
Extrema direita
“Curiosamente, as candidaturas tradicionais acabaram perdendo espaço em várias grandes cidades para mulheres negras e candidatas trans, que faziam campanha com base na ideia de representatividade – tendência que promete apenas ganhar impulso para as próximas eleições nacionais de 2022”, avalia Garcia.
“À direita, Bolsonaro sofre com a falta de um partido político próprio – e de uma base unificada. Com candidatos espalhados por vários partidos, o presidente perdeu força na hora de planejar uma estratégia eleitoral coerente e criar uma identidade. A extrema direita também chegou a esta eleição terrivelmente dividida”, acrescenta.
Ainda segundo o jornalista, embora tenha ocorrido uma grande campanha de desinformação nas redes sociais, desencadeada após a tentativa de ataques hackers e de problemas em um computador do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que resultaram em atraso na apuração, a explicação para a derrota de Bolsonaro e da direita podem ser relativamente simples.
Inadequado
“A eleição de 2018 que Bolsonaro venceu e que levou vários políticos extremistas a cargos legislativos foi atípica. Além de uma das maiores campanhas de desinformação e notícias falsas já vista, foi uma época em que as festas tradicionais foram apanhadas de calças abertas”, analisa.
“Mas, com um país ainda em crise – não só por causa da pandemia, mas também devido a um governo inadequado – com a fragmentação da base política de Bolsonaro e uma aparente redução da desinformação online, o extremismo acabou perdendo força. A promessa de transformação não se cumpriu, a moralização da política não chegou (Bolsonaro e sua família estão envolvidos em inúmeros escândalos de corrupção) e, no final, parece haver um limite para o ódio e as mentiras espalhadas pelas redes sociais”, resume o jornalista.