Parlamentares e juristas se mobilizam para deter concessões a colega Donald Trump e envergonhar Bolsonaro perante o mundo. A indignação contra o “viralatismo” do presidente Bolsonaro diante de Trump, de acordo com editorial do diário norte-americano The Washington Post, estende-se ao STF.
Por Redação - de Brasília
O fiasco diplomático do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na visita ao colega norte-americano, Donald Trump, tende a se agravar, nos próximos dias. Tanto o Congresso quanto o Supremo Tribunal Federal (STF) precisarão avalizar as pródigas ofertas do governante brasileiro aos EUA; desde a liberação de vistos, sem reciprocidade; o fim das salvaguardas na importação de trigo, em prejuízo dos agricultores; e o alinhamento à política bélica dos EUA, agravada pela cessão da Base de Alcântara (MA).
Segundo mensagem do ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, em uma rede social, nesta quarta-feira, “Trump vai tratar dos interesses dele, e não dos nossos. Tranquiliza saber que qualquer acordo que fira a Constituição (Igualdade entre os Estados) e a reciprocidade nas relações internacionais será barrado no Congresso ou no Supremo, ampliando o papelão dos desvairados”, disse.
Rebelo, dirigente nacional do Partido Solidariedade, antecipou o movimento que se inicia, na Câmara, contra a liberação de vistos aos norte-americanos, sem que os EUA também autorizem o ingresso dos brasileiros, livre de qualquer autorização federal. A questão é polêmica e, independentemente da legenda, um número relevante de parlamentares criticou a ação do governo.
Araújo
A indignação contra o “viralatismo” do presidente Bolsonaro diante de Trump, de acordo com editorial do diário norte-americano The Washington Post, estende-se ao STF. Fonte que integra o time de advogados do PT disse à reportagem do Correio do Brasil, nesta manhã, em condição de anonimato, que a legenda estuda os termos para um processo, junto à Corte Suprema, contra a cessão de vistos automáticos aos norte-americanos, sem que o mesmo ocorra da outra parte.
Ciente de que suas promessas ao colega norte-americano precisarão ser desditas, caso sejam barradas nas instâncias políticas e legais do país, Bolsonaro agora também precisa lidar com a reação de suas atitudes diante da própria equipe. Durante seu encontro com Trump, na véspera, a quebra de protocolo que permitiu a presença do filho Eduardo, na conversa reservada entre os chefes de Estado, causou mal estar junto ao chanceler Ernesto Araújo.
O diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP) classificou a reação de Araújo como “um chilique, na frente de outros ministros”. Araújo não foi chamado à reunião, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington.
Redes sociais
“Segundo pessoas que estavam presentes no momento descreveram à Folha, Araújo ficou especialmente irritado após ler o blog da jornalista Míriam Leitão, do jornal (conservador carioca) O Globo. No texto, ela afirma que o Itamaraty saiu rebaixado com ida de Eduardo para o encontro com Trump e diz que, se Araújo tivesse ‘alguma fibra’, ele pediria para deixar o cargo.
A percepção dos presentes foi de que o ministro às vezes tem comportamento instável. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou acalmá-lo”, relata a FSP.
Para o maior jornal em circulação na capital norte-americana, o Post também repercutiu a vergonha sentida por brasileiros diante do “viralatismo” de Jair Bolsonaro – chamada pelo periódico de novo presidente da extrema-direita –, confirmado em seu encontro com Donald Trump na terça-feira.
O texto destaca as severas críticas dirigidas ao brasileiro nas redes sociais, especialmente no Twitter, inconformados com a “venda” do maior país da América Latina, novamente posto de joelhos dos EUA. O diário norte-americano ressalta, ainda, que a barulhenta reação contra Bolsonaro se deu justamente no âmbito das redes – principal ferramenta usada pelo agora presidente para ganhar notoriedade.