Segundo a PF houve cerca de 1,5 mil monitoramentos ilegais, disseram fontes da Abin, mas alguns mencionam um número ainda maior, chegando a 1,8 mil. No início de janeiro, o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, disse que a agência lidava com aproximadamente 30 mil pessoas espionadas ilegalmente.
Por Redação - de Brasília
Ainda longe do fim, a investigação da Polícia Federal (PF) sobre o uso de um software espião produzido em Israel contra adversários - e até aliados - do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostraram, nesta quarta-feira, que os dias à frente serão de sobressaltos para a família do suspeito de tramar o golpe de Estado fracassado em 8 de Janeiro. Com a exposição e a queda de contatos na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ocorridas nas últimas 48 horas, Bolsonaro perde terreno e teme que detalhes sórdidos sobre sua gestão à frente do Palácio do Planalto venham à tona.
As operações em curso pela PF sobre o esquema de arapongagem na Abin estão prestes a conhecer, e possivelmente divulgar, que os alvos incluíam não apenas opositores e críticos do ex-mandatário neofascista, mas “aliados e amigos do clã”, segundo apurou a jornalista Andréia Sadi, em seu blog.
Segundo a PF houve cerca de 1,5 mil monitoramentos ilegais, disseram fontes da Abin à colunista, mas alguns mencionam um número ainda maior, chegando a 1,8 mil. No início de janeiro, o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, disse que a agência lidava com aproximadamente 30 mil pessoas espionadas ilegalmente, mas permanece a dúvida se os números representam casos únicos ou monitoramentos recorrentes, uma vez que uma mesma pessoa possa ter sido monitorada mais de uma vez.
Computador
“Aliados de Bolsonaro, nos bastidores, não descartam que estejam entre os nomes espionados ilegalmente. Atribuem essa avaliação ao clima de conspiração criado, principalmente, por Carlos Bolsonaro junto ao pai, durante seu mandato”, informa Sadi. A desconfiança é atribuída às atitudes alimentadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) ao longo do tempo, inclusive em relação a aliados próximos, como o vice Hamilton Mourão.
Entre as preocupações do clã Bolsonaro, segundo a jornalista, está a análise de um computador apreendido pela PF no gabinete de Carlos Bolsonaro. Nesta linha, já estariam sendo montadas estratégias defensivas, incluindo a possibilidade de atribuir as ações a assessores sem o consentimento do vereador e sugerir que a suposta ‘Abin paralela’ teve o aval do general Augusto Heleno, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro.
Heleno foi intimado pela PF e deverá prestar depoimento na próxima terça-feira na sede da corporação, em Brasília (DF), no âmbito do inquérito que apura o suposto esquema de espionagem clandestina dentro da Abin, a mando do então diretor da agência, Alexandre Ramagem. Na época, a Abin era subordinada à pasta comandada pelo general.
Jet skis
Pesa, ainda, sobre os Bolsonaros, a suspeita de que houve vazamento de informação e eles teriam sido avisados da batida policial na residência em Angra dos Reis. Por esse motivo, a PF avalia mais de perto o que houve com uma das três embarcações utilizadas para deixar o local antes que os agentes federais chegassem.
Informações coletadas pela PF indicam que uma das três embarcações usadas pelo clã Bolsonaro para alegada pesca não retornou do mar durante a execução de um mandado de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), na manhã da última segunda-feira.
A PF investiga, ainda, a possibilidade de que esse jet ski ausente tenha sido utilizado para transportar e ocultar possíveis provas ou materiais suspeitos relacionados ao ex-presidente e seus filhos. De acordo com as investigações, Jair, Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, junto com amigos e assessores, partiram da residência em um barco e dois jet skis às 6h40, assim que a família tomou conhecimento da operação.
Outro lado
Por volta das 8h40, os agentes da PF chegaram ao local por meio de um helicóptero da cidade do Rio. Às 9h30, o deputado Eduardo retornou em um dos jet skis, iniciando as negociações para que Carlos, o único alvo da operação, retornasse do mar. Somente às 11h o vereador apareceu, vindo de barco com o ex-mandatário, segundo fontes ligadas ao caso.
Apesar das declarações de ’01' sobre um almoço pré-marcado, a versão apresentada levanta questionamentos entre os investigadores, pois há relatos de que o senador retornou ao imóvel pouco depois da saída da polícia do local.
O advogado da família e ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, contradiz a versão da PF, afirmando que quando chegou à residência dos Bolsonaros por volta de 12h45, Flávio já estava presente. Wajngarten nega a narrativa policial e sustenta que a família saiu para o mar antes das 6h.