Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Brasil deixa clara intenção de liberar vinda de Putin ao G20

Alvo de um mandado de prisão determinado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), Putin poderia ser preso durante a cúpula do G20, caso houvesse uma ordem judicial nesse sentido.

Quarta, 16 de Outubro de 2024 às 21:38, por: CdB

Alvo de um mandado de prisão determinado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), Putin poderia ser preso durante a cúpula do G20, caso houvesse uma ordem judicial nesse sentido.

Por Redação – de Brasília

A um mês da reunião de cúpula que reunirá as nações mais desenvolvidas do planeta (G20) no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de novembro, o Brasil ainda busca uma solução jurídica para que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, possa comparecer ao encontro sem o risco de ser preso. A possibilidade existe, segundo o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, mas ainda se busca uma solução para o ‘imbroglio’.

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O presidente russo, Vladimir Putin, elogia o desempenho internacional do líder brasileiro, Lula

Alvo de um mandado de prisão determinado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), Putin poderia ser preso durante a cúpula do G20, caso houvesse uma ordem judicial nesse sentido.

— Pode haver isso. Eu não posso limitar, cercear um juiz, nem imaginar ou adivinhar o que vão fazer. Tantas outras coisas podem acontecer. Eu não posso atuar dentro da futurologia, o que vai acontecer eu não sei — afirmou Vieira, em uma entrevista ao canal norte-americano de TV CNN.

 

Ordem do TPI

Ainda assim, de acordo com o diplomata, há brechas na legislação que poderiam viabilizar a visita do chefe de Estado russo, o que atenderia à vontade do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deseja a presença do representante de um dos países fundadores do grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS, na sigla em inglês). Vieira lembra que existe uma tradição de “imunidade” para chefes de Estado.

— Em Nova York, há um acordo que obriga a conceder tratamento diferenciado e com imunidade aos chefes de Estado que participam das assembleias da ONU. Então, é a mesma coisa — observou.

O TPI, com sede em Haia, emitiu uma ordem de prisão contra Putin em março do ano passado, por supostos crimes de guerra em áreas ocupadas na Ucrânia. O Brasil é signatário do Estatuto de Roma, que criou o TPI e, portanto, estaria obrigado a executar mandados da Corte, embora haja controvérsias jurídicas nesse sentido.

 

Indefinição

A diplomacia russa ainda não confirmou se o presidente do país virá, ou não, ao encontro do G20, e trata o assunto de forma reservada. A pauta, no entanto, está prevista para o encontro entre Lula e Putin, durante a reunião de cúpula do BRICS, na semana que vem, na cidade russa de Kazan.

O líder brasileiro já expressou seu interesse em receber o colega de Moscou, durante a reunião no Rio de Janeiro. Mas o procurador-geral da Ucrânia, Andriy Kostin, afirma que o Brasil teria que prender o presidente da Rússia, caso ele compareça o encontro.

— O Brasil, como um Estado que ratificou o Estatuto de Roma, é obrigado a executar o mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (contra o presidente Putin) pela transferência ilegal e deportação de crianças ucranianas — acredita Kostin.

 

Visita

A realidade, porém, é bem diferente do que um dos lados do conflito propõe. Em recente visita à Rússia, o líder petista José Dirceu participou, segundo uma fonte afirmou à reportagem do Correio do Brasil, nesta quarta-feira, de reuniões em Moscou na qual se estuda uma alternativa jurídica que permita a viagem do chefe de Estado ao Brasil.

A boa-vontade do PT para a visita de Putin já fora expressa pelo próprio Dirceu, em entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, na semana passada. O advogado, que ocupou a chefia da Casa Civil no primeiro governo do presidente Lula, desconversou ao ser perguntado sobre o objetivo de sua estada em solo russo.

— Eu visitei a China e a Rússia, mas não teve nada a ver com governo nem com partidos políticos. Fui ver os países — adiantou.

 

Mísseis

Ainda assim, não escondeu que concorda “de certa forma”, com a determinação de Moscou em ocupar as áreas russófonas no Donbass e na Crimeia, posto que os russos têm o direito à defesa de seu território.

— É uma guerra, e nós não podemos apoiá-la porque a nossa Constituição proíbe. A Rússia invadiu outro país. Mas, se você olha os antecedentes, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ao contrário do compromisso (que firmou com a Rússia), foi incorporando os países da ex-comunidade socialista (na aliança militar). Bulgária, Hungria, Polônia, República Checa… — citou.

E ressalta que a aliança militar europeia foi “colocando mísseis intercontinentais (nos países da Otan que estão em torno da Rússia).

— Putin colocou mísseis em Kaliningrado, e com isso ele estava dizendo que não era o (ex-presidente da Rússia Boris) Yeltsin nem o (ex-presidente Mikail) Gorbachov (que não resistiriam a esse movimento do Ocidente). Estava na cara que isso não ia acabar bem — concluiu.

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