O uso de um sistema israelense de espionagem mostra, agora, a extensão dos atos ilegais cometidos sob o comando do mandatário neonazista.
Por Redação - de Brasília
Ao tentar estabelecer um setor especializado no monitoramento de adversários políticos ao longo de sua gestão, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) buscou estabelecer parâmetros semelhantes àqueles aplicados durante o regime nazista pela polícia secreta alemã, a Geheime Staatspolizei, posteriormente conhecida como Gestapo. O uso de um sistema israelense de espionagem mostra, agora, a extensão dos atos ilegais cometidos sob o comando do mandatário neonazista.
Nesta sexta-feira, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) acionou a Polícia Federal (PF) para que apure, em detalhes, as declarações do diretor-geral, Andrei Rodrigues, que apontam o monitoramento ilegal de aproximadamente 30 mil brasileiros, clandestinamente perseguidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão passada.
O parlamentar expressou preocupação com o caso, anunciando que solicitou à PF a lista das pessoas alvo da espionagem ilegal. Em seu tuíte, Braga ressaltou a necessidade não apenas de responsabilizar os envolvidos, mas também de entender quais outras ações ilegais foram executadas a partir dos dados coletados.
Rede telefônica
“O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, confirmou: 30 mil pessoas monitoradas pela Abin no governo Bolsonaro. Dados armazenados em Israel. Vou pedir a lista à PF. Além de responsabilizar os envolvidos, temos que saber as outras ações ilegais que executaram a partir do que coletaram”, publicou Braga.
A PF encontrou, ainda, indícios da possível utilização ilegal desse mesmo software espião pela Abin, durante o governo Bolsonaro, na tentativa de invadir a rede telefônica da operadora TIM. A suspeita se consolida em um e-mail encontrado entre o material apreendido pela PF no âmbito da Operação Última Milha, deflagrada no ano passado e que resultou na prisão e afastamento de agentes da Abin.
A suspeita dos investigadores é de que o software espião israelense FirstMile tenha sido usado de forma a monitorar opositores e críticos ao governo Bolsonaro. Entre os alvos, segundo a PF, estariam professores, advogados, políticos, jornalistas e até ministros do Supremo Tribunal Federal. Ao invadir a rede de telefonia, a necessidade de autorização da Justiça para obter as informações sobre a localização dos aparelhos monitorados era praticamente dispensada.
Testes
O email, de autoria de uma funcionária da empresa Cognyte —antiga Suntech/Grupo Verint— e datado de janeiro de 2020, afirma que estava 'pesquisando e testando novos métodos para acessar' a rede da Tim após ter sido barrada pela companhia". A empresa foi a responsável pela venda da ferramenta à Abin.
"Estamos pesquisando e testando novos métodos para acessar a rede da Tim, mas até o momento a Tim está bloqueando todas as nossas tentativas de acesso à rede. O manteremos informado assim que houver necessidade nos nossos testes", diz um trecho do documento localizado.
O e-mail foi dirigido a um servidor da Abin que foi alvo de mandado de busca e apreensão. Ele era o responsável pela gestão do contrato do sistema de espionagem.
Diligências
"O Estado brasileiro, portanto, efetuou o pagamento de R$ 5 milhões para empresa estrangeira realizar ataques sistemáticos a rede de telefonia nacional para comercializar dados pessoais sensíveis que resultaram na disponibilização da geolocalização de diversos cidadãos brasileiros sem qualquer ordem jurídica", diz um trecho do relatório da PF sobre os crimes cometidos.
Em outro trecho, a PF ressalta que “as diligências de alta complexidade empregadas, até o presente momento, revelam a reiterada ação de invasão da rede de telefonia nacional, fomentada pelo órgão ápice do Sistema de Inteligência Brasileiro. Noutros termos, há aplicação de recursos públicos federais em solução tecnológica que explora vulnerabilidades da rede de telefonia nacional".