Assessores do Palácio do Planalto, em condição de anonimato, disseram à reportagem do Correio do Brasil que o ambiente estava tenso no gabinete presidencial, no início da manhã. Era possível ouvir, nos corredores próximos à sala do presidente, vários palavrões proferidos em voz alta.
Por Redação - de Brasília
A prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seu filho primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), instala a pedra angular no processo de rápido desgaste político do mandatário neofascista. O dia começou mal para ele e seus familiares.
Assessores do Palácio do Planalto, em condição de anonimato, disseram à reportagem do Correio do Brasil que o ambiente estava tenso no gabinete presidencial, no início da manhã. Era possível ouvir, nos corredores próximos à sala do presidente, vários palavrões proferidos em voz alta.
O chefe do clã Bolsonaro disse a aliados, ainda segundo fontes, que a ação policial desta manhã, no interior paulista, trata-se de mais um capítulo na narrativa da oposição para afastá-lo do cargo. Ele teria atribuído a operação policial aos governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel — à beira de um impeachment na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) — e de São Paulo, João Doria, outro de seus desafetos.
Foragida
Para o chefe do Executivo, portanto, não existe coincidência no fato de, em apenas alguns dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar buscas e apreensões contra seus financiadores, no âmbito do inquérito sobre a disseminação de notícias falsas, e agora, descobrir o paradeiro do amigo, ex-assessor e homem ligado à milícia armada que prospera na Zona Oeste do Rio de Janeiro e é responsabilizada pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, há dois anos.
O que mais a família presidencial mais teme, no entanto, é a reação de Queiroz à prisão da mulher, Márcia Oliveira de Aguiar. Ela teve o mandado de prisão expedido por ordem do juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal, e é considerada foragida da Justiça.
Em mensagens trocadas entre Queiroz e interlocutores há alguns meses, em um aplicativo de celular, ele reclamava de ter sido abandonado por seus empregadores. Ainda assim, prontificou-se junto ao presidente a assumir sozinho a culpa por toda e qualquer acusação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPR-RJ) no inquérito que cita o primogênito, então no cargo de deputado estadual, por evasão de dinheiro público, desde que a mulher dele, Márcia, e a filha Nathália (ex-funcionária do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara) ficassem fora do processo.
Impeachment
Caso ambas fossem presas, no entanto, Queiroz sugeriu que poderia aceitar uma eventual proposta de delação premiada, o que colocaria Bolsonaro em uma posição delicada diante da Suprema Corte. A tensão do presidente era tamanha, nesta manhã, que sequer parou para conversar com apoiadores, na porta do Palácio do Alvorada, como costuma fazer todas as manhãs.
A primeira reunião do dia, com o ministro da Justiça, André Mendonça, chamado às pressas para ajudar na formação de um discurso de defesa, diante dos fatos, teve também a presença do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Levi. A situação desesperadora de Bolsonaro não passa despercebida pela cúpula militar do governo. Para os generais que ocupam os principais cargos políticos do Planalto, a melhor reação — segundo fontes — seria o rápido afastamento do advogado Frederick Wassef, que ficaria sozinho para explicar o porquê de Queiroz estar escondido em seu sítio em Atibaia, no interior do Estado de São Paulo.
Essa, no entanto, é uma missão quase impossível, uma vez que o advogado frequenta os palácios do Planalto e da Alvorada. Na véspera, Wassef foi presença notada na posse do ministro das Comunicações, o deputado federal Fabio Faria (PSD-RN), cargo negociado com o ‘Centrão’, um grupo venal de parlamentares dispostos a evitar um processo de impedimento do presidente, em troca de cargos públicos.
Capitão Adriano
Ainda segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, as ligações de Queiroz com a milícia também estão no centro das preocupações do governo. O ex-assessor de Flávio e Jair Bolsonaro era ligado ao chefe do Escritório do Crime — responsável por assassinatos e extorsões —, o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, também conhecido como Capitão Adriano, morto em fevereiro deste ano em confronto com policiais militares, na zona rural da cidade de Esplanada (BA). Ambos dividiam os serviços do mesmo advogado, Paulo Emílio Catta Preta.
A milícia comandada por Adriano também atua em grilagem de terra, agiotagem e pagamento de propina em Rio das Pedras e na Muzema, duas favelas de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Adriano da Nóbrega também “era peça-chave para revelar os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson”, segundo nota do partido PSOL, emitida por ocasião de sua morte.