Na entrada do Palácio do Alvorada, onde sempre para para cumprimentar eleitores e provocar os repórteres que cobrem a Presidência da República, Bolsonaro chamou a jovem ativista de "pirralha".
Por Redação, com agências internacionais - de Brasília e Nações Unidas, NY-EUA
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido) poderia evitar outra mancha em sua já desgastada imagem pública, no exterior. Mas criticou, nesta terça-feira, o espaço dado pela opinião pública à militante sueca Greta Thunberg, que respondeu com ironia. Bolsonaro a chamou de “pirralha” e ela, em seguida, mudou sua biografia no Twitter: "Pirralha".
Na entrada do Palácio do Alvorada, onde sempre para para cumprimentar eleitores e provocar os repórteres que cobrem a Presidência da República, Bolsonaro chamou a jovem ativista de "pirralha" ao ser questionado sobre o assassinato de dois indígenas da etnia guajajara, neste sábado, no interior do Maranhão.
Após a crítica do presidente neofascista, Greta inseriu a palavra "pirralha" na descrição do perfil oficial, no Twitter. Em agosto, a conta da ativista também foi alterada em uma resposta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Amazônia
Na época, ele ironizou a jovem e afirmou que ela parecida ser uma garota "muito feliz", referindo-se ao semblante sério dela. Após a declaração, a qualificação "muito feliz" foi incluída pela sueca em sua descrição.
A jovem militante denunciou, nas Nações Unidas, que as populações indígenas têm sido mortas no Brasil por proteger a floresta amazônica. Desde 2013, os guajajaras atuam para a repressão a crimes ambientais, em um grupo chamado "Guardiões da Floresta".
— Qual o nome daquela menina lá? De fora, lá? Greta. A Greta já falou que os índios morreram porque estavam defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Pirralha — agrediu Bolsonaro.
O mandatário diz que "qualquer morte preocupa” e que o governo federal busca cumprir a lei e reduzir o desmatamento ilegal. Entre agosto de 2018 e julho de 2019, no entanto, o Brasil bateu o recorde de devastação na Amazônia Legal, ao longo desta década.
— Preocupa, qualquer morte preocupa. Nós queremos cumprir a lei, somos contra o desmatamento ilegal, somos contra a queimada ilegal. Tudo que for contra a lei nós somos contra — afirmou.
Guajajara
Diante dos crimes cometidos, no Maranhão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, publicou portaria nesta terça-feira, na qual autoriza o envio da Força Nacional para a segurança de índios Guajajaras. A medida, porém, não inclui a reserva indígena que apresenta o maior número de invasões, roubos de madeira e caça ilegal. Trata-se da reserva Arariboia, com 413 mil hectares e 12 mil índios, que vive um clima de tensão e ameaças veladas desde o dia 1º de novembro, quando Paulo Paulino Guajajara foi morto com um tiro por um invasor.
O número de líderes indígenas que perderam a vida durante conflitos no campo desde janeiro de 2019 foi o maior em pelo menos 11 anos, informou a Comissão Pastoral da Terra (CPT). De acordo com os dados preliminares, foram registradas sete mortes neste ano, contra duas em 2018.
O balanço final só será conhecido em abril de 2020, mas inclui os dois indígenas Guajajara mortos no Maranhão, em Jenipapo dos Vieiras, no último fim de semana, e do ativista da etnia Tuyuca Humberto Peixoto Lemos que faleceu depois de ser agredido a pauladas. Segundo a coordenação nacional da CPT, citado pelo site "G1", o aumento no número de mortes está relacionado com um discurso de "violência institucionalizada" nos conflitos do campo.
Massacre
No total, 27 pessoas morreram em decorrência desse motivo durante todo o ano, sendo que sete eram líderes indígenas. A cifra é maior do que a registrada em 2018, quando aconteceram 28 mortes. Os dados são enviados pelas pastorais de cada região e dizem respeito apenas aos assassinatos ligados a conflitos por terra.
— Nós vivemos um momento em que o Estado é o agente promotor das agressões. Com todo esse momento político que a gente vive, os responsáveis pelas violências decidiram que esses povos indígenas não têm direitos e que têm que ser eliminados. Com isso, a gente está vendo um massacre — afirmou Paulo Moreira, coordenador da Pastoral da Terra.