A pressão feita por Bolsonaro é semelhante à que foi feita em cima dos três ministros anteriores a Queiroga: Eduardo Pazuello, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta. Pazuello foi obrigado a recuar do anúncio de que a pasta iria adquirir a vacina chinesa Coronavac.
Por Redação - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro (PL) enquadrou, nesta sexta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por discutir com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a possibilidade de adoção do passaporte vacinal enquanto ele se posicionava de forma contrária à iniciativa.
Bolsonaro afirmou que Queiroga havia se tornado “marqueteiro da vacina”, segundo apurou a revista semanal de ultradireita Veja. Pouco depois do encontro, na última terça-feira, o ministro incorporou a posição negacionista do chefe do Executivo e afirmou em entrevistas que era “melhor perder a vida do que a liberdade”.
Viajantes
A pressão feita por Bolsonaro é semelhante à que foi feita em cima dos três ministros anteriores a Queiroga: Eduardo Pazuello, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta. Pazuello foi obrigado a recuar do anúncio de que a pasta iria adquirir a vacina chinesa Coronavac. Já Nelson Teich pediu demissão do cargo após discordar do uso de remédios ineficazes contra a Covid-19, como a cloroquina e ivermectina, defendidos por Bolsonaro.
Mandetta também acabou caindo por defender o distanciamento social, o que vai de encontro à tese de imunidade de rebanho defendida pelo Planalto.
Na tentativa de melhorar seu relacionamento com o chefe imediato, Queiroga disse que a população não pode ser discriminada entre pessoas vacinadas e não vacinadas contra a covid-19. A declaração ocorreu apenas algumas horas após a publicação da portaria que estipula novas regras de entrada para viajantes brasileiros e estrangeiros ao Brasil.
Vacinados
De acordo com a portaria, serão exigidas, a partir de sábado, apresentação do comprovante de imunização contra a covid-19 e quarentena de 5 dias para viajantes não vacinados contra a doença. A medida, no entanto, foi adiada após um ataque hacker aos sistemas do SUS, nesta sexta-feira.
Segundo o ministro Marcelo Queiroga, a permissão de entrada de não vacinados garante que não haja “discriminação” de viajantes que não foram imunizados contra a doença.
— As pessoas não podem ser discriminadas entre vacinados e não vacinadas. É por isso que a portaria estabelece alternativas pra quem livremente optou por não aderir a uma política ou outra, e que é ofertada pelo Sistema Único de Saúde — afirmou o ministro.
Monitoramento
De acordo com a portaria, os viajantes não vacinados deverão informar os endereços de quarentena na Declaração de Saúde do Viajante (DSV), entregue à companhia aérea. Os dados serão encaminhados à unidade nacional do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEV) e, depois, enviados aos CIEVS de cada área de abrangência do país.
O texto não informa se o Ministério da Saúde fará um acompanhamento direto junto aos estados e municípios para garantir que os viajantes em quarentena cumprirão o isolamento da maneira adequada.
Questionado nesta quinta, o ministro Marcelo Queiroga disse que o rastreamento será feito de maneira tripartite.
— O SUS é tripartite. Nós temos estrutura de vigilância sanitária, as secretarias estaduais, as secretarias municipais. O Ministério da Saúde acompanha tudo, supervisiona tudo, dá as orientações — concluiu Queiroga.