Em mais uma declaração polêmica, o mandatário neofascista também atacou o pai da chefe de direitos humanos da ONU e disse que Michelle segue "a linha do Macron".
Por Redação, com Reuters - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, em suas redes sociais, que a chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, se intromete na soberania e nos assuntos internos do Brasil, após a ex-presidente do Chile apontar um aumento da violência policial e uma redução do espaço cívico e democrático no país. Na saída do Palácio da Alvorada, o mandatário reforçou a declaração falando que Michelle "está defendendo direitos humanos de vagabundos".
Segundo Bolsonaro, Bachelet segue a mesma linha do presidente da França, Emmanuel Macron, com quem o líder brasileiro travou um embate sobre questões ambientais em decorrência de críticas do mandatário francês sobre o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia.
“Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, escreveu Bolsonaro em publicação nas redes sociais.
“Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, acrescentou Bolsonaro, fazendo referência ao ano de início da ditadura militar chilena que governou o país com mão de ferro até 1990. O pai de Michelle foi morto durante a ditadura imposta por Augusto Pinochet.
As afirmações de Bolsonaro foram uma resposta a declarações dadas mais cedo nesta quarta-feira por Bachelet em entrevista coletiva em Genebra, em que a ex-presidente chilena apontou um aumento expressivo no número de mortes cometidas pela polícia no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente contra negros e moradores de favelas, além de uma “diminuição do espaço cívico e democrático” no país.
- Temos visto um aumento marcado na... violência policial em 2019 em meio a um discurso público que legimita execuções sumárias e a uma ausência de responsabilização. Também estamos preocupados com algumas medidas recentes como a desregulamentação das regras de armas de fogo, e propostas de reformas para reforçar o encarceramento e levando à superlotação de prisões, aumentando ainda mais as preocupações de segurança pública - disse.
- Obviamente, também é importante para nós quando ouvimos negações de crimes passados do Estado que se exemplificam com celebrações propostas do golpe militar, combinadas com um processo de transição jurídica que pode resultar em impunidade e reforçar a mensagem de que os agentes do Estado estão acima da lei e estão, na prática, autorizados a matar sem serem responsabilizados - completou.
Bachelet foi presidente do Chile em duas oportunidades, de 2014 a 2018 e de 2006 a 2010. Ela assumiu o posto de alta comissária da ONU para os Direitos Humanos em setembro do ano passado.
O pai de Michelle Bachelet, Augusto Bachelet, foi preso e torturado em fevereiro de 1974. Ele estava preso sob custódia pela acusação de traição à pátria. A filha foi presa e torturada um ano depois.
Repercussão nas redes sociais
Para o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), "mais uma vez Bolsonaro mostra sua baixeza moral ao exaltar assassinos, torturadores e ditadores". "Após ser criticado pela comissária da ONU para DH, Michelle Bachelet, o presidente atacou o pai da ex-presidente chilena, assassinado pela ditadura Pinochet", escreveu em seu perfil no Twitter.
A deputada federal Maria do Rosário também se manifestou nas redes sociais e escreveu que " o Brasil não pode ser governado por um repugnante. Por valores humanos essenciais é preciso expelir Bolsonaro. #Solidariedade Bachelet".