Foi anexado um e-mail enviado por Gutierrez aos ex-diretores, com orientações para que não fossem levadas, em reunião com Sérgio Rial, respostas a dúvidas sensíveis em relação ao endividamento da companhia.
Por Redação - do Rio de Janeiro
A Americanas divulgou, na manhã desta segunda-feira, um comunicado no qual diz ter ao menos três provas contra o ex-CEO Miguel Gutierrez, na fraude contábil bilionária na empresa. Os advogados da empresa anexaram aos autos um arquivo digitalizado com anotações de próprio punho de Miguel Gutierrez, localizadas em equipamento eletrônico da companhia por ele utilizado, em materiais que apontam a existência de duas versões dos demonstrativos da Americanas, uma de uso interno da antiga diretoria e outra destinada ao Conselho de Administração.
Foi anexado um e-mail enviado por Gutierrez aos ex-diretores, com orientações para que não fossem levadas, em reunião com Sérgio Rial, respostas a dúvidas sensíveis em relação ao endividamento da companhia. E, ainda, outro e-mail enviado pelo ex-CEO aos ex-Diretores envolvidos na fraude, pelo qual Miguel Gutierrez reclama do “mar de comentários”, referindo-se a diligentes questionamentos dos membros do Comitê de Auditoria, em linha com as boas práticas de governança recomendadas.”
A manifestação da empresa em recuperação judicial é uma resposta ao depoimento à CPI das Americanas encaminhado por Gutierrez, na semana passada. Nele, o ex-CEO sugere que os acionistas majoritários das Americanas, os chamados 3G (Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles) sabiam da fraude contábil bilionária na empresa.
Exposição
Na manifestação desta manhã, a Americanas diz que “reitera que o ex- dirigente da Americanas não apresentou contraprovas, em nenhum momento, para os documentos e fatos apresentados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no dia 13 de junho de 2023, que demonstram a sua participação na fraude”.
A empresa diz também “que foi a única parte a apresentar provas no âmbito do processo judicial e reitera a afirmação sobre a fraude e a responsabilidade direta do ex-CEO a partir da exposição de novas evidências apresentadas nesta manifestação”.
A Americanas afirma ainda que “foram identificadas várias contradições e mentiras nas alegações contidas na carta apresentada por Miguel Gutierrez” e as enumera.
“1) Miguel Gutierrez alega que a companhia passava por situação financeira difícil no segundo semestre, que precisaria de aporte de capital e que todos os órgãos da administração tinham ciência desse fato. Documentos apresentados ao Comitê Financeiro em 07/11/22, arquivados no portal de governança da companhia e já disponibilizados à CPI e demais autoridades, mostram de forma inequívoca que a antiga diretoria, liderada por Miguel Gutierrez, apresentou aos conselheiros visão de que a Americanas geraria R$ 500 milhões de caixa no 4o trimestre de 2022 e continuaria gerando caixa nos anos subsequentes, mantendo índice de endividamento financeiro saudável.
2) Outra argumentação sem fundamento apresentada é a de que os órgãos sociais deliberavam sobre questões estratégicas da Americanas sem conhecimento e participação do ex-CEO Miguel Gutierrez. Esta falsa afirmativa cai por terra diante de mensagem sobre ações do Comitê Financeiro, assim como de agendas de reuniões do Conselho, que mostram que o senhor Miguel Gutierrez era ativo na gestão da companhia, como é de se esperar de qualquer Presidente de empresa.”
Outro lado
Em nota ao canal norte-americano de TV CNN, a defesa de Gutierrez afirma que “mais uma vez, a atual administração da Americanas pinça documentos fora de contexto na tentativa de corroborar sua narrativa falsa e incomprovada de que Miguel Gutierrez teria participado de uma fraude”.
O executivo, por sua vez, afirmou, em depoimentos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em março, e à Polícia Federal (PF), em junho, que nenhuma decisão estratégica era tomada sem a anuência dos principais acionistas de referência da Americanas, notadamente Carlos Alberto Sicupira. À CPI que investiga o caso, Gutierrez já disse que a atual gestão da Americanas tenta blindar Sicupira, além de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles.