O Estado de São Paulo pode viver um colapso no sistema de saúde antes mesmo de conseguir massificar a vacinação contra a covid-19. Dados do governo de São Paulo mostram que, nos últimos dez dias, a ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) disparou em quase todas as 17 regiões.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
O Estado de São Paulo pode viver um colapso no sistema de saúde antes mesmo de conseguir massificar a vacinação contra a covid-19. Dados do governo de São Paulo mostram que, nos últimos dez dias, a ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) disparou em quase todas as 17 regiões do Estado. Onze regiões já têm situação de fase laranja e três de fase vermelha. Ontem (18), o secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que atualmente está mais difícil ampliar o número de leitos ou reabrir hospitais de campanha, porque não há profissionais suficientes para atender à demanda de atendimento. Sem ampliação de leitos e medidas mais rígidas de isolamento, a situação pode ficar insustentável em breve.
Uma das mais graves é a situação da região de Marília, que está na fase vermelha desde a última sexta-feira. No dia 8 de janeiro, quando foi feita a reclassificação ordinária do Plano São Paulo, que coordena a quarentena, a região tinha 75,8% de ocupação de UTI e foi colocada na fase laranja. Uma semana depois, teve de ser colocada na fase vermelha, de maior restrição à circulação e funcionamento do comércio, ao atingir 83,2% de ocupação de UTI. E ontem chegou a 87,5%. Um crescimento de quase 12 pontos percentuais em apenas 10 dias.
A situação é igualmente grave em Franca e Presidente Prudente. As duas regiões ainda estão na fase laranja, porque o governo de João Doria (PSDB) ainda não fez uma nova classificação. Mas já apresentam situação compatível com a fase vermelha. Em Franca, a ocupação de UTI saltou de 49,9% para 70,2%, em uma semana. Três dias depois chegou a 81,4%. Em Presidente Prudente, o salto foi um pouco menor: de 74,5%, no dia 8, para 81%, segunda-feira.
Marília e Presidente Prudente já apresentam os piores índices de novos casos, internações e mortes de toda a pandemia. Franca tem o pior índice de novos casos e um número de internações equivalente ao primeiro pico da pandemia.
Outras regiões ainda não atingiram índices de fase vermelha, mas também estão com um claro agravamento da pandemia nos últimos dez dias. A região de Bauru está com 79,3% de ocupação de UTI, quase na fase vermelha. Há 10 dias, o índice era de 66%. Igualmente preocupante está a região de Taubaté, que compreende o litoral norte de São Paulo. No dia 8 de janeiro, a ocupação de UTI era de 65,1%. Hoje é de 77,8%. Ambas as regiões também apresentam os piores índices de novos casos, internações e mortes de toda a pandemia. Os dois territórios estão na fase laranja desde a última sexta-feira.
Ocupação de UTI na capital
Já a capital paulista passou de 67% de ocupação de UTI, no dia 8, para 73,3% ontem, que deve levá-la da fase amarela para a fase laranja da quarentena. Apenas nos hospitais municipais há 1.233 pessoas internadas. Considerando a rede estadual, a privada e a filantrópica, são 2.990 pessoas internadas na cidade de São Paulo.
Na Grande São Paulo, que inclui a capital paulista, a taxa de ocupação de UTI subiu de 65,5% para 70,5%, índice de fase laranja. A situação é pior na sub-região Leste, que compreende as cidades de Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano. A ocupação de UTI chegou a 77% ontem. Na sub-região Norte, que compreende as cidades de Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã, a ocupação é de 69%. Nas outras sub-regiões, a ocupação é inferior a 67%.
A região de Campinas também teve piora no quadro e hoje apresenta índices compatíveis com a fase laranja. A ocupação de UTI foi de 67,3%, no dia 8, para 70,5%, ontem. Apesar do agravamento, a região ainda não superou a situação do primeiro pico da pandemia. Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Sorocaba, seguem apresentando índices de fase laranja. As demais regiões seguem na fase amarela, mas também apresentam aumentos significativos na ocupação de UTI.
Falta de ação de Doria
Para o médico infectologista Gerson Salvador, a aprovação da vacina CoronaVac, desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica Sinovac, e o início da vacinação são essenciais para superar a pandemia, mas não podem levar ao descuido das medidas de prevenção e isolamento social. “A gente tem que sobreviver até a população ser imunizada. Não dá para descontrolar, não dá para descuidar da vigilância. A vacina é uma condição necessária, mas ela deve ser associada às medidas de vigilância, de estímulo ao distanciamento”, afirmou.
Como a RBA mostra desde novembro, a situação já vinha dando sinais de piora ainda no final de outubro. Naquele momento, de eleições municipais, Doria disse que a situação estava sob controle. E adiou a reclassificação do Plano São Paulo, deixando o Estado 55 dias sem atualização da quarentena.
Um dia após as eleições Doria colocou todo o Estado na fase amarela, ação considerada insuficiente por especialistas em saúde. Além disso, facilitou a abertura de comércios, estendendo o horário de funcionamento. Apesar da continua piora no quadro, com escalada de aumento das internações e crescimento das mortes, Doria não ampliou o rigor da quarentena. Só em janeiro algumas regiões foram colocadas na fase laranja.
Ontem, o secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que o Estado teve a pior semana de toda a pandemia. No período de 10 a 16 de janeiro foram registrados 11.300 novos casos de covid-19 por dia, em média, no Estado. Na semana anterior, foram 10.366 casos por dia.
No caso das mortes causadas pela covid-19, houve aumento de 7% na última semana, em relação à semana anterior. Porém, na comparação entre a última semana do ano passado e a segunda deste ano, o aumento foi de 59%. A média de mortes diárias no Estado chegou a 227,7. E houve aumento de 12% nas internações por covid-19 em São Paulo. São 13.815 pessoas internadas, sendo 7.811 em enfermaria e 6.004 em UTI.