Ao todo, mais de 98% dos profissionais sindicalizados votaram a favor do indicativo de greve para os atores que trabalham com games, que inclui desde dubladores até responsáveis pela captura de movimentos.
Por Redação, com Canaltech - de Brasília
A greve que paralisou o cinema e a TV pode agora também chegar aos videogames. O sindicato dos atores (o SAG-AFTRA, na sigla em inglês) aprovou com ampla maioria o indicativo de greve para que profissionais que trabalham na indústria de jogos também cruzem os braços caso as negociações com os estúdios não avancem. E, como a gente viu em Hollywood, as reivindicações também envolvem pagamentos mais justos e proteção de empregos diante do avanço da inteligência artificial.
Ao todo, mais de 98% dos profissionais sindicalizados votaram a favor do indicativo de greve para os atores que trabalham com games, que inclui desde dubladores até responsáveis pela captura de movimentos.
Isso não quer dizer, porém, que eles vão parar de imediato. O indicativo, como o próprio nome diz, é uma sinalização feita às empresas de que, caso as conversas não avancem, os trabalhadores estão aptos a iniciarem o movimento grevista. Uma nova rodada de conversas deve acontecer na próxima semana na tentativa de chegar a um acordo.
O ponto é que as negociações entre o sindicato dos atores e as empresas de games estão em andamento desde o último mês de outubro de 2022 e, ao longo de quase um ano, as coisas parecem não ter avançado muito. Estúdios como Activision, Electronic Arts, Warner Games, Epic Games e outras se negam, conforme relata a união de trabalhadores, a aceitar termos considerados fundamentais pelos profissionais. Isso inclui, por exemplo, reajustes salariais alinhados com a inflação.
Outro ponto-chave de toda a discussão, assim como no caso do cinema e da TV, é a própria questão da inteligência artificial. O SAG-AFTRA exige que o contrato da categoria trago termos de proteção contra o uso abusivo e exploratório da tecnologia, o que pode acarretar na perda de empregos em um futuro não muito distante.
Uso da IA
A discussão sobre o uso da IA para substituir dubladores ou mesmo para sintetizar vozes já utilizadas previamente é algo que vem preocupando a categoria não apenas nos videogames, mas em todas as outras áreas. Contudo, os jogos chamam mais a atenção para o assunto porque já há exemplos de títulos que usam a inteligência artificial para dar vida a personagens. O recente Exoprimal, por exemplo, conta com um aliado cuja voz foi inteira criada artificialmente, o que gerou muita polêmica e discussão na época de seu lançamento.
Como greve pode impactar os jogos
Embora a greve dos atores de jogos ainda não tenha sido estabelecida, uma paralisação dos profissionais da área aos moldes do que vimos em Hollywood pode resultar em efeitos bem semelhantes àqueles que vimos no cinema e na TV, ou seja, jogos tendo que parar seu desenvolvimento e muitos lançamentos tendo que ser adiados.
Ao contrário do que sugere o senso comum, de que uma indústria focada em personagens digitais não depende tanto de atores para funcionar, a suspensão das atividades pimpacta diretamente a produção desses jogos. Os atores membros da SAG-AFTRA participam de diferentes etapas do processo de desenvolvimento, seja atuando de maneira tradicional para a captura de movimentos e das próprias expressões faciais, como na própria dublagem em si. Basta lembrar que os atores que interpretaram Joel e Ellie em The Last of Us, Troy Baker e Ashley Johnson, se tornaram celebridades justamente pelo seu trabalho nessa etapa da produção do jogo.
Assim, caso a greve realmente aconteça e a categoria pare, muitos estúdios teriam que segurar o desenvolvimento de seus jogos. Pense na quantidade de vozes e atuações necessárias para títulos futuros, como o tão aguardado Grand Theft Auto 6. Se o tal acordo não acontecer, a espera pela sequência pode demorar mais do que o esperado.
"Chega de joguinhos"
Diante da aprovação expressiva do sindicato pelo indicativo de greve, a presidente do SAG-AFTRA lembrou os estúdios como a categoria como um todo está descontente com a atual situação dos contratos de trabalho. "É hora das empresas de videogame pararem com os joguinhos e falar sério sobre um acordo", afirma a atriz Fran Drescher.
– O resultado dessa votação mostra como nossos membros enxergam essas negociações e que a hora é agora para que essas empresas, que fazem bilhões de dólares e pagamentos exagerados para seus CEOs, darem aos nossos atores um acordo que permita atuar nos jogos seja uma carreira viável.
https://www.terra.com.br/gameon/sindicato-aprova-indicativo-de-greve-dos-atores-tambem-nos-videogames,eea7029a098e1f095c7c80f48a926ac0fq4rw98o.html?utm_source=clipboard