Quinta, 18 de Fevereiro de 2021 às 10:31, por: CdB
Manifestações contra prisão de Pablo Hasél resultam em depredações, confrontos com a polícia e dezenas de detidos. Detenção do rapper reacendeu debate no país sobre limites do exercício da liberdade de expressão.
Por Redação, com DW - de Madri
Mais de 50 pessoas foram presas e dezenas ficaram feridas durante a segunda noite de protestos na Espanha contra a detenção do rapper Pablo Hasél, preso por insultos à monarquia e às forças de segurança e glorificação ao terrorismo.
Os protestos começaram pacificamente na noite de quarta-feira em dezenas de capitais de províncias espanholas e outras cidades na região da Catalunha, onde reside o rapper. Mas à medida que a noite avançava, os manifestantes se tornaram violentos, entraram em confronto com policiais, montaram barricadas improvisadas feitas de contêineres de lixo e chamas, além de depredarem lojas.
Em Madri, Barcelona e cidade menores, a polícia disparou balas de borracha e de espuma contra manifestantes armados com pedaços de madeira e que atiravam objetos contra as forças de segurança. Os manifestantes também usaram motocicletas scooters para bloquear as ruas.
Somente na capital espanhola, pelo menos 55 pessoas necessitaram de cuidados médicos, das quais 35 policiais. Alguns dos feridos eram apenas transeuntes, que não estavam participando dos protestos. Foram detidas 19 pessoas, incluindo seis menores de idade.
Em Barcelona, 29 manifestantes foram presos e pelo menos oito pessoas ficaram feridas e foram enviadas a hospitais. A autoridade de segurança local estimou que 2,2 mil manifestantes foram às ruas da capital catalã. Na noite anterior, um jovem manifestante perdeu um olho após ser atingido por um projétil de espuma usado pela polícia local para dispersas manifestantes.
Os manifestantes entoaram cânticos como "liberdade para Pablo Hasél" e "os Bourbons são ladrões" (em referência à Casa Real de Bourbon) e exibiram faixas com a frase "morte ao Estado fascista", pronunciada pelo rapper no momento da sua detenção.
Condenação prévia
Pablo Rivadulla Duró, conhecido como Pablo Hasél, foi preso na terça-feira dentro das dependências da Universidade de Lleida, onde se refugiou com dezenas de jovens apoiadores na tentativa de impedir sua detenção.
Posteriormente, Hasél foi transferido para a prisão de Ponent, em Lleida, para cumprir a pena de nove meses que lhe foi imposta pelo Tribunal Nacional em 2018 por glorificar o terrorismo, elogiar a organização nacionalista basca ETA (Pátria Basca e Liberdade) e a organização terrorista espanhola GRAPO (Grupos de Resistencia Antifascista Primero de Octubre) no Twitter.
Em 2014, o rapper já havia sido condenado a dois anos de prisão por glorificar o terrorismo em canções que clamavam pela morte da família real ou elogiar grupos extremistas responsáveis por atentados violentos, além de ter invadido instalações privadas. Havia contra ele também acusações de agressão. Na ocasião, a prisão não foi executada porque Hasél não tinha antecedentes e porque a pena não ultrapassava dois anos.
Hasél e seus apoiadores dizem que a sentença de nove meses de prisão, por escrever uma canção crítica sobre o antigo rei Juan Carlos e por dezenas de tuítes que a Justiça espanhola considerou glorificar alguns dos grupos terroristas extintos no país, viola o direito à liberdade de expressão.
Ala do governo não condena violência
A situação jurídica atraiu considerável atenção porque a detenção de Hasél segue uma série de condenações de outros artistas e personalidades nas redes sociais julgadas por violações da Lei de Segurança Pública da Espanha de 2015, que foi promulgada pelo então governo conservador e recebeu críticas de organizações dos direitos humanos.
O atual governo, formado por uma coalizão de esquerda, quer mudar o código penal da Espanha para eliminar as penas de prisão para crimes que envolvem liberdade de expressão, especialmente quando se trata da forma de expressão artística.
Os motins resultaram numa nova tempestade política no país, especialmente com críticas ao parceiro minoritário da coalizão de governo, a coligação de esquerda radical Unidas Podemos, por não externar uma forte condenação à violência nas ruas. As críticas vieram tanto da ala governista quanto da oposição.
A vice-presidente do governo da Espanha, Carmen Calvo, membro dos socialistas de centro-esquerda que lideram a coalizão governista, criticou o porta-voz da Unidas Podemos, Pablo Echenique, por mostrar em uma mensagem apoio aos "manifestantes antifascistas que lutam pela liberdade de expressão".