Com as atividades suspensas no órgão que deveria liderar a reforma agrária no país, Bolsonaro disse, no último domingo, que irá pedir a liberação de verbas para que o órgão retome as atividades. Conceição, do MST, desconfia do interesse do presidente.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) considera que a paralisação das atividades do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) é um "presente" do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) aos latifundiários e que a suspensão das atividades é "o fim da reforma agrária no país". Em entrevista ao Brasil de Fato, Alexandre Conceição, da direção nacional do MST, disse que o movimento considera a suspensão das ações do Incra por falta de recursos "mais uma triste notícia, mas é o que a gente já vinha constatando e denunciando ao longo do governo Jair Bolsonaro". "Agora, o Incra, completamente sem orçamento, paralisa suas atividades. O que o governo quer, na verdade, é destruir a reforma agrária, com a paralisação da reforma agrária, com um programa de titulação que visa a precarização dos assentamentos e da vida dos assentados, além da proibição da titulação coletiva, que é pelo o que nós, dos movimentos, lutamos", afirmou. Com as atividades suspensas no órgão que deveria liderar a reforma agrária no país, Bolsonaro disse, no último domingo, que irá pedir a liberação de verbas para que o órgão retome as atividades. Conceição, do MST, desconfia do interesse do presidente. – O governo Jair Bolsonaro tenta, mais uma vez, destruir e perseguir os assentados da reforma agrária, responsável pela produção de alimentos nesse país. O que está em jogo é que as áreas de assentamentos da reforma agrária estão sendo atacadas pelo governo Bolsonaro e pelos latifundiários, que cuidam dessa parte fundiária no governo dele – disse. – Eles querem, com esse programa de titulação, entregar 20% das áreas de reserva dos assentamentos para os governos do estados, 10% da área da área comunitária e coletiva para as prefeituras, e a titulação privada individualizada dos lotes. Sem a política pública, sem investimento, fatalmente esses lotes de reforma agrária vão acabar se concentrando na mão dos grandes latifúndios. Por isso, nós precisamos derrotar as ideias e, sobretudo, o governo de Jair Bolsonaro – concluiu. No domingo, Bolsonaro se manifestou sobre o tema. "Vou ver se acerto com o Paulo Guedes esta semana, precisamos de mais recurso. Porque custa dinheiro você mandar o pessoal para as áreas, trabalhar, emitir o respectivo título de propriedade. E isso não pode parar", disse à imprensa na Praça dos Três Poderes. "E estou pronto, vou falar com Paulo Guedes (para que), se não tiver recurso, cortar de algum ministério". A preocupação do capitão reformado são as emissões de títulos de propriedade a antigos assentados, que se tornaram uma política em seu governo, em detrimento do desenvolvimento da reforma agrária no país.