A iniciativa provocou incômodo no governo Meloni, que acusa as ONGs do Mediterrâneo de agirem como "fator de atração" para imigrantes e refugiados, embora elas sejam responsáveis por menos de 10% dos deslocados internacionais que chegam ao país por via marítima.
Por Redação, com ANSA - de Roma
A premiê da Itália, Giorgia Meloni, enviou uma carta ao chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, para protestar contra a decisão de Berlim de financiar uma ONG que realiza operações de resgate no Mediterrâneo.
Cerca de 790 mil euros (R$ 4,15 milhões) serão repassados pelo governo alemão para a entidade humanitária SOS Humanity, no âmbito de um programa de 2 milhões de euros (R$ 10,5 milhões) que também apoiará projetos de acolhimento a deslocados internacionais na Itália.
A iniciativa provocou incômodo no governo Meloni, que acusa as ONGs do Mediterrâneo de agirem como "fator de atração" para imigrantes e refugiados, embora elas sejam responsáveis por menos de 10% dos deslocados internacionais que chegam ao país por via marítima.
– Fiquei surpresa ao saber que seu governo, de forma não coordenada com o governo italiano, teria decidido apoiar com recursos relevantes organizações não governamentais que atuam no acolhimento a migrantes irregulares em território italiano e em socorros no Mar Mediterrâneo. Ambas as possibilidades suscitam interrogações – diz a carta de Meloni para Scholz.
O documento é datado de 23 de setembro e também afirma que "é lícito se perguntar" se repasses para ONGs de acolhimento não devem ser voltados a projetos "em território alemão, em vez da Itália".
– É amplamente conhecido que a presença no mar de embarcações de ONGs tem um efeito direto de multiplicação das partidas de embarcações precárias, que resulta não apenas em um fardo adicional para a Itália, mas, ao mesmo tempo, aumenta o risco de novas tragédias no mar – acrescenta a premiê.
ONGs do Mediterrâneo
O governo italiano já instituiu no início do ano um decreto que limitou as atividades de ONGs do Mediterrâneo, que agora só podem realizar um resgate por missão e frequentemente são orientadas a levar os náufragos para portos distantes, reduzindo seu tempo nas áreas mais críticas.
Mesmo assim assim, o número de chegadas à Itália segue em alta e já totaliza 133 mil em 2023, quase o dobro do mesmo período do ano passado.
Em sua carta a Scholz, Meloni ainda ressalta que a União Europeia deveria se concentrar em "soluções estruturais" para resolver a crise migratória, "trabalhando em iniciativas com os países de trânsito na margem sul do Mediterrâneo".
A premiê também diz estar disposta a conversar sobre o assunto pessoalmente na próxima cúpula da Comunidade Política Europeia (CPE), em Granada, na Espanha, entre 5 e 6 de outubro.