Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Investimentos no agronegócio geram distorções, alertam especialistas

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Segunda, 04 de Março de 2024 às 15:39, por: CdB

O agro também é financeiro. E essa financeirização vem crescendo, apoiada no aumento do interesse de investidores da cidade nos ganhos do setor e na vontade de agropecuaristas de ampliar cada vez mais seus negócios.

Por Redação, com BdF - de Brasília
Investir no agronegócio brasileiro já não significa necessariamente comprar terras, sementes ou cabeças de gado. Atualmente, pode ser aplicar parte de uma poupança em títulos financeiros e colher rendimentos algum tempo depois.
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A soja, hoje, é muito mais do que apenas uma leguminosa. Transformou-se em ações em bolsa
O agro também é financeiro. E essa financeirização vem crescendo, apoiada no aumento do interesse de investidores da cidade nos ganhos do setor e na vontade de agropecuaristas de ampliar cada vez mais seus negócios. De acordo com o Ministério da Agricultura, o patrimônio total de instrumentos financeiros privados voltados ao apoio ao agro mais que dobrou em dois anos. No final de 2021, eles somavam R$ 383 bilhões. Ao final de 2023, já eram R$ 953 bilhões. O valor é quase três vezes o montante de financiamento prometido no Plano Safra 2023/2024, principal fonte de apoio do governo ao agronegócio.  

Financiamento

O estoque de investimento financeiro privado no agro inclui cédulas de produto rural (CPRs), letras de crédito do agronegócio (LCAs), certificado de direitos creditórios do agronegócio (CDCAs), certificado de recebíveis do agronegócio (CRA) e o saldo dos Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros). Todos esses instrumentos nasceram, em tese, para reduzir a dependência do agronegócio do financiamento público. Segundo especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, não alcançaram completamente seu objetivo. Além disso, agravaram problemas já existentes na forma de produção do agronegócio e ainda criaram novos. — Os instrumentos financeiros que não resolvem o problema da oferta de crédito e ainda têm um impacto brutal na estrutura agrária — alerta Gerson Teixeira, engenheiro agrônomo e diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).  

Restrições

Teixeira alertou, principalmente, sobre os efeitos dos Fiagros no campo. Esse tipo de fundo pode, entre outras coisas, usar dinheiro de investidores para comprar terras no Brasil. Esses territórios podem ser arrendados, e o valor recebido serve para remunerar os investidores do fundo. Teixeira falou que, por meio de Fiagro, estrangeiros podem driblar restrições legais e adquirir terras no Brasil. — Um estrangeiro pode comprar terras em área de fronteira por meio de um Fiagro, algo que não é permitido fora do fundo. Há uma flexibilização excessiva da legislação — observa o engenheiro. Já Diego Moreira, da coordenação nacional do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reforça as críticas à financeirização do agro no Brasil. Ele lembra que todos os instrumentos surgiram para tornar o setor "independente" do Plano Safra, o que liberaria recursos públicos para apoio a agricultura familiar, na teoria. Na prática, isso não aconteceu. O agro tem um programa de financiamento cerca de cinco vezes maior do que a agricultura familiar: R$ 364 bilhões do Plano Safra contra R$ 77 bilhões do Plano Safra da Agricultura Familiar. Moreira reclamou ainda que parte do que deveria chegar aos agricultores familiares não chega. — Dos assentados do MST, 10% acessaram os recursos — resumiu.
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