Invasão da Ucrânia – Será o fim definitivo da Pax Americana?

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Publicado sábado, 26 de fevereiro de 2022 as 19:28, por: CdB

A pax americana foi o estabelecimento da atual ordem internacional após o fim da 2ª Guerra Mundial. A criação da ONU e outros órgãos multilaterais veio junto com a ideia de que as superpotências – EUA e URSS à época – não deveriam enfrentar-se diretamente.

Por David Emanuel Coelho
Invasão da Ucrania: de quem é a culpa?
Não que houvesse paz de fato, bem sabemos. Os conflitos não aconteciam diretamente no centro, mas indiretamente na periferia, como atestam as guerras do Vietnã e as intervenções estadunidenses na América Latina.
Contudo, a regra era não haver ações militares no coração do sistema econômico e político mundial, ou seja, no hemisfério norte.
Mesmo após o fim da União Soviética, a lógica desta pactuação pós-guerra manteve-se em pé. As guerras aconteciam na periferia – Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, etc –, nunca no centro.
Tudo parece desmoronar agora. E aqui a responsabilidade é dos EUA, pois este país avançou agressivamente sobre as antigas nações soviéticas, aproximando-se perigosamente do território russo com sua Otan.
Em resposta, a Rússia também iniciou processo de avanço sobre regiões historicamente dominadas pelos ianques, estabelecendo alianças com a Venezuela, a Nicarágua e países da África. Mas estes avanços nem de perto equivalem-se à audácia estadunidense de tentar transformar a Ucrânia em membro de sua aliança militar.
Ironicamente, foram os próprios EUA que avançaram para quebrar a ordem do pós-guerra.
Os europeus tentaram ao máximo contemporizar, até por dependerem enormemente do gás russo, mas Biden manteve-se impassível e fez o máximo para dinamitar soluções diplomáticas com Moscou, optando pela via belicosa de sanções e do não-recuo na decisão de transformar a Ucrânia em mais uma parte de seu terreiro.
De modo sintomático, a ação russa na Ucrânia começou exatamente no momento em que transcorria uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para tentar solucionar a crise. Putin deu uma afrontosa banana para o órgão multilateral, levando a guerra  para o coração da Europa pela primeira vez desde 1945.
Não foi novidade. Na guerra do Iraque, Bush já havia ignorado a ONU em sua invasão. Mas é a primeira vez que uma outra potência mundial repete o ato e isto acende um grande sinal de alerta, pois coloca em cena a possibilidade de um conflito direto entre as grandes forças militares do planeta.
Putin não iguala o mestre, mas blitzkriegs sabe lançar

A erosão dos órgãos multilaterais e as crescentes escaramuças entre Rússia, China e EUA podem prenunciar a entrada do mundo num período histórico delicado e trágico. Será o fim definitivo da pax americana?

Por David Emanuel Coelho, jornalista, professor de Filosofia, colaborador do blog Náufrago da Utopia,
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.

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