A abertura coube à Imperatriz Leopoldinense, da carnavalesca Rosa Magalhães, com o enredo ‘Meninos eu vivi... Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine!’. É uma homenagem a Arlindo Rodrigues, carnavalesco que levou a Imperatriz ao primeiro campeonato, em 1980.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
Quando a sirene tocou e o portão se abriu, a elite do carnaval voltou a se exibir na Marquês de Sapucaí, na noite desta sexta-feira, após dois anos afastada do templo do samba. A apresentação das seis primeiras escolas do Grupo Especial começou pontualmente às 22h.
A abertura coube à Imperatriz Leopoldinense, da carnavalesca Rosa Magalhães, com o enredo ‘Meninos eu vivi... Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine!’. É uma homenagem a Arlindo Rodrigues, carnavalesco que levou a Imperatriz ao primeiro campeonato, em 1980.
Como já é tradição, a força do carnaval de Rosa está nos detalhes dos carros-alegóricos e das fantasias, tudo construído com muita perfeição e técnica.
Primeiro dia
A comissão de frente apresentou, como tripé, uma locomotiva e um vagão ladeado por espelhos. Em cima do Trem das Lembranças, vieram integrantes representando Lamartine Babo, enredo de 1981, quando a Imperatriz conquistou seu segundo título, e Dalva de Oliveira, homenageada no último carnaval de Arlindo, em 1987.
Entre o casal de mestre-sala e porta-bandeiras e a primeira ala, a escola trouxe um tripé com uma enorme escultura móvel de Arlindo, que aplaudia a entrada da agremiação. As alas e alegorias também fizeram referências aos carnavais que ele preparou para o Salgueiro, onde ele conquistou cinco títulos entre as décadas de 60 e 70, e para a Mocidade, onde foi campeão em 1979.
Em seguida, foi a vez da Mangueira, que este ano homenageou três grandes personalidades da escola: Jamelão, Delegado e Cartola. O desenvolvimento do enredo Angenor, José e Laurindo coube, mais uma vez, a Leandro Vieira. Ao entrar na avenida, a Mangueira levantou grande parte do público nas arquibancadas. A comissão de frente inovou com uma troca de roupas relâmpago. Em segundos, os dançarinos trocaram suas vestimentas nas cores preta, branca e cinza por ternos verde-rosas.
Verde-rosa
A Mangueira do passado foi lembrada no carro abre-alas, Teu Cenário é Poesia, que trouxe esculturas caricaturais dos três artistas e o sambista Serginho do Pandeiro, fazendo as tradicionais acrobacias com seu instrumento musical.
Durante o desfile, o intérprete principal, Marquinho Art’Samba, passou mal e teve que ser atendido pelo Corpo de Bombeiros. Apesar disso, a verde e rosa movimentou as arquibancadas com muitos aplausos diante das exibições da comissão de frente e do casal de mestre-sala e porta bandeira.
Terceira escola a pisar na avenida, o Salgueiro, do carnavalesco Alex de Souza, propôs uma reflexão sobre o legado dos africanos escravizados para o país, com o enredo Resistência.
A escola passeou pelos diferentes aspectos da cultura negra no Rio de Janeiro, como o candomblé, a umbanda, o pagode, o jongo, o funk e a capoeira, e pelos locais onde essas manifestações resistem, como os terreiros, a Pedra do Sal, o Cacique de Ramos e o Viaduto de Madureira.
Problemas
A comissão de frente apresentou a dança dos heróis negros, com bailarinos pintados de bronze, como se fossem esculturas que merecem estar em destaque em locais públicos da cidade, como Xica Da Silva, Ruth De Souza, Machado de Assis e André Rebouças. O tripé apresentou ainda efeitos de fumaça e areia.
Uma ala de bailarinas chamou a atenção no desfile. Era uma homenagem a Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra brasileira, que marcou sua participação na história da escola. Para representar Mercedes, quem estava na avenida era Ingrid Silva, também bailarina negra, integrante do Dance Theatre of Harlem, de Nova York.
Uma alegoria que também teve destaque foi a Black Carioca que simbolizava o conhecido Baile Charme embaixo do viaduto Negrão de Lima, em Madureira, na zona norte. O funk também foi representado neste setor do desfile. O último carro, a Resistência Continua questionou o racismo e a violência contra a população negra.
Quarta escola a ocupar a Sapucaí, a São Clemente apostou em uma homenagem ao humorista Paulo Gustavo, morto por covid-19 no ano passado. Com o enredo Minha vida é uma peça, o carnavalesco Tiago Martins lembrou do ator com saudades, mas sem tristeza, fazendo a arquibancada vibrar com as passagens do ídolo da comédia.
Homenagem
No início do desfile, a escola teve problemas para acoplar as duas partes do carro abre-alas.
O que também apresentou problemas foi o tripé da comissão de frente, um imenso camarim, suas luzes não se acenderam e ele ficou parado por alguns minutos na avenida, antes de chegar até a cabine dos jurados.
A comissão trouxe drag queens com vestidos nas cores do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQI+. Na apresentação aos jurados, as drags subiram no tripé e parte delas foi substituída por integrantes vestidos como Dona Hermínia famosa personagem do humorista. Uma cortina se abriu para revelar a mãe de Paulo, Déa Lúcia, sentada em um sofá amarelo.
Dona Hermínia também foi lembrada na fantasia da bateria e em uma das alegorias. Apesar dos problemas, a escola conseguiu terminar o desfile dentro do tempo limite.
Em seguida, foi a vez da Viradouro, atual campeã, que busca seu terceiro título. O enredo foi o carnaval de 1919, após a pandemia da gripe espanhola, que matou milhões pelo mundo, com o enredo Não há tristeza que possa suportar tanta alegria, dos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon.
A Viradouro levou alegorias e alas com fantasias representando blocos e figuras carnavalescas. A plateia vibrou com a apresentação da bateria que tem à frente Mestre Ciça. Em vários momentos durante o desfile e, em especial, diante das cabines dos jurados, os ritmistas se abaixavam e no meio deles surgiam cinco ritmistas que faziam a marcação com pratos metálicos.
Escrevivências
A responsabilidade de fechar o primeiro dia coube à Beija-Flor de Nilópolis, com um tema falando da cultura negra na formação do povo brasileiro, com o enredo Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor, desenvolvido por Alexandre Louzada.
O desfile teve início com a utilização das cores pretas e azul intenso com um abre alas que se dividia em três partes. Na da frente tinha um beija-flor, símbolo da escola. Mas já no segundo carro começaram as dificuldades, por não conseguir colocar todos os destaques em cima da alegoria, o carro ficou parado ainda na concentração antes de virar para a avenida.
Com a desistência de incluir todos os destaques, o carro finalmente foi movimentado, mas já tinha causado transtornos na harmonia da escola, com um buraco entre as alas.
O outro que ficou emperrado na concentração foi o quarto carro chamado de Escrevivências que mostrava uma favela com muitos livros. Depois de resolvido o problema, o carro entrou na avenida e seguiu o desfile até o fim. A escola terminou o desfile já com o sol raiando no horizonte.