O fato que desenha o cenário desses últimos momentos de campanha até o dia 30, é a divisão da nação quase que meio a meio. Uma divisão que não se superará com a proclamação dos resultados do pleito.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
A menos de duas semanas do segundo turno, pesquisas eleitorais convergem, mesmo ressalvando diferenças metodológicas entre elas, no sentido de uma vitória de um dos candidatos (provavelmente Lula) por pequena margem. Talvez números semelhantes à vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, que se deu por cerca de 3 milhões e quinhentos mil votos. E daqui até o dia 30, a temperatura da disputa tende a esquentar mais ainda do que já está. O discurso se radicaliza em ambas as campanhas. Acusações mútuas se sobrepõem à apresentação de propostas concretas para livrar o país da crise. Mesmo da parte da campanha de Lula, ainda que no discurso do ex-presidente e nas peças publicitárias veiculadas na TV e nos meios digitais haja espaço para a defesa do legado dos seus governos passados e de alternativas a alguns dos problemas mais sentidos pela população.O rebaixamento do debate
Nas hostes ensandecidas e radicalizadas de Bolsonaro, nenhum constrangimento. O rebaixamento do debate e a profusão de fake news é da essência do seu projeto político. No âmbito da amplíssima frente popular e democrática reunida em torno de Lula, se procura valorizar o discurso propositivo e, ao mesmo tempo, registra-se o debate quanto a questões essenciais ainda não explicitadas, como a política monetária e cambial e o financiamento da retomada do crescimento econômico com base em grandes investimentos estatais em infraestrutura. O fato, entretanto, que desenha o cenário desses últimos momentos de campanha até o dia 30, é a divisão da nação quase que meio a meio. Uma divisão que não se superará com a proclamação dos resultados do pleito, seguirá adiante como subproduto de um cenário internacional e brasileiro ainda muito adverso às forças progressistas. A feição das maiorias parlamentares no Senado e na Câmara, recém eleitas, e mesmo dos governadores já vitoriosos em primeiro turno, expressa o peso do conservadorismo e ressalta a dimensão da luta democrática em terreno minado. Donde se deduz que, na melhor hipótese, que é a vitória de Lula, o novo governo terá de enfrentar enormes desafios — seja pela natureza dos problemas estruturais e imediatos acumulados, seja pela complexa convivência com um parlamento hostil e mesmo com a disputa de rumos no interior da própria coalizão governista. No momento pós-eleição, período de transição e montagem do novo governo, o exercício da amplitude e da flexibilidade, em conexão com a firmeza de propósitos, terá que se elevar mais ainda para assegurar a governabilidade.Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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