Após semanas de violentos protestos em Paris, presidente retrocede ao menos temporariamente sobre aumento de impostos aos combustíveis e anuncia medidas para tentar apaziguar manifestações, as mais violentas em décadas.
Por Redação, com DW - de Paris
A França suspendeu nesta terça-feira, ao menos temporariamente, o aumento dos impostos sobre os combustíveis, que foi o estopim dos protestos de rua que acabaram se transformando em manifestações de massa contra o governo do presidente Emmanuel Macron. Após um dia de reuniões entre o governo e líderes de todos os partidos políticos do país, o primeiro-ministro Édouard Philippe anunciou a suspensão, que virá acompanhada de outras medidas para melhorar o padrão de vida das camadas mais baixas da sociedade. Esta é a primeira vez que Macron cede sobre uma decisão importante desde que assumiu o cargo, em 2017. Considerados os mais violentos em décadas em Paris, os protestos começaram no dia 17 de novembro, com motoristas irritados com um aumento dos impostos, e ganharam dimensões maiores, passando a incorporar queixas sobre o que seria um descaso de Macron para com os problemas das pessoas comuns e sobre suas políticas, que, segundo os manifestantes, beneficiam apenas os mais ricos. O centrista de 40 anos se elegeu em maio do ano passado com uma plataforma política favorável ao setor de negócios, que incluía medidas para incentivar as empresas a gerar empregos. Após assumir o cargo, Macron promoveu cortes nos impostos sobre os empresários e pessoas de renda mais alta. Os chamados protestos dos "coletes amarelos" também denunciam aumentos nos gastos domésticos gerado pelo imposto sobre o diesel, que Macron justifica como sendo necessário para o combate ao aquecimento global e proteção do meio ambiente. O nome pelo qual as manifestações ficaram conhecidas se refere ao colete fluorescente de sinalização que os motoristas possuem em seus veículos. No terceiro fim de semana consecutivo de protestos em Paris, as ações dos manifestantes se tornaram ainda mais violentas, com carros queimados nas ruas e lojas saqueadas. O famoso Arco do triunfo na avenida Champs-Élysées foi pichado com frases antigoverno. Os protestos deixaram quatro mortos, incluindo uma mulher de 80 anos que morreu no hospital no domingo após ser atingida por um tubo de gás lacrimogêneo em Marselha. Em Paris, a polícia informou que 412 pessoas foram presas durante as manifestações no sábado. Mais de 360 ainda estão sob custódia. Na capital, mais de 100 pessoas ficaram feridas. Na segunda-feira, manifestações ocorreram em centenas de escolas em toda a França, que foram parcialmente ou totalmente bloqueadas por estudantes em protesto contra as reformas do acesso às universidades. Édouard Philippe planejava se reunir nesta segunda-feira com representantes dos coletes amarelos, mas estes alegaram motivos de segurança para não participar das negociações. Segundo Jacline Mouraud e Benjamin Cauchy, dois dos líderes do grupo moderado, eles foram ameaçados de represálias por manifestantes radicais se iniciassem o diálogo com o governo. É improvável que o anúncio de Philippe resulte no fim dos protestos. "É um primeiro passo, mas não vamos nos contentar com migalhas", afirmou Cauchy.