Economistas respeitados na academia e fora dela, a exemplo de André Lara Resende — que integrou o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) — e Luiz Carlos Bresser-Pereira, editor da prestigiada Revista Brasileira de Economia Política, têm alertado à autoridade monetária que a taxa oficial de juros (Selic), em 13,75%, está errada.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
Escolhido a dedo pelo ex-ministro da Economia no governo passado, o empresário ultraneoliberal Paulo Guedes, o presidente do Banco Central (BC) — com mandato que o garante no cargo até o ano que vem — tem sido aconselhado a compreender que os tempos mudaram. O modelo econômico de seu padrinho político foi derrotado, nas urnas, e não houve golpe de Estado para restaurá-lo.
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Ex-ministro do governo FHC, o banqueiro André Lara Resende critica os altos juros determinados pelo BC[/caption]
Economistas respeitados na academia e fora dela, a exemplo de André Lara Resende — que integrou o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) — e Luiz Carlos Bresser-Pereira, editor da prestigiada
Revista Brasileira de Economia Política, têm alertado à autoridade monetária que a taxa oficial de juros (Selic), em 13,75%, está errada.
Deflação
“Claramente”, disse Resende a jornalistas, “essa taxa de juros de 13,75%, é incompatível com esses objetivos. Ela está errada”. O economista, um dos idealizadores do Plano Real, foi diretor do BC e agora integra a Comissão de Estudos Estratégicos do BNDES.
— A taxa de juros básica hoje de 13.75% (…) está profundamente errada. Assim como acho que a taxa muito baixa, abaixo de 3% também estava errada. Porque o mercado financeiro não deve sofrer mudanças bruscas de direção. Então a condução da política monetária deve ser suave, com direcionamento e previsibilidade. Essa taxa hoje é muito alta — sublinhou.
Conforme observou Resende, “no mundo hoje todos os países avançados têm taxas de juros real, ou seja, a taxa nominal reduzida à taxa de inflação negativa”.
— Ainda que esteja todas subindo, todas as taxas nominais estão em processo de ajuste para cima, porque se saiu de um período de deflação para um período de recuperação, em todo o mundo as taxas estão subindo, mas continuam negativas — observou.
Neoliberais
O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, por sua vez, aproxima-se de um ponto ainda mais central na discussão sobre o comportamento do BC, diante de um novo paradigma econômico. Em recente entrevista à mídia não hegemônica, Bresser-Pereira foi enfático ao declarar que a chamada ‘independência’ do Banco Central não passa de um “truque ideológico dos neoliberais”.
O economista aprova as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Roberto Campos Neto e à taxa básica de juros. Segundo o economista, o crescimento econômico encontra-se impedido nas condições atuais.
— Banco Central independente é propaganda neoliberal. Nos Estados Unidos, que é o centro do neoliberalismo, não há isto. Onde houve isto, e continua havendo até um certo ponto é na Europa. Quando eles criaram o euro, eles criaram também o Banco Central Europeu e fizeram um Banco Central independente. Inclusive, eles tiveram um problema: tornar independente de quem? Eles ficaram sem um governo Executivo, só tem o Parlamento, mas o governo eles não tinham para isso. E o resultado foi um desastre. Quando houve a crise do euro em 2010, a Europa quase quebrou. Os países do Sul da Europa quase quebraram porque o presidente do Banco Central era um imbecil — disse Bresser-Pereira.
Bresser-Pereira lembra, ainda, que depois de demitido o presidente, seu sucessor, Mauro Draghi, “entendeu que aquilo era absurdo e resolveu garantir o financiamento dos países que estavam sendo vítimas de especulação financeira”.
— E aí então, pelo menos a crise financeira parou. Depois tinha ainda a crise econômica para resolver. Então, isso não faz sentido. Claro que é importante que o Banco Central tenha uma relativa autonomia, e isso é muito bom. E nós tivemos isso durante muitos anos e funcionava muito bem. Não havia nenhuma necessidade da aprovação de um mandato fixo para o presidente do Banco Central. Isso está criando realmente uma situação muito desagradável — acrescentou.
Comandante
Segundo o economista, o fato de o presidente Lula abordar agora essa questão demonstra a urgência dessas mudanças para liberar o crescimento do país.
— Ele é o comandante da nação. Ele tem um programa de governo, ele tem uma responsabilidade perante a sociedade brasileira. Então, ele tem que falar forte e firme. Ele não pode ficar tentando mostrar as coisas devagarzinho, ‘vamos com calma’. Nada disso, quando é uma coisa tão grave quanto essa, é papel dele fazer o que está fazendo, com a coragem que lhe é própria. Vamos ver o que acontece mais à frente com isto — concluiu.