Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 2024

Youtuber texano filma PM paulista em ação e vídeo viraliza

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Domingo, 30 de Junho de 2024 às 13:31, por: Rui Martins

A frase é antológica: “bandido bom é bandido morto”. Mas quem é pobre ou negro numa favela se torna automaticamente suspeito, podendo ser agredido, ameaçado e exposto à humilhação pública até no YouTube, mesmo sendo inocente.

Por Rui Martins

A PM paulista parece orgulhosa de suas açõesSerá esse o credo e o modo de funcionamento da Polícia Militar de São Paulo, autorizados pelo secretário da segurança Guilherme Derrite, que vem ganhando ao mesmo tempo popularidade e rejeição, com a banalização da violência e morte no combate ao banditismo, desde os massacres nas favelas do Guarujá?

É com esse estilo de repressão policial que o governador Tarcísio de Freitas pretende ganhar apoio e popularidade para disputar a presidência em 2026?

Essas perguntas afloram diante do vídeo gravado por um youtuber norte-americano, o texano Gen Kimura, dentro de uma viatura da Polícia Militar e nas favelas paulistanas, mostrando os policiais em ação. Não se tratava de um jornalista norte-americano em reportagem.

É um absurdo terem sido dados ao youtuber um colete à prova de balas e até um revólver para documentar, como um visitante curioso, o combate “mesmo num domingo sangrento” dos valentes policiais.

O vídeo de uns 40 minutos já foi visto por mais de 1,6 milhão nos Estados Unidos, no canal de Gen Kimura com 383 mil inscritos. O vídeo foi filmado durante ações da PM em três favelas e o youtuber Gen Kimura teve acesso ao depósito de armamentos da PM, chegando a ser filmado com um revólver na mão. No Brasil, trechos do vídeo viralizaram nos noticiários e nas redes sociais.

Outro aspecto escandaloso da filmagem permitida e protegida por policiais foi colocar pessoas pobres inocentes ou suspeitas numa espécie de pelourinho num parque de diversões, mesmo porque para o youtuber Gen Kimura, sempre sorrindo, tudo parecia muito divertido. Um dos policiais contou a Kimura que “as mortes dos bandidos são comemoradas com charutos e cerveja”.

Entretanto, embora a Secretaria de Segurança Pública afirme não permitir esse tipo de filmagem, ainda mais com estrangeiro, devendo punir os responsáveis, o vídeo tem um aspecto positivo: documenta e deixa evidente que o método violento é o cotidiano na PM.

O comentarista Reinaldo Azevedo, do Uol, depois de mostrar revoltado um trecho do vídeo, vai mais longe: para ele os responsáveis pela filmagem e exposição da banalização da violência da polícia paulista, num canal do YouTube destinado a visualizações nos EUA, acreditavam agradar ao chefe capitão Guilherme Derrite e ao governador Tarcísio, já conhecido por um “dane-se” e por dizer “pode ir na ONU, no raio que o parta, não tô nem aí” sobre denúncias de abuso da PM no litoral.

A Rádio Jovem Pan, que se tornou a rádio de referência para os seguidores do ex-presidente, é bem informada sobre os líderes da extrema direita, e, agora menos bolsonarista e aparentemente sem fake news, tem uma resposta para o populismo da violência próprio do secretário da Segurança (Derrite, linha dura, até se licenciou do cargo no governo Tarcísio para votar na Câmara dos Deputados contra as “saidinhas”) – quando Tarcísio deixar o cargo para se candidatar à sucessão de Lula, será Guilherme Derrite o candidato à sua sucessão.

Para o veterano da Jovem Pan, José Maria Trindade, fiel aos anos bolsonaristas, “ações como essa (mostrada no vídeo) aproximam os policiais da população e mostram como a polícia trabalha no dia a dia, e é importante fazer esse tipo de aproximação”.

Para completar o quadro da violência e truculência, o programa É da Coisa, da Band, mostrou um vídeo da polícia de Goiás, no qual numa ordem unida da polícia militar os soldados repetem comandos de morte, inclusive do assassinato da testemunha de um crime. A polícia de Goiás era chefiada pelo tenente-coronel Edson de Melo, atualmente Segurança do coach Pablo Marçal, pré-candidato à prefeitura de São Paulo.

A íntegra do vídeo de Gen Kimura com policiais da PM de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=futT5F-qx_A

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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