Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Vilarejo na Alemanha vira símbolo global da luta pelo clima

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Quarta, 11 de Janeiro de 2023 às 12:13, por: CdB

Polícia inicia evacuação de Lützerath, no oeste da Alemanha, para expandir enorme mina de carvão. Com centenas de manifestantes acampados ali desde 2020, vilarejo virou bastião da resistência contra combustíveis fósseis.

Por Redação, com DW - de Berlim

A polícia alemã iniciou nesta quarta-feira a retirada de manifestantes acampados no vilarejo de Lützerath, numa região rural no oeste da Alemanha. A localidade se tornou um ímã de ativistas do clima e símbolo da luta por um futuro menos poluente.

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Barreira policial em Lützerath nesta quarta-feira: ativistas protestam contra destruição do vilarejo para expansão de mina de carvão

A gigante de energia RWE tem a intenção de destruir Lützerath para extrair linhito localizado embaixo do vilarejo. As atividades de mineração deverão ser retomadas nos próximos meses para atender à demanda energética ligada à crise de abastecimento que atingiu a Alemanha após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Estima-se que a evacuação do vilarejo dure dias ou até semanas.

Mobilização desde 2020

No último fim de semana, à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW)  acompanhou uma passeata de milhares de manifestantes em Lützerath, que segundo a polícia reuniu 2 mil pessoas, enquanto a reportagem estimou entre 5 mil e 7 mil participantes.

Lützerath está ocupada por cerca de mil manifestantes desde 2020, quando surgiram planos para demolir o vilarejo e desenterrar o linhito debaixo dele. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, cerca de 300 cidades na Alemanha foram demolidas para a mineração de linhito, levando ao reassentamento de mais de 120 mil pessoas.

Nos últimos anos, além dos ativistas apenas um fazendeiro e alguns inquilinos ainda viviam em Lützerath. Eckart Heukamp, o fazendeiro, vendeu sua parcela à RWE e deixou a localidade há algumas semanas.

Uma visita ao vilarejo revela pouco mais do que uma estrada principal e uma dúzia de antigas casas rurais de tijolos, cobertas por pichações de protesto. Espalhadas entre as árvores altas, pequenas casas construídas à mão pelos ativistas em plataformas elevadas de madeira pairam sobre os visitantes em todas as direções. Fora de vista, a 200 metros de distância, está Garzweiler 2, a mina de carvão a céu aberto mais controversa da Europa.

A mina se assemelha a uma paisagem lunar surreal. Há décadas, escavadeiras gigantescas extraem carvão numa área de 80 quilômetros quadrados. Mais de 20 vilarejos da região foram destruídos para dar lugar à mineração.

Produção de carvão deve aumentar no curto prazo

Mas não se trata apenas de salvar a cidade, afirmam as pessoas que se opõem à demolição. Trata-se de manter o carvão no solo. Globalmente, o carvão ainda é a maior fonte de geração de eletricidade, bem como a maior fonte de dióxido de carbono. Em 2021, cerca de 30% da eletricidade da Alemanha foi gerada pela queima de carvão.

A Alemanha pretende se tornar neutra em carbono até 2045. Em 2020, o país anunciou que pararia de queimar esse vilão do clima, gradualmente desativando suas usinas movidas a carvão até 2038.

Mas as tentativas de salvar Lützerath ficaram mais complicadas depois da invasão da Ucrânia pela Rússia e a consequente crise de abastecimento de energia na Europa.

Privada do gás natural russo, a Alemanha se esforçou para garantir um fornecimento alternativo de energia. Isso incluiu voltar de mansinho à velha indústria local de carvão. Em 2022, o governo decidiu resgatar cerca de uma dúzia de usinas e estender a vida útil de várias outras que deveriam ser fechadas.

Para compensar o aumento inesperado na produção de carvão, o governo fechou um acordo com a empresa de energia RWE em outubro passado para antecipar em oito anos, ou seja, até 2030, o prazo de eliminação do carvão como fonte de energia no estado da Renânia do Norte-Vestfália, onde Lützerath está localizado.

– Temos que reativar usinas no curto prazo e precisamos de mais carvão – disse em novembro Markus Krebber, CEO da RWE. Ele respondia a uma pergunta da revista alemã Der Spiegel sobre os planos de sua empresa para esvaziar Lützerath. "Dito isso, vamos eliminá-lo (como fonte de energia) duas vezes mais rápido do que o planejado."

Com o acordo, cinco vilarejos que teriam sido destruídos para permitir a expansão de Garzweiler puderam ser preservados. Mas Lützerath não está entre eles.

Ultrapassando as metas de emissão

Os manifestantes argumentam que a eliminação antecipada não importa: queimar o carvão abaixo de Lützerath fará com que a Alemanha ultrapasse suas metas de emissões de CO2, uma premissa sustentada pelo Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW).

Num estudo publicado em 2021, o órgão destacou a necessidade de reduzir a produção de carvão se o país quiser manter os compromissos firmados no Acordo de Paris para manter a elevação da temperatura global em, no máximo, 1,5 ºC.

Além disso, críticos do acordo dizem que o carvão de Lützerath não é necessário para atender à demanda energética da Alemanha. "Nosso estudo mostra claramente que Lützerath não precisa ser destruído", explica Claudia Kemfert, diretora do departamento de energia, transportes e meio ambiente do DIW. "Há carvão suficiente nas áreas já existentes (de extração).”

No entanto, os argumentos e protestos dos manifestantes não convenceram os tribunais nem os políticos. Em dezembro de 2022, foi anunciado que os ativistas seriam retirados de Lützerath em janeiro e que a demolição do vilarejo seria iniciada.

Segundo Kemfert, deveria ter havido um diálogo mais transparente com os envolvidos no processo de decisão de não poupar o vilarejo. Ela pede que o governo alemão institua uma moratória imediata para o carvão e inicie novas negociações envolvendo "manifestantes, o comércio, a economia local e a sociedade civil".

O movimento pelo clima fez de Lützerath um símbolo da luta global contra os combustíveis fósseis.

– O mundo está olhando para cá porque também estamos lutando por eles. Usamos nossos privilégios, assumimos nossas responsabilidades aqui – diz a ativista Luisa Neubauer, do Fridays For Future, num ato no vilarejo. "Se quisermos limitar essa crise, a destruição precisa acabar."

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