Rio de Janeiro, 23 de Dezembro de 2025

Venezuela entra no centro da disputa entre potências globais

Entenda como a Venezuela se torna um ponto central na disputa entre EUA, China e Rússia por petróleo, com implicações geopolíticas significativas.

Terça, 23 de Dezembro de 2025 às 10:33, por: CdB

Petróleo venezuelano está no centro do jogo de interesses entre Pequim e Estados Unidos. Rússia também persegue objetivos políticos na região.

Por Redação, com DW – de Caracas

A atuação da Armada norte-americana no Caribe possivelmente deixará a Venezuela cada vez mais desconfortável. Agora, os navios de guerra dos Estados Unidos não estão mirando apenas supostas embarcações que transportam drogas , mas, desde dezembro de 2025, também petroleiros .

Venezuela entra no centro da disputa entre potências globais | Marinha dos EUA tem apreendido petroleiros provenientes de Venezuela
Marinha dos EUA tem apreendido petroleiros provenientes de Venezuela

Embora o papel da Venezuela no tráfico de drogas seja questionado por diferentes especialistas, há consenso sobre a importância central para o país sul-americano das exportações de petróleo. A Venezuela, em situação econômica precária, tem as maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo. Ao todo, ali repousam mais de 300 bilhões de barris.

Em todas as considerações estratégicas do presidente americano, Donald Trump, favorável ao petróleo, essas riquezas devem desempenhar um papel importante. Elas são também o lubrificante das relações exteriores do chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro . No entanto, a tensão em torno da Venezuela não pode ser explicada apenas pelo petróleo – há muitos outros interesses envolvidos. Além dos EUA , outras duas grandes potências, China e Rússia , também perseguem seus próprios objetivos na região.

O petróleo venezuelano representou recentemente apenas cerca de 4% das importações chinesas de petróleo, mas a tendência é de crescimento. À agência inglesa de notícias Reuters citou dois analistas de mercado que estimam que, em dezembro, sejam esperados novos recordes diários. Segundo essas estimativas, a China deve importar mais de 600 mil barris por dia da Venezuela, ou seja, a maior parte da produção diária venezuelana.

Como fonte de petróleo, a Venezuela é importante para a China principalmente para fortalecer sua independência energética no cenário global de disputa por recursos. Por exemplo: o Ocidente sancionou o tipo de petróleo venezuelano Merey, o que dá a China acesso privilegiado a essa matéria-prima.

Em contrapartida, muito dinheiro chinês flui para a Venezuela, inclusive na forma de empréstimos. Estimativas diversas indicam que Caracas deve entre US$ 60 e US$ 70 bilhões a Pequim.

Manter os EUA no próprio quintal

A Venezuela também é um mercado para tecnologia chinesa: muitos equipamentos militares vêm da China, e a infraestrutura de telecomunicações é amplamente baseada em componentes chineses. Em setembro, Maduro apresentou em uma coletiva de imprensa em Caracas um novo celular da marca Huawei. O “melhor telefone do mundo” teria sido um presente pessoal dado pelo presidente chinês, Xi Jinping — e os serviços secretos americanos não poderiam hackeá-lo.

O socialismo autoritário-nacionalista da Venezuela é compatível com a ideologia estatal chinesa. Ao condenar verbalmente ações como a recente apreensão de petroleiros, Pequim pode se apresentar como aliado. Tudo isso também serve ao propósito chinês de manter os EUA ocupados em seu próprio quintal.

Há mais de uma década, diferentes presidentes dos EUA têm dado mais atenção ao Indo-Pacífico — onde Pequim busca uma posição dominante e tem se mostrado cada vez mais agressiva em suas reivindicações sobre Taiwan . Por isso, é vantajoso para a China quando os EUA precisam se concentrar mais na situação da Venezuela ou de Cuba.

Quais interesses a Rússia persegue na Venezuela

Moscou provavelmente tem interesse em exercer influência por meio de aliados na América Latina e, assim, desafiar a supremacia dos Estados Unidos na região. Em 2001, o presidente russo, Vladimir Putin , recebeu pela primeira vez o então presidente venezuelano, Hugo Chávez. A partir daí, a Rússia tornou-se o maior fornecedor de armas para a Venezuela.

Quando seu poder foi diretamente ameaçado em 2019 e o então presidente do Parlamento, Juan Guaidó, se autodeclarou presidente interino, ele recebeu apoio dos EUA em questão de minutos. Trump viu nisso uma oportunidade para derrubar Maduro. Mas, em seguida, a Rússia enviou dois aviões militares com soldados e equipamentos a bordo.

– Moscou, de certa forma, salvou Maduro – disse recentemente Vladimir Rouvinski, cientista político da Universidade Icesi, na Colômbia. “Pela primeira vez desde a crise dos mísseis em Cuba, os EUA se viram obrigados a negociar diretamente com a Rússia sobre uma situação na América Latina.”

No atual confronto, porém, Rouvinski não espera uma ajuda russa tão decidida a Maduro. Até agora, Moscou limitou-se a oferecer apoio verbal.

O que está em jogo para os EUA

Em meados de dezembro, Trump exigiu em uma postagem no Truth Social que a Venezuela devolvesse todo o “petróleo, terras e outros bens que nos roubaram anteriormente”. Isso pode se referir às expropriações ocorridas durante a nacionalização da indústria petrolífera venezuelana em 2007, pelas quais nem todas as empresas americanas foram indenizadas. Apenas a Chevron continua ativa no país por meio de um acordo especial.

No entanto, a exploração de petróleo no país vizinho, Guiana, é muito mais lucrativa para as empresas dos EUA. A região fronteiriça de Essequibo, rica em petróleo, também é reivindicada pela Venezuela. Assim, para os interesses petrolíferos dos EUA, haveria dois argumentos a favor de uma saída forçada de Maduro.

Durante seu primeiro mandato, Trump ampliou significativamente as sanções impostas por seu antecessor Barack Obama e já havia buscado um confronto com Maduro. Seu então conselheiro de segurança, John Bolton, classificou a Venezuela, juntamente com Cuba e Nicarágua, como o “triângulo do terror”. Bolton foi demitido por Trump quando o apoio a Juan Guaidó não trouxe resultados. No entanto, Trump persegue agora o objetivo de uma mudança de poder na Venezuela com mais determinação do que nunca.

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