Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Vazamento de substâncias tóxicas em São Luís afeta comunidades

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Sábado, 02 de Março de 2024 às 11:23, por: CdB

Nas imediações desse complexo, que pertence ao grupo Alcoa, uma das maiores produtoras de alumina do mundo, estão 12 comunidades tradicionais. Elas integram a área proposta para a Reserva Extrativista Tauá-Mirim.

Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília

O complexo industrial Consórcio Alumar, instalado em São Luís (MA), inclui um porto instalado na Baia de São Marcos, uma refinaria para a transformação de bauxita em alumina, um ponto de redução para a transformação dessa matéria-prima em alumínio e um parque ambiental, localizado a 25 quilômetros do centro de São Luís. Ele também é alvo de denúncias que envolvem desde omissão de poluentes até vazamentos de substâncias tóxicas.

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Complexo industrial está instalado em meio a comunidades da reserva Resex Tauá-Mirim

Nas imediações desse complexo, que pertence ao grupo Alcoa, uma das maiores produtoras de alumina do mundo, estão 12 comunidades tradicionais. Elas integram a área proposta para a Reserva Extrativista Tauá-Mirim. Há pelo menos mais 19 comunidades das proximidades. Todas sofrem impactos da indústria.

Alberto Cantanhede, pescador e liderança comunitária, é conhecido como Beto do Taim em referência a uma das comunidades atingidas pelos lagos de rejeitos do Consórcio Alumar. Ele relembra a luta de mais de 20 anos de trabalhadores da Resex em defesa da preservação e dignidade na região.

– Um conjunto de comunidades que ali subsistiam de agricultura e pesca, historicamente, foram retiradas. O que sobrou de ambiente foi aos poucos expropriado para dar lugar a uma navegação de grande calado, que retira as possibilidades da pesca artesanal por várias razões, como a competição das embarcações, a poluição sonora e outras sujeiras – explica.

As famílias do entorno tiram sustento da pesca artesanal e também da agricultura e criação de pequenos animais.

Segundo Cantanhede, desde a implantação do complexo industrial, as comunidades já sofreram um grande impacto socioeconômico, que se estende até hoje, por causa da possível contaminação do solo, do ar e das águas.

– A agricultura, que era outra fonte de subsistência das populações tradicionais naqueles territórios foi, de uma vez só, ocupada em uma dimensão enorme, próximo de 10 mil hectares, para dar lugar à fábrica e aos lagos de rejeitos.

Vazamentos

Cantanhede compõe o Movimento de Defesa da Ilha, associação de organizações populares de São Luís que na última semana publicou uma série de vídeos nas redes sociais com denúncias do vazamento. Nas imagens, o maquinário antigo da refinaria vaza substâncias. Segundo o grupo, a situação acontece de maneira intermitente desde dezembro do ano passado.

O pó branco de alumina já cobre as dependências da empresa e causa preocupação às comunidades que vivem no entorno.

– Sabe-se de descartes de rejeitos tanto de esgoto sanitário da fábrica dentro do rio, quanto informações de que a própria estrutura da fábrica, pelo tempo de uso, começa a ter vazamentos de produtos que não conhecemos, que não sabemos quais as consequências. Isso nos preocupa – diz Cantanhede.

Apesar de uma Unidade de Conservação no local ainda estar em processo de implantação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já atestou a viabilidade e a importância da sua criação. O parecer reforça a luta dos moradores frente aos impactos dos grandes empreendimentos.

– Pretendemos continuar nesse entorno porque também pleiteamos a estabilidade do que resta dos territórios, em forma da unidade de conservação Resex Tauá-Mirim. Isso para nós é inegociável, nós precisamos. O município já cedeu tudo o que pôde ceder em forma de território para grandes empreendimentos. A população também reivindica o direito de permanecer onde está historicamente, na Ilha de Upaon-Açu – reforça Cantanhede.

O Movimento em Defesa da Ilha acusa ainda os governos de minimizar os dados da poluição provocada pelos distritos industriais. Também apontam que o índice de poluição do ar de São Luís já é muito superior aos da cidade de São Paulo, conforme explica o também membro do movimento e professor da Universidade Federal do Maranhã (UFMA), Guilherme Zagallo:

– Nós vivemos um verdadeiro estado de calamidade do ponto de vista ambiental. Entramos 589 vezes em emergência em 2022, que é o pior do pior que existe na legislação ambiental (...) Não faz sentido o município estar discutindo a ampliação do distrito industrial e dos usos permitidos para a instalação de indústrias.

Zagallo explica ainda que estudos científicos produzidos pelas universidades públicas do Maranhão mostram contaminação das águas na região e de animais da fauna aquática da Baia de São Marcos, como de peixes, caranguejos, siris, ostras e sarnambis. "Isso tem impacto potencial de contaminar toda a população da ilha de São Luís e dos municípios do entorno da Baía de São Marcos."

Dois pedidos do movimento ao Ministério Público, nas esferas estadual e federal, pedem ajuda para que haja agilidade nos planos de fiscalização e contenção da poluição.

– É urgente que o poder público intensifique as ações de fiscalização, falo aí Sema (Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em relação a essas atividades industriais – cobra Zagallo.

– Que elaborem planos para controle das emissões. Precisamos voltar a níveis de normalidade, dentro daquilo que é permitido pela legislação, e de um plano de enfrentamento desse problema de contaminação de metais pesados. Pois mesmo que cessasse hoje, ainda teríamos que conviver por muito tempo com este impacto causado pela atividade industrial.

A reportagem tentou contato com o Consórcio Alumar, mas não recebeu retorno. Em nota, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema) informa que realizou vistoria na empresa no dia 17 de fevereiro e emitiu um auto de notificação solicitando informações das causas do problema, solução imediata e laudos ambientais preliminares.

O Ministério Público do Estado do Maranhão (MP-MA) realizou uma audiência na última segunda, dia 26 de fevereiro, onde foi comprovada a grave situação de saúde em São Luís por causa da poluição do ar.

Segundo os dados apresentados pelo Movimento de Defesa da Ilha, as mortes por câncer e doenças respiratórias na capital cresceram 162% entre 1996 e 2022. A nível nacional, no mesmo período, o crescimento foi de 136% e 99%, respectivamente.

Na audiência pública com o MP-MA, a Sema deveria apresentar dados do monitoramento da poluição de São Luís, relatórios anuais de monitoramento da qualidade do ar, do plano de controle das emissões atmosféricas e do plano para episódios críticos de poluição do ar. Todos são obrigatórios segundo a Resolução Conama 491/2018. Os dados não foram mostrados. O órgão concedeu o prazo de 10 dias para apresentação.

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