A fala de Nicolás Maduro ocorreu em meio a uma escalada retórica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é o mais recente desdobramento de uma série de declarações desde que o mandatário venezuelano alertou, também em um comício, que o país enfrentava o risco de um “banho de sangue”.
Por Redação – de Brasília
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rebateu as declarações do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em nota pública divulgada nesta quarta-feira. O dirigente venezuelano disse que, no Brasil, “não auditam nenhum registro” do sistema eleitoral. Em resposta, a Corte eleitoral brasileira assegurou que o boletim emitido pelas urnas eletrônicas no Brasil é um “relatório totalmente auditável”.
Questionada sobre as declarações de Maduro, o TSE enviou cinco textos previamente publicados pelo Tribunal, em que explica o funcionamento do sistema eleitoral brasileiro. Em um dos textos, o TSE explica que o Boletim de Urna (BU) é um “relatório detalhado com todos os votos digitados no aparelho”, sendo disponibilizado na porta de cada seção eleitoral.
É possível, portanto, comparar os dados de cada seção com as informações divulgadas online. Outro texto destaca que a “auditoria e fiscalização dos sistemas eleitorais ocorrem antes, durante e após a eleição”, através de processos como a análise do código-fonte e a lacração das urnas.
Auditoria
A declaração de Maduro foi feita durante um comício entre a noite de terça-feira e a madrugada de quarta.
— São três da manhã, mas antes temos que esclarecer à extrema direita que respeitem o processo eleitoral, que nós vamos ganhar outra vez e que na Venezuela vai haver democracia, liberdade e paz. Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias. Eles fazem uma auditoria, como vocês sabem, em 54% das mesas. Em que outra parte do mundo se faz isso? Nos EUA? É inauditável o sistema eleitoral. No Brasil? Não auditam nenhum registro. Na Colômbia, não auditam nenhuma ata. Na Venezuela, auditamos no momento, na mesa — disse Maduro.
Barbados
A fala de Maduro ocorreu em meio a uma escalada retórica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é o mais recente desdobramento de uma série de declarações desde que o mandatário venezuelano alertou, também em um comício, que o país enfrentava o risco de um “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso não fosse reeleito.
Inicialmente, o governo brasileiro minimizou a declaração, e disse apoiar o distanciamento do processo eleitoral venezuelano. No entanto, um dia após a fala de Maduro repercutir no Brasil, interlocutores do Itamaraty afirmaram que o país somente atuaria na questão se fosse chamado por representantes de Maduro e da oposição, “dentro do espírito de Barbados”, referindo-se a um acordo assinado entre oposição e governo venezuelano em outubro do ano passado no país caribenho.
Contencioso
Em sua primeira menção ao presidente venezuelano após a declaração sobre o “banho de sangue”, Lula foi evasivo e afirmou que os venezuelanos “que elejam os presidentes que quiserem”, destacando que o Brasil não possui contenciosos pelo mundo e que “o Brasil tem que gostar de todo mundo”. Lula retomou o tema nesta semana em uma coletiva de imprensa com agências internacionais.
— Fiquei assustado com as declarações de Maduro de que se perder as eleições haverá um banho de sangue. Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue — disse o presidente brasileiro durante a entrevista coletiva em Brasília.
A resposta de Maduro veio em seguida. Mesmo sem mencionar diretamente o colega brasileiro, na véspera, o líder venezuelano sugeriu que “quem se assustou” com sua fala tomasse “um chá de camomila”.