Amilton Gomes teria negociado, em nome do governo federal, a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca com a empresa Davati Medical Supply. O depoimento do reverendo estava previsto inicialmente para o dia 14 de julho, no entanto, ele apresentou um atestado médico solicitando o adiamento da oitiva.
Por Redação - de Brasília
O suposto reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador de uma entidade privada chamada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), disse nesta terça-feira, em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado que acredita que foi "usado de maneira ardilosa”. Ele chegou a parecer que chorava ao pedir desculpas aos senadores, por um motivo que se negou a informar durante o depoimento.
Amilton Gomes teria negociado, em nome do governo federal, a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca com a empresa Davati Medical Supply. O depoimento do reverendo estava previsto inicialmente para o dia 14 de julho, no entanto, ele apresentou um atestado médico solicitando o adiamento da oitiva que foi remarcada para esta terça-feira.
— Hoje, com a série de eventos divulgados, entendemos que fomos usados de maneira ardilosa para fins espúrios e que desconhecemos. Vimos um trabalho de mais de 22 anos de uma ONG, entidade séria, voltada para ações humanitárias, educacionais, jogado na lama, trazendo prejuízo na sua credibilidade e atingindo seus integrantes nas relações profissionais e familiares — disse o depoente.
Interesses
Uma decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), permite ao reverendo não responder perguntas que podem o incriminar, mas terá de dizer a verdade sobre fatos dos quais foi testemunha.
O suspeito passou aos senadores, no entanto, a impressão que agiu todo o tempo sob a proteção de figuras conhecidas do alto escalão do governo. O presidente da CPI, senador Omaz Aziz (PSD-AM) acredita que o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) tem total conhecimento dos fatos.
— O que a CPI apurou, desde aquele depoimento do Fabio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação do governo), é que o governo nunca teve o interesse de comprar vacinas de empresas com compliance (observância de práticas) sérias — afirmou Aziz (PSD-AM).
Segundo o senador, há interesses escusos nas transações praticadas no âmbito do Ministério da Saúde.
— Quando eles viram oportunidade de ter algum lucro pessoal, aí tiveram todo interesse, uma rapidez enorme — acrescentou o parlamentar.
Crime cometido
Segundo Aziz, a negociação com a Precisa e a ausência de respostas à Pfizer atestam opção por atos “não republicanos”.
— E, com isso, nós deixamos de comprar vacinas em quantidade muito grande; não participamos do consórcio (Covax Facility) feito pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que daria oportunidade para vacinar 50% do povo. A gente conseguiu descobrir tudo isso. É uma pena, porque quem sofreu foram os brasileiros que perderam pessoas queridas — suspeita Aziz.
O senador afirmou, ainda, que Bolsonaro sabe que cometeu crime.
— Juridicamente, ele (presidente) sabe que teve, sim, crime. Só não foi possível o pagamento porque um servidor (Luis Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde) comunicou ao presidente o que estava se passando a respeito da Covaxin — concluiu.