Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

STF: Messias pode rachar os evangélicos

A aposentadoria do ministro Barroso abre caminho para Lula conquistar parte do eleitorado evangélico, enquanto Jorge Messias gera divisões entre líderes religiosos.

Quinta, 16 de Outubro de 2025 às 17:03, por: Rui Martins

A aposentadoria antecipada do ministro Barroso do STF criou a inesperada e rara oportunidade para Lula conquistar parte do eleitorado evangélico e, ao mesmo tempo, dispor da maneira como neutralizar o atual ministro André Mendonça, que deixará de ser a única “voz de Deus” dentro do STF, representativa de 30% da população.

Por Rui Martins, editor do Direto da Redação
STF: Messias pode rachar os evangélicos | Messias poderá trazer parte dos evangélicos para Lula
Messias poderá trazer parte dos evangélicos para Lula

Mendonça não terá mais a exclusividade de representar o ungido de Deus, o Messias Bolsonaro, segundo a doutrina evangélica da Teologia do Domínio, cujo objetivo é o de submeter a vida pública ao controle religioso, numa versão atualizada ao nosso tempo de uma teocracia.

Na hipótese de Jorge Messias ser escolhido por Lula e aprovado pelo Senado, não haverá, para comemorar, a presença da Michelle saltitante falando língua estranha à maneira dos pentecostais. Embora o Messias Jorge seja chamado de evangélico, sua denominação batista, vinda do ramo europeu protestante da Reforma, é mais comportada, mesmo sendo também missionários norte-americanos que a trouxeram ao Brasil.

Embora o Messias Bolsonaro tenha sido eleito e seja ainda apoiado pelos neopentecostais evangélicos, seu representante no Supremo Tribunal Federal, o advogado e pastor André Mendonça também pertence a uma denominação protestante vinda da Reforma calvinista, ele é presbiteriano. Entretanto, os presbiterianos foram os primeiros a apoiar o golpe militar de 1964, quando o pastor Boanerges Ribeiro ocupava o posto de presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil.

A provável escolha de Jorge Messias para ocupar o lugar do ministro Barroso no STF, ao contrário do imaginável, não provocou entusiasmo na chamada Bancada Evangélica, liderada pelo pastor fundamentalista evangélico da Assembléia de Deus, Sóstenes Cavalcante, segundo apurou a CBN.

O jornal Valor Econômico deu um título bem elucidativo ao tratar da possibilidade Jorge Messias para o STF: republicanamente evangélico e terrivelmente democrático, numa alusão ao terrivelmente evangélico André Mendonça, para o qual não houve tentativa de golpe no 8 de janeiro.

A senadora Damares Alves, que frequenta em Brasília a mesma igreja onde Jorge Messias é diácono, não vê com bons olhos a indicação de Messias para o STF, por ser esquerdista, embora Messias seja considerado um cristão conservador pelos que o conhecem, como o pastor Sérgio Carazza, da Igreja Batista Cristã em Brasília.

Até que ponto, Jorge Messias é um batista conservador? Bastante revelador de sua abertura de espírito foi sua intervenção, como advogado da união, AGU,junto a um hospital recomendando a realização do aborto em uma mulher engravidada depois de ser vítima de um estupro.

Lula escolherá Jorge Messias? Provavelmente, e assim criará condições para se acabar com a oposição de uma parte da população evangélica ao Supremo Tribunal Federal. (versão sonora no Youtube

Algumas referências:
CNN

Messias divide evangélicos

Messias no STF divide líderes evangélicos entre empolgação, mal menor e rechaço

Pastor Sóstenes Cavalcante
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3stenes_Cavalcante

Pastores perseguidos pela Ditadura militar
https://www.bbc.com/portuguese/articles/czdzj9x2888o

Igreja Presbiteriana e repressão
https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/121a83bc-b7ad-432e-96b9-c9b036d9335b/content

André Mendonça

Aborto legal e AGU

CFM desvirtua seu trabalho para impedir aborto legal em casos de estupro, diz AGU ao STF

Rui Martins é Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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