A petroleira justificou o aumento, na sexta-feira, com base em sua política de preços, que acompanha a flutuação do mercado internacional. Algumas horas após o anúncio do reajuste, Bolsonaro reagiu com irritação e chegou a propor Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras, seus diretores e conselheiros.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Agora ex-presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho pediu demissão do cargo, segunda-feira, em meio à crescente pressão do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, contra a política de preços dos combustíveis praticada pela estatal. Na sexta-feira, a Petrobras anunciou um reajuste de 14,26% no preço do diesel e de 5,18% no preço da gasolina vendidos para as distribuidoras, que entrou em vigor no dia seguinte.
A petroleira justificou o aumento com base em sua política de preços, que acompanha a flutuação do mercado internacional. Algumas horas após o anúncio do reajuste, Bolsonaro reagiu com irritação e chegou a propor Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras, seus diretores e conselheiros. Lira o apoiou, prontamente, e garantiu a participação da base aliada.
Logo após a renúncia de Coelho, o presidente do Conselho de Administração da estatal nomeou como presidente interino da companhia o diretor executivo de exploração e produção, Fernando Borges, até a eleição e posse do novo presidente, como prevê o estatuto da empresa.
Congelados
— Conversei ontem com o líder da Câmara (deputado Ricardo Barros) para a gente abrir uma CPI nesta segunda-feira. Vamos para dentro da Petrobras. É inadmissível, com uma crise mundial, a Petrobras se gabar dos lucros que tem — afirmou Bolsonaro, no sábado.
Na sexta-feira, após a reação do governo, a Petrobras perdeu R$ 27,3 bilhões em valor de mercado. No dia seguinte, Bolsonaro afirmou que o valor da empresa iria "perder outros 30 (bilhões)” nesta segunda feira, com a abertura da CPI. As negociações com os papéis da companhia foram suspensas, nas bolsas de valores de todo o mundo, nesta manhã.
Alinhado ao presidente, Lira defendeu na sexta-feira a renúncia de Coelho e o acusou de trabalhar "sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país".
Insegurança
Há cerca de um mês, em 23 de maio, o Ministério de Minas e Energia já havia divulgado uma nota informando que o governo federal havia decidido demitir Mauro Coelho, apenas 40 dias após ele ter sido nomeado para o cargo, mas a mudança ainda não havia sido efetivada pelo Conselho de Administração da estatal.
Agora, com a renúncia de Coelho, o Conselho de Administração da estatal irá examinar a nomeação de um presidente interino.
Em maio, o governo indicou para comandar a Petrobras Caio Mário Paes de Andrade, atual secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, cujo nome ainda não foi avaliado pelo Conselho de Administração.
Coelho foi o terceiro presidente da estatal durante o governo Bolsonaro, e sucedeu Roberto Castelo Branco e o general da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna, que também caíram após pressões contra a política de preços da empresa.
Em debate
A Petrobras usa o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir o valor que cobrará dos distribuidores. Ele considera o preço dos combustíveis praticado no mercado internacional, os custos logísticos de trazê-los ao Brasil e uma margem para remunerar os riscos da operação. Como o preço no mercado internacional é em dólar, a cotação da moeda também influencia o cálculo.
Essa fórmula foi adotada no governo Michel Temer. Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a definição do preço considerava a variação do petróleo no mercado internacional, mas também os custos de produção de petróleo no Brasil. Dessa forma, a estatal segurava impactos de oscilações dos preços no mercado internacional para o consumidor interno.
Inflação
Dependendo da diferença dos preços, porém, em alguns momentos essa política fazia a Petrobras lucrar menos do que poderia ou ter prejuízo por vender, no mercado interno, combustíveis por um valor abaixo do que ela havia pagado para importar, o que era desvantajoso para os acionistas.
Apesar da pressão constante contra a estatal, Bolsonaro não usou até o momento o poder do governo, como acionista majoritário da empresa, para efetivamente alterar a política de preços.
O tema é um dos principais da pré-campanha eleitoral ao Palácio do Planalto neste ano, devido ao impacto que tem no bolso dos eleitores e na inflação. Lula, pré-candidato do PT à Presidência, vem prometendo "abrasileirar" o preço dos combustíveis se for eleito.