"Houve escassez de insumos e recentemente tivemos agravamento desse cenário por pressão da crise hídrica, que vem aumentando os custos e deixa o segmento mais pessimista. Além disso, temos um cenário de alto desemprego e inflação, que afeta a capacidade de consumo das famílias", afirmou a economista da FGV-Ibre.
Por Redação - de São Paulo
Dois relatórios divulgados nesta quinta-feira apontam para a crise hídrica como principal obstáculo para a retomada do crescimento industrial, fortemente atingido nos últimos meses. O setor tem sido assombrado, ainda, pela escassez de insumos e dificuldades logísticas.
— A crise hídrica e o alto nível de desemprego e a inflação vêm pesando para a recuperação do setor — afirmou a economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Claudia Perdigão.
Segundo a técnica, a recuperação da indústria “não veio livre de gargalos”.
— Houve escassez de insumos e recentemente tivemos agravamento desse cenário por pressão da crise hídrica, que vem aumentando os custos e deixa o segmento mais pessimista. Além disso, temos um cenário de alto desemprego e inflação, que afeta a capacidade de consumo das famílias. Esses fatores acabam determinando a recuperação da indústria e da economia como um todo nos próximos meses — acrescentou.
Ambiente político
Perdigão afirmou, ainda, que o risco de racionamento e o ambiente político conturbado devem pesar na recuperação do setor nos próximos meses.
— A crise hídrica somente será solucionada com entrada do período de chuvas e recomposição dos reservatórios, o que não acontecerá de imediato. O primeiro ponto é o aumento do custo, que leva as empresas a repensar a política de preços e como repassar o custo para o consumidor final. Além disso, havendo de fato racionamento ou possibilidade de apagão, uma paralisação ou redução forçada da produção pode levar a perdas e dificultar para empresas que ainda não conseguiram se recuperar do cenário de pandemia — pontuou.
Ela argumenta que o ambiente político de instabilidade também afeta a expectativa do setor, que tende a ficar mais apreensivo, pessimista e cauteloso.
— Isso acaba repercutindo em projetos de investimento e contratação — ressaltou.
Cenário hídrico
Em outro relatório, dessa vez produzido pela empresa financeira XP Investimentos, a piora na crise hídrica alerta para o cenário hídrico brasileiro. Os economistas Victor Burke e Maíra Maldonado, que assinam o relatório, afirmam que um 'apagão é possível' com os níveis dos reservatórios caindo abaixo do esperado.
Segundo avaliam, a situação hídrica é pior do que a prevista com a quantidade de água que chega as hidrelétricas, em unidade de energia, ficar 27% abaixo do que a estimativa da XP; além da geração hídrica e térmica ficar 8% menor do que o previsto.
"Atualizamos nossas estimativas e vemos a probabilidade de racionamento nospróximos 12 meses aumentar para 17,2% de 5,5% no relatório anterior. A crescente probabilidade de um cenário crítico fez com que o governo adotasse medidas preventivas para evitar o racionamento de energia", disseram no texto.
Vulnerável
Victor e Maíra também alertam que a geração hídrica mais baixa no Sudeste exige trazer mais energia das regiões Norte e Nordeste, o que coloca mais pressão no sistema de transmissão e exige uma operação com menos backups para atender a demanda de energia.
"Isso significa que o sistema ficará mais vulnerável a distúrbios como queimadas, tempestades e falhas humanas", explicaram.
Sobre as medidas anunciadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME), como contratação de usinas ociosas, importação de energia de países vizinhos, entre outros, os analistas dizem que, caso haja efetividade e se economize até 2,5GWmed, a probabilidade de racionamento cai para 11%.
Para os próximos 12 meses, a previsão é de não haver a necessidade de umracionamento de energia, mas a previsão do nível consolidado dos reservatórios ficou menor e a utilização de capacidade maior.